Arquivo mensais:setembro 2015

24
set

O que é ser cool?

Cool Cat TwitterNeste trimestre começamos aqui na Talk a atender o ID Fashion, um evento de moda da Fiep que tem como posicionamento ser cool. Mas, afinal, o que é ser cool?

O Daniel Sorrentino, produtor artístico do ID Fashion, falou em uma reunião de uma imagem que me ajudou a entender o conceito – todos saindo de um escritório vestidos iguais: camisa azul clara e calça preta. No meio, um cara de camisa dourada. Este cara é cool porque ele tem identidade

Minha amiga Adriana Baggio tem um artigo em nível Avançado 5 (risos) que também ajuda bastante a entender o tema. (http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=610&titulo=Todos_querem_ser_cool)

Não chego nem perto da expertise da Adriana e do Daniel nesta esfera, mas arrisco alguns palpites sobre esse espírito/modo de vida cool. Vamos lá:

  • Andar de bicicleta é cool
  • Curitiba tem a Praça do Bolso – que é da galera cool
  • Os meninos agora usam barba – isso é cool
  • As meninas compram em brechó e fazem intercâmbio de roupas – usar roupa usada e não consumir em excesso é cool
  • Comprar comida orgânica é cool
  • Plantar temperinhos e fazer uma pequena horta em casa é cool
  • Curtir a natureza é cool
  • Berlim é cool
  • Ser politizado e protestar é cool
  • Ler é cool
  • Gostar de bichos é cool
  • Educar os filhos de um jeito livre é cool
  • Grafitagem é cool

Entendeu?

Beijos,

Karin Villatore

18
set

Três HQs fora do tradicional

Maus-Art-Spiegelman-PortableNão sou uma leitora de quadrinhos, mas, recentemente, conheci alguns títulos que me encantaram e achei bacana compartilhar, pois fogem dos tradicionais do mercado. A série nacional de quadrinhos chamada “Valente”, de Vitor Cafaggi, é composta por quatro livros encantadores, com traços fofos, para a família toda ler. Conta a história de um cão chamado Valente e suas peripécias que simulam a transição da vida de um adolescente. Do mesmo autor mais a sua irmã Lu Cafaggi, o quadrinho “Turma da Mônica – Laços” faz parte do projeto Graphic MSP, no qual alguns artistas reinventam os personagens originais de Maurício de Souza. Com traços bem diferentes do tradicional, este também é para a família toda.

Mas, o quadrinho que entrou para a minha lista de obras preferidas foi “Maus: a história de um sobrevivente”, de Art Spiegelman. O livro tem 295 páginas. Seu primeiro volume é de 1986 e o segundo, de 1991. É possível achar o volume completo com a reimpressão de 2013. Em 1992, o autor recebeu o famoso Prêmio Pulitzer de literatura, na categoria “Especial”, pois o comitê da premiação não soube categorizar se Maus era uma obra biográfica ou de ficção. Isso por que esse romance gráfico narra a história real do pai de Spiegelman, Vladek Spiegelman, um judeu polonês sobrevivente do Holocausto.

O curioso dessa HQ é que o autor retrata todos os personagens de diferentes grupos étnicos por meio de animais, como: judeus são os ratos (“maus”, em alemão); os alemães são os gatos; os americanos, os cachorros; os franceses, os sapos; os poloneses, porcos, os ingleses, peixes; os suecos, renas e os ciganos, traças. Ironia, principalmente, pela publicidade nazista da época que associava os judeus aos ratos, uma “praga que deveria ser exterminada”.

Deixo para vocês apreciarem mais detalhes da história de Maus. Mas, adianto: a obra é triste (tem algumas pitadas cômicas em certas tirinhas sobre o curioso humor de Vladek). Mas, têm mortes, dor, perseguição: coisas que o holocausto representa, afinal o livro retrata o antissemitismo. Algumas páginas me emocionaram ao ponto de adiar a leitura por um ou dois dias para dar aquela respirada.

Maus faz parte do que se chama movimento “underground comix”, muito comum em meados dos anos 1960, no qual a transgressão é um dos signos. Obras undergrounds girava em torno de questionamentos da contracultura, como: direitos humanos, anarquismo, socialismo, feminismo, movimento hippie, guerras, entre outros. Apesar de bastante didático, Maus tem um apelo bem adulto, com alguns desenhos fortes e comoventes.

