Arquivos da categoria: Polêmica

20
abr

Notícias de Nova Iorque – Parte 4

Era uma sala pequena e Jan Paul Paladino, o co-piloto do Legacy que colidiu com o Boeing da Gol, estava depondo havia quase duas horas. Ao lado dele, o advogado brasileiro e o advogado norte-americano. Em frente, os dois jornalistas norte-americanos. A repórter da Globonews guardou para mim uma cadeira que dava de frente para Paladino. Passei o interrogatório todo o encarando. Afinal, eu estava ali representando os familiares e amigos das vítimas.

Paladino é o homem mais frio que já vi. Nos intervalos da audiência, ele me encarava de volta. Não pareceu sofrer em nenhum momento do depoimento. Tinha tudo decorado. Todas as mentiras, todas as desculpas. E em nenhum momento demonstrou culpa pelo acidente que ajudou a causar. Um monstro. Assustador.

Na saída do interrogatório, confrontamos pacificamente Paladino com faixas que diziam “Por que você está feliz?”, com uma foto dele e de Lepore sorrindo. Ele nem assim esboçou uma reação.

Confesso que me senti muito mal com a presença de Paladino. Tive vontade de chorar, não consegui comer naquele dia e nem dormir. Mas o que me impressionou muito foi a solidariedade da imprensa brasileira. Torciam silenciosos por um tropeço no discurso decorado de Paladino, não reclamavam das horas a fio sem comer, os que estavam lá fora esperando por uma imagem do piloto aguentaram firmes o frio abaixo de zero. Era como se houvesse uma corrente de apoio de todos os brasileiros presentes, um sentimento até citado no dia seguinte na matéria do The New York Times, quando o jornalista relata que parecia que o Brasil estava mobilizado por esta causa. Ali em Long Island, em frente à Corte Federal, estava mesmo.

Karin Villatore

18
abr

Notícias de Nova Iorque – Parte 3

O interrogatório aconteceu na Corte Federal de Long Island, que ficava a 45 minutos de carro do hotel. Chegamos, eu e o publicitário responsável pela vigília em frente à corte, às 9h30 da manhã. A audiência começaria às 11h, no horário local. Entrei do tribunal para ver em que sala o interrogatório iria acontecer. Inspeção digna do aeroporto, com direito a detector de metal, proibição de entrada de qualquer aparelho eletrônico (inclusive celular) e um ritual de tira-e-põe-casaco-e-bolsa que chegou a ser cômico depois da minha trigésima saída da corte naqueles dois dias de interrogatório.

De novo, um dos seguranças da entrada era parente de brasileiro. Desta vez, um senhor de uns 70 anos filho da Dona Maria das Graças, que aprendeu com a mãe a falar “cerveja” e “até logo”.
Na sala de entrada da audiência, um local chamado Escritório dos Advogados dos Estados Unidos, fui barrada. O recepcionista, que atendia detrás de um vidro à prova de balas e com péssima acústica devido à grossura do vidro, disse que eu só poderia entrar se fosse convidada pelo juiz ou pelo advogado dos réus. Desci e fui falar com os jornalistas brasileiros que começavam a chegar para fazer a cobertura da audiência. Subimos todos juntos e fomos novamente barrados. Lá descobrimos que dois jornalistas norte-americanos estavam acompanhando a audiência. A desculpa que nos deram era que não havia cadeira suficiente para nós.

Apelei: “Se vocês não nos deixarem entrar, a imprensa brasileira vai dizer que vocês só permitiram a entrada de jornalistas dos Estados Unidos e que proibiram a cobertura da imprensa brasileira. E o nome de vocês será citado nas matérias que serão publicadas no Brasil.” Meia hora depois, nossa entrada foi liberada.

Karin Villatore

14
abr

Notícias de Nova Iorque – Parte 2

Cheguei em Nova Iorque na segunda-feira de manhã. Neurose de sempre na chegada. Tive que deixar meu isqueiro na alfândega (proibido levar produto inflamável, disse a moça da segurança) e assistir a um grupo de paquistaneses ser deportado. A porta do aeroporto se abriu para um vento cortante e a descoberta de que a distância entre a cidade de Nova Iorque e Long Island era bem maior do que eu imaginava.

