Arquivo mensais:novembro 2014

27
nov

Nunca diga nunca

*Sugiro que leia esse texto ouvindo a música “Podres Poderes”, do Caetano Veloso.

Esse texto não é (apenas) sobre as minhas férias. Esse texto não é (apenas) sobre os lugares nunca3que visitei, as comidas que provei, as pessoas que conheci. Esse texto é (também) sobre civilidade, cidadania e memória.

Caminhei muitos quilômetros por Buenos Aires. Preferi fazer os trajetos a pé, para perceber a cidade, as pessoas e entender um pouco melhor a vida dos nossos vizinhos.

Em 15 dias encarei duas greves de banco, três manifestações distintas contra a Cristina Kirchner, a economia e sabe mais Deus o que. Também pude presenciar uma “virada cultural”, que reuniu mais de um milhão de pessoas nas ruas na chamada “noite dos museus”.

Um dos meus programas preferidos quando viajo é observar os muros das cidades. Realmente acredito que as paredes falam, ou que a sociedade fala por meio dos muros. Pelas inscrições conseguimos ter uma ideia bem clara do que pensa/vive a juventude, como vai a economia, em que pé estão as eleições, quais são os quereres do povo. Os muros são excelentes periódicos.

Muito comuns, as pichações e grafites que fazem referência aos anos da ditadura militar me chamavam a atenção, e sei como a memória dos argentinos com relação ao passado assombroso dessa época é muito mais viva que a nossa. Aliás, é viva.

Em um passeio pelo centro, no entanto, me deparei com um stêncil que dizia: “nunca digas nunca, um documentário sobre desaparecidos na democracia”. Foi como um soco na boca do estômago ao meio dia de terça-feira.

Não que eu seja ingênua de não saber que as pessoas desaparecem de maneiras mais escusas e estranhas pelas mãos de milícias, polícias e vai saber mais quem. Mas a questão é como tratamos disso no Brasil. Ou melhor, como não tratamos.

 Gente como o Amarildo, que some do mapa sem deixar rastros. Gente como os 43 estudantes mexicanos que não se tem notícias há semanas. Gente que, geralmente, tem muito a dizer e pouca ou nenhuma influência, e que apenas somem. E que nós, não nos importamos.

 Esse papo do “gigante acordou” para mim sempre foi uma balela, porque pelo que eu saiba, eu não estava dormindo, não. Nem eu, nem todas as mulheres que sofrem abusos diários nas ruas, nem os homossexuais, nem os negros, nem os pobres, nem as famílias desses desaparecidos, nem muita gente que sequer conseguiu dormir um dia.

 Me defrontar na rua com um chamado como o “nunca digas nunca”, me fez entender que não só não “acordamos”, como estamos muito longe de nos entendermos como cidadãos. Fiquei incomodada comigo mesma, com algumas de minhas escolhas e com muitas pessoas ao meu redor. Minhas férias foram como uma cirurgia de catarata, onde agora é possível ver a mim, ao meu povo, ao mundo, de maneira mais clara. Ainda que não seja uma visão otimista.

 Vou e volto com meus pensamentos e só consigo pensar nas palavras do Caetano. “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos”?

 Marina Oliveira. 

20
nov

Viva Lobão e Bolsonaro; impeachment e intervenção militar já!

Antes de iniciar de fato este texto algumas questões importantes precisam ser esclarecidas. A primeira delas é: o título do texto contém uma generosa dose de ironia! O segundo ponto é: essa não é uma questão partidária e não é um debate de ideologias políticas.

Duas manifestações recentes aqui em São Paulo chamaram muito a atenção nas últimas semanas. A primeira delas aconteceu no dia 1.º de novembro e reuniu cerca de 3000 pessoas, uma semana após a reeleição da Presidente Dilma; a segunda no último sábado, dia 14 de novembro e, segundo algumas informações da polícia militar e de alguns veículos de informação, reuniu entre 5 e 10 mil pessoas . Em comum nos dois protestos estavam os gritos contra o resultado das eleições presidenciais, o pedido de impeachment da Presidente Dilma e, pasmem: alguns desses manifestantes imploravam por uma intervenção militar já para afastar “a ameaça comunista” (já viram esse filme antes?).

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Há exatos 50 anos, em 1964, o Brasil passou por um golpe militar. A intervenção era, em tese, temporária, apenas para colocar ordem na casa e afastar uma tal ameaça comunista (cá entre nós, ameaça que nunca foi uma ameaça de fato). Mas a tal intervenção virou ditadura e durou sofríveis 21 anos!