10
set

Daumier e o Imperador

Honoré Daumier (1808-1879) foi um dos artistas que melhor retratou o povo francês do século XIX.  Pintor, ilustrador e caricaturista de mão cheia, seu lápis foi implacável com os poderosos, principalmente políticos, oligarcas, juízes, advogados ou qualquer outra pessoa que se colocava contra os mais humildes e injustiçados pelo sistema.  O talento de Daumier foi descoberto cedo e com menos de 20 anos de idade seu trabalho já era reconhecido em toda a França.   Em sua carreira, Daumier produziu mais 4 mil litografias, a maioria publicadas em jornais republicanos franceses, como La Caricature e La Charivari.  Duas das caricaturas de Daumier das mais interessantes para nós brasileiros são aquelas que retratam o imperador D Pedro I, descobertas que viraram livro do expert no assunto, Alvaro Cotrim, o caricaturista Alvarus.  Em uma delas, Daumier mostra o imperador barrigudo, careca e vestindo uma camisola, em um visual muito diferente da imagem legada pela tradição.

DR 67

A legenda(traduzida): Sir! Lisboa foi tomada – Aaaah !! …..e eu sonhei que eu estava lutando bravamente. Uma das especulações mais interessantes de Alvarus é que Daumier poderia ter conhecido in loco D Pedro I, durante uma temporada que o soberano passou em Paris, pouco antes da guerra com o irmão mais novo pelo trono de Portugal. E por isso talvez tenha produzido o retrato mais fiel do imperador brasileiro.

Por Zé Daniel

3
set

Dedo na ferida

Este não é um texto que fala sobre assuntos dos quais gostamos de saber – ele fala do que precisamos ler e ver, ainda que não gostemos. Em 1945 Anne Marie Frank, 15 anos, morreu em um campo de concentração. Ela estava entre os 108.000 judeus deportados da Holanda entre 1942 e 1944. Apenas 5.000 sobreviveram. Entre eles, seu pai, Otto Frank, que criou um memorial para que a história da filha – que escreveu um dos diários mais famosos do mundo durante a Segunda Guerra Mundial – não fosse esquecida. Anne, sua família e quatro amigos Anne Frankpassaram quase dois anos escondidos em um anexo secreto atrás de uma fábrica em Amsterdã, mas você provavelmente já conhece esta história. Em abril, eu pude ir ao anexo secreto. Não era um sonho da minha vida estar lá, era um lugar triste – mas com uma memória que precisa existir, perdurar e, mais que isso, ser vista e sentida. É o que acontece quando você se aproxima o suficiente: sente. Somente através da identificação e da empatia, de se sentir no lugar do outro, de imaginar o sofrimento pelo qual o outro passou, é possível fazer com que essa história nos atinja e faça pensar.

Quando eu saí do memorial, me deparei com um pedido provocativo: o de deixar uma mensagem sobre o que senti ao visitar a casa de Anne Frank. Só consegui escrever “não deixem que aconteça o mesmo com as crianças da Síria”. Estamos em setembro. Exatamente quatro meses se passaram. Hoje, vejo o mundo chocado com a imagem de um menino sírio de três anos. Morto, como Anne, 70 anos depois. Não em um campo de concentração, mas em uma praia da Turquia. Sua família não havia passado anos escondida em um cubículo. Sua família fugiu de seu País, como a de Anne ao ir para a Holanda em busca de segurança. Em comum, acabaram todos mortos – com exceção do pai. Quantas famílias terão que morrer para que o mundo perceba o problema?! Para que as autoridades tomem consciência? E para que a gente cuide dos mais vulneráveis: crianças, animais, idosos?! A mudança que queremos no mundo começa por nós, já falaram por aí.

Muitos fogem do sofrimento: “eu não quero ver”, dizem. Ver significa sentir e, nessa sociedade anestesiada, tudo o que não queremos é sentir. É preciso sentir. A crise migratória europeia é coisa séria e não devemos fechar os olhos. Não por curiosidade mórbida, mas porque infelizmente é a visibilidade que pressiona para que haja mudança. Cuidemos de nosso quintal, cuidemos das nossas crianças. E que mais jornalistas, fotógrafos e cidadãos mostrem o que é preciso ser visto.

Hoje, digo: “não deixem que aconteça o mesmo com as crianças de lugar nenhum”.

Luciana Penante