Quase duas horas depois, cheguei ao hotel. Fiz um rápido check-in e voltei a Nova Iorque para visitar redações. Antes, comprei um celular local.
No pomposo prédio do The New York Times tive a sorte de ser recepcionada por um porteiro casado com uma gaúcha. Tudo bom com você?, ele me perguntou. Conspiração do bem, conheço pessoas surpreendentemente amáveis, inclusive a única jornalista brasileira que trabalha naquele jornal, uma baiana/carioca com quem conversei por algum tempo.

Os jornalistas do The New York Times trabalham em baias e a redação, enorme, tem aquários para reuniões. De lá fui à TV Globo, que tem uma redação maior do que eu imaginava e uma diretora extremamente simpática. No final do dia, os US$ 100,00 de crédito que tinha colocado em meu celular pré-pago terminaram. Precisava economizar nas conversas com a equipe no Brasil. Dormi mal e estava ansiosa.

Na terça-feira comprei bastante crédito para o celular, passei o dia fazendo contatos por telefone e email. Confirmei mais algumas presenças de correspondentes brasileiros na cobertura do interrogatório. A Internet do hotel era péssima, o que aumentava a angústia. Dormi mal de novo. Na quarta-feira aconteceria o primeiro interrogatório.

Karin Villatore

12
abr

Notícias de Nova Iorque – Parte 1

Quando eu trabalhava na Volvo Car eram comuns as viagens ao exterior para acompanhar grupos de jornalistas que testavam carros, reuniões mundiais com as Assessorias de Imprensa da empresa, encontros de aproximação com a imprensa dos outros países do Mercosul e visitas às feiras de automóveis da Europa. Tudo absurdamente bem organizado, como é típico dos suecos. 
Fazia alguns anos que eu não viajava para fora do Brasil a trabalho. No final de março quebrei o jejum de um jeito bem intenso.
Desde janeiro atendemos a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907. Para quem não lembra, foi aquela tragédia da Gol que aconteceu em 2006 e que foi causada pela imperícia de dois norte-americanos que pilotavam um jato Legacy. O nome deles: Jan Paul Paladino e Joseph Lepore. Todas as 154 pessoas que estavam no Boeing da Gol morreram. O que aconteceu com Paladino e Lepore? Nada! Aliás, eles voltaram irregularmente para os Estados Unidos, nunca foram presos e são pilotos até hoje, um na American Airlines e outro ainda trabalhando com o Legacy.
Até o dia 25 de março, uma sexta-feira, o primeiro interrogatório com Paladino e Lepore estava agendado para acontecer na Embaixada Brasileira em Washington, capital dos Estados Unidos, nos dias 30 (quarta-feira) e 31 (quinta-feira) de março. Sim, desde 2006 eles nunca tinham sido interrogados. Até então, estava previsto que eu iria acompanhar a audiência de Brasília, por meio de uma videoconferência, e teríamos uma equipe fazendo uma vigília em Washington. No final da tarde daquela sexta-feira veio a notícia: o interrogatório tinha sido transferido para Nova Iorque, mais precisamente para Long Island, cidade na qual vivem Paladino e Lepore. Ou seja, a audiência aconteceria no “quintal” dos pilotos. Mudei rapidamente minhas passagens. Domingo embarquei para Nova Iorque.

Karin Villatore

25
mar

Entrega Carta Aberta agradecendo e pedindo apoio à Presidenta Dilma Rousseff

Neste mês, por meio de um trabalho realizado para a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907, nossa equipe entregou, por meio da Senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), uma Carta Aberta à Presidenta Dilma Rousseff agradecendo o apoio que a entidade recebeu até agora e pedindo que ela continue na luta pela punição dos pilotos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino. O caso ocorreu em 2006, quando o jato Legacy chocou-se com o Boieng da Gol, fazendo 154 vítimas.

Os familiares pedem uma punição efetiva por parte da justiça, tanto na sentença, pedindo a pena máxima para os pilotos, como suas demissões e também cassando suas licenças para pilotar, pois ambos continuam trabalhando nos Estados Unidos na American Airlines e ExcelAire.  Além dos pedidos, a Carta deixa a governante do país informada sobre o andamento do processo, fala do Acordo de Cooperação Jurídica entre o Brasil e os Estados Unidos, cita os documentos que comprovam a culpa dos pilotos do jato Legacy e manifesta abertamente a indignação dos familiares e amigos das vítimas do acidente com a falta de punição dos pilotos até agora.

No link http://www.associacaovoo1907.com/?l=not&id=119 veja a íntegra da carta aberta entregue à Presidenta Dilma Rousseff.

Karin Villatore

9
mar

O que está acontecendo com o mundo?