O governo militar “salvador da pátria” calou, torturou e matou sem o menor constrangimento, centenas de brasileiros. Fora mais de 350 mortes confirmadas, mais de 25 mil presos e 10 mil exilados.

Pois bem… 50 anos depois lá estavam alguns brasileiros pedindo pra que a ameaça comunista seja expulsa do país. Entre eles os assustadores Eduardo Bolsonaro (filho do Jair Bolsonaro) e o cantor Lobão (que fez discursos de extrema direita, mas quando viu que a coisa estava ficando muito feia, passou a dizer que é contra qualquer tipo de intervenção militar).

As milhares de pessoas que foram gritar contra Dilma e pediram a tal intervenção militar só não entendem o quão incoerentes estão sendo.  O discurso é de que o governo atual é antidemocrático, que as eleições não foram justas e que um golpe de esquerda está sendo planejado. A partir disso então pedem uma ação ainda mais antidemocrática pra resolver a situação?

Nos dois protestos o deputado absurdamente recém-eleito, Eduardo Bolsonaro berrou aos microfones que os militares não batem em quem não faz besteira e puxou gritos de “Viva a PM”. Quer dizer que todas aquelas pessoas que na ditadura militar gritaram por liberdade e democracia e depois apanharam feito condenados estavam fazendo besteira? A liberdade para protestar que essas mesmas pessoas têm hoje só existe porque durante a ditadura outras pessoas “fizeram besteira” e deram a cara a tapa. Aliás, seu Bolsonaro foi à manifestação lá do dia 01º, fez seu discurso too irônico e radical, e foi flagrado com uma arma na cintura. Pra quê a arma na cintura, meu vilão???

Não acredito, sinceramente, que um golpe militar será imposto, mas o número de pessoas (desinformadas ou não) que clamam pela intervenção é muito grande e isso é lamentável. O discurso de hoje é muito parecido com o discurso apoiado por muitos em 1964. O resultado foi horroroso e o país inteiro deveria ter vergonha dessa página na história. E não me venham com aquela história dita por algumas pessoas mais velhas de que “no tempo dos militares as coisas funcionavam, havia menos violência e corrupção”. Isso é uma besteira enorme até porque com a censura que era imposta aos meios de comunicação, a população não ficava sabendo de nada ruim que acontecia no país.

Pode deitar sua cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. O país pode ficar bom ou ruim, mas certamente não vai virar Cuba ou Venezuela.  Tá na hora da galera parar de embarcar em qualquer coisa que vê na internet e, principalmente, parar de gritar por coisas que não têm a menor noção das consequências!

Lucas Reis

13
nov

Irlanda: simbologia e curiosidades

Há dez meses retornei ao Brasil após um período intenso e sabático em Dublin, na Irlanda. Não imaginei que ficaria com tanta saudade dessa ilha. Não imaginei que aquele país pudesse me mostrar tantas coisas novas, conhecer tantas pessoas incríveis, e me fazer perceber que, realmente, o mundo é uma esquina.

De tudo o que vivi por lá, o que mais me marcou foi o aspecto cultural daquele país, seus costumes, histórias e, até mesmo, um estilo de vida despojado, alegre e com muita, mas muita cerveja. Sem falar na sua literatura clássica, que vai de Oscar Wilde a Samuel Beckett, e sua magnífica dança, de encantar e encher os olhos de lágrimas.

Queria dividir com vocês um pouco das curiosidades e histórias da ‘ilha esmeralda’, assim, eu também mato um pouquinho a saudade…

O leprechaun – Sabe aquele duende que fica no fim do arco-íris guardando o pote de ouro? Mora lá na Irlanda! Ele faz parte da lenda irlandesa (algo como o nosso saci) e é conhecido como um homem leprechaumpequeno, com roupas verdes, bigode, olhar simpático e um cachimbo na boca. São conhecidos por serem os sapateiros das fadas e são bem pequenos, com 30 ou 50 cm. Os leprechauns são considerados guardiões ou conhecedores de vários tesouros escondidos. Para conquistar tais tesouros deve-se capturar um leprechaun e nunca perdê-lo de vista. Caso contrário, ele desaparece no ar. Costumam ser bons, porém, gostam de pregar peças. A crença é tanta que existe um museu inteiro dedicado a eles, o National Leprechaun Museum.