Esta semana estava vendo o jornal Bom Dia Brasil quando o apresentandor Renato Machado perguntou o que estaria acontecendo para ter aumento nos índices de violência dentro das próprias casas dos brasileiros. Tendo como destaque o caso da menina Lavínia, assassinada pela amante do pai, a equipe do jornal procurou uma especialista para avaliar o x desta questão.

Fiquei espantada quando uma psicóloga afirmou que o problema está dentro de casa, em relação à educação e aos valores familiares, que muitas vezes parecem perdidos. Nos jornais atuais é noticiado diariamente pai que mata filho, filho que mata mãe, neto que bate na avó. Confesso que até mudo de canal. Mas hoje este fato me chamou atenção, pois diante do comentário da psicóloga, consegui fazer um link com uma história que presencio.

Faço Inglês com um adolescente muito mal educado. Nem preciso falar que ele leva para aula, no auge dos seus 14 anos, um ipad, iphone, tênis do estilo “quanto mais caro, melhor”, entre outros fatores que já me chamaram atenção por imaginar que tipo de educação os pais pretendem dar. Mas me surpreendi por um dia, quando chamado a atenção, este menino confessou para a teacher que nunca havia escutado um não.

E eu fiquei lá com aquela cara de: como assim? Depois as pessoas ficam surpresas com as barbaridades que acontecem. Alguém que nunca presenciou o limite, respeitou as regras ou soube dar valor aos pequenos atos, não pode mesmo ficar contente ao não ter aquilo que deseja. Por isso estamos também vendo tantas histórias horrorosas de crimes familiares. Isso sem mencionar os jovens homofóbicos e revoltados que vemos por aí.

Claro que nem todos são assim e também nem toda a educação do mundo basta quando alguém é desequilibrado mesmo. Mas que a educação familiar e a importância do certo e errado dentro de casa fazem diferença, ah, fazem sim! Não sou nenhuma santa, mas o medo misturado com respeito que eu tinha da minha mãe me ajudaram a ser uma pessoa adulta mais correta. Talvez esteja faltando mais pulso firme e menos complacente com os erros e pedidos sem sentido de presente dos filhos.

Thalita Guimarães

21
fev

Sobre justiça e esperança

Há dois meses estamos fazendo a divulgação das ações da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907. Esse caso foi destaque internacional em 2006 e ensaiou uma crise diplomática entre Brasil e EUA. Um jato Legacy americano bateu em um avião da Gol e matou 154 passageiros. Estamos trabalhando para que os pilotos e a empresa responsável pelo jato não fiquem impunes, uma vez que provas apresentadas à Justiça Federal comprovam a negligência e imperícia dos dois. Só agora  a audiência foi marcada para ouvir a versão dos pilotos. Injustiça é uma coisa que, mesmo que a gente assista todos os dias no Brasil, a gente não pode se acostumar. Afinal , a capacidade de nos indignarmos é característica importante que nos faz humanos, não é?
O assunto é polêmico. Por isso todo o mundo se envolve um pouco. Mas verdade seja dita: como é difícil falar de assuntos tristes. Boas notícias são fáceis de emplacar, mas  falar sobre tragédia…
A imprensa constantemente é acusada de sensacionalismo, de morbidez ao pautar os assuntos. Mas passados cinco anos é necessária uma estratégia para conseguir certo barulho para que o caso volte à tona. Tudo isso para que a imprensa cobre o mínimo das autoridades competentes: um julgamento. Morreram 154 passageiros no fatídico acidente, mas quantos familiares e amigos perderam a paz? Quantas pessoas terão dizimadas todas as esperanças na vida ou em tudo que faz ela valer a pena caso tudo termine na pizza nossa de cada dia? Na verdade seremos 190 milhões de vítimas. Participem também do movimento em prol de justiça participando do abaixo-assinado disponível no site  www.190milhoesdevitimas.com.br

Cristiane Tada

7
fev

Fim de uma hegemonia

O jornal Folha de S.Paulo perdeu a liderança de maior periódico em circulação no país segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), que classificou o desempenho dos jornais brasileiros em 2010. A notícia foi publicada no boletim Meio & Mensagem do dia 24 de janeiro. O primeiro lugar agora é do jornal diário Super Notícia, de Belo Horizonte. De acordo com o boletim, enquanto a Folha manteve estabilidade, na casa dos 294 mil exemplares por edição, o Super Notícia cresceu 2%, atingindo uma média de 295 mil. Qual o motivo desta mudança? Seria o tão falado avanço das classes C e D? Faz muito sentido. Pesquisas mostram que este público aumentou e tem sede de informações. Os dados mostram também o crescimento de outros periódicos destinados ao mesmo público em outros estados como o Extra e Meio Hora, do Rio de Janeiro e o Diário Gaúcho, do Rio Grande do Sul. Refletindo sobre o assunto me lembrei o que o jornalista Gilberto Dimenstein, do jornal da Folha de São Paulo, me disse uma vez, ainda quando eu estava na faculdade. Quando eu o indaguei a respeito do futuro do jornalismo ele respondeu que esperava que o bairrismo crescesse. Argumentei se algum jornalista recém-formado deixaria para trás o sonho de trabalhar no maior jornal do país (até então a Folha) para fazer notícia em tablóides de suas cidades. Segundo o professor Dimenstein as pessoas querem se ver nos noticiários assim como nós que escrevemos queremos ser lidos. Por isso, para ele a tendência era do aumento do regionalismo. Para mim o dizer foi quase profético.  Acho que estava na hora do segundo estado mais populoso do Brasil (um país de dimensões continentais) ameaçar a hegemonia de quem há mais de 20 anos pauta notícias de São Paulo para todos os brasileiros.
Cristiane Tada

31
jan

Complexo Hidrelétrico de Belo Monte

Recebi um email nesta semana abordando a pressão política para autorizar a licença ambiental de um projeto que especialistas consideram um completo desastre ecológico: o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte. Há anos a hidrelétrica de Belo Monte, hoje considerada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, vem sendo alvo de intensos debates na região, desde 2009, quando foi apresentado o novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA), intensificando-se a partir de fevereiro de 2010, quando o Ministério do Meio Ambiente concedeu a licença ambiental prévia para a construção.

Segundo ambientalistas, a usina de Belo Monte irá cavar um buraco maior que o Canal do Panamá no coração da Amazônia, alagando uma área imensa de floresta e expulsando milhares de indígenas da região. Com tantas discussões em prol do meio ambiente, questiono como o governo brasileiro ainda tem a coragem de aprovar um projeto como este. Pelo jeito está faltando cuidado com um dos principais patrimônios do Brasil. Se não ficarmos atentos, projetos absurdos como estes vão sendo aprovados e vamos ficando à mercê das decisões que os nossos representantes eleitos, que tenham interesse ou não, tomam.

De acordo com o email que recebi, a mudança de Presidência do IBAMA poderá abrir caminho para a concessão da licença, ou, se nos manifestarmos urgentemente, poderá marcar uma virada nesta história. O texto que recebi pede para que seja assinada a petição de emergência parar este projeto, que será entregue em Brasília, para a Presidenta Dilma. Eu já fiz minha parte. Vamos lutar juntos pelo nosso país? Assine a petição:
https://secure.avaaz.org/po/pare_belo_monte/?vl
Thalita Guimarães      

14
dez

Projeto Escola Pública‏

Esta semana recebi um email informando sobre um projeto de Lei do Senado, de n.° 480, que determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014. Confesso que achei o máximo este projeto do Senador Cristovam Buarque, uma vez que acredito que o resultado seria muito positivo para a educação brasileira.

É só imaginar o cenário. Quando os políticos se virem obrigados a colocar os filhos na escola pública duvido que vão deixar de investir na qualidade do ensino público como vem ocorrendo e, consequentemente,  a qualidade da educação brasileira irá melhorar. Conversando sobre este assunto, tive o desprazer de discutir com alguns amigos que acharam um absurdo a proposta.

Ora, talvez quando eu for muito rica e tiver apenas um filho para que eu possa pagar todo o ensino para ele e não me importar com o próximo eu realmente ache este tipo de proposta um erro. Mas, enquanto eu  verificar que no Brasil os menos abastados não têm vez e dependem de um sistema cada vez mais corrupto que não investe na qualidade do ensino por não querer formar seres pensantes e críticos, vou lutar para que haja melhorias a serem feitas. Nem que seja apenas colocando pressão para que este projeto seja aceito.

Nada contra quem tem condições de pagar saúde, escola e outras coisas. Só acho que quando nossos representantes tiverem que usar o serviço que oferecem (educação, saúde, pagamento de impostos – que deveriam pagar, mas sabemos que muitos só reembolsam-  etc) o Brasil iria se tornar um país digno para todos.
Thalita Guimarães