TrevoO ‘shamrock’ ou trevo de três folhas – É um dos símbolos da Irlanda. A que significa “pequeno trevo”. Esta plantinha, comum na ilha, foi usada por São Patrício, que converteu o povo irlandês ao catolicismo, palavra inglesa ‘shamrock’ é a derivação do termo irlandês ‘seamróg’, explicando através de suas folhas o conceito da Santíssima Trindade. O povo, que até então mantinha a religião celta, foi convertido ao cristianismo, que se tornou a religião oficial do país.

A harpa – Instrumento tradicional dos bardos e poetas da Irlanda, sempre esteve intimamente ligado ao passado celta, que sempre foi independente. A harpa foi banida durante a dominação britânica, num período em que era comum as harpas serem queimadas e harpistas serem executados. A primeira bandeira irlandesa era verde com a harpa dourada no centro, que simbolizava a luta dos irlandeses majoritariamente católicos contra os ingleses protestantes. Esta guerra durou décadas, sacrificou muitos irlandeses e, com o seu fim, foi adotada a atual bandeira tricolor, com o verde simbolizando a Irlanda, o laranja remetendo aos ingleses e, no meio, o branco representando a paz entre os povos.

O “Saint Patrick’s Day” – Todos os anos, no dia 17 de março, irlandaé  comemorado o dia do padroeiro da Irlanda. Além das comemorações eclesiásticas, ocorre uma grande parada na sua capital, Dublin. Imagine uma mistura de Dia 7 de setembro, Dia de Nossa Senhora Aparecida e Carnaval. É exatamente isso o que acontece: desfiles de grupos fantasiados, carros alegóricos, bandas, pessoas vestindo as cores da bandeira e, claro, regado a muita bebida. Afinal, este é o único dia em que é liberado tomar bebida alcoólica nas ruas.

D'ArcyOs pubs irlandeses – É uma abreviação de Public House. São tipicamente decorados e socialmente frequentados para reuniões familiares, encontro de amigos, pessoas que vão assistir aos tradicionais jogos de rugby ou futebol gaélico (um esporte que, em minha opinião, é uma bagunça só, mas eles amam), ou somente beber, e isso já é um bom motivo para se visitar um pub. A região mais famosa de Dublin, e a que concentra os mais famosos e frequentados pubs, é conhecida como “Temple Bar”, um local sempre muito movimentado e repleto de turistas de todo o mundo.

O café da manhã – Este cardápio é só para os fortes ou aqueles irlanda 3 que não têm problemas com a balança. Um prato composto de linguiça tipo chouriço, bacon, ovos, feijão, tomates e torradas, acompanhados por café, chá ou suco de maçã. Com essa refeição toda, quase não sobra estômago para o almoço que, normalmente, é substituído por um sanduíche. Minha consciência não me deixou comer bacon e linguiça pela manhã em toda a minha temporada por lá.

A música e a dança irlandesa – A batida é inconfundível e a vontade de sair dançando é imensa, mas só os realmente bons conseguem. A mistura de violão, flauta celta, violino, harpa e um instrumento de percussão típico do país chamado bodhrán criam uma harmonia acústica perfeita, uma batida característica que te remete às velhas tabernas de filmes históricos, e te faz dançar mesmo que involuntariamente. Quase todos os pubs têm grupos tocando ao vivo e, ocasionalmente, com dançarinos. Já a dança irlandesa, para quem não sabe, é a origem do nosso conhecido sapateado. Foi criada no século dança irishXV, quando os camponeses usavam sapatos de solados de madeira que ajudavam a aquecer os pés e tinham como distração “brincar com os ritmos” que os solados faziam no chão. O sapateado irlandês sofreu diversas influências dos celtas, nômades e ingleses.  O gingado irlandês exige de seus bailarinos um rápido e complexo trabalho dos pés, com os braços próximos ao tronco, e a parte superior do tronco quase que imóvel. O grupo mais famoso de dança irlandesa é o “Riverdance”, que apresenta seus espetáculos por diversos países. Quem tiver a oportunidade de assistir, vá! É incrível.

Sinceramente, eu ainda volto para visitar esse lugar…

Aldy Coelho

6
nov

Dicas de Jeri

Pretendo me aposentar em Jericoacoara, uma praia paradisíaca do Ceará. Fui pra lá duas vezes e, logo na primeira, eu me apaixonei pelo lugar. Volta e meia amigos me pedem dicas de onde ficar, como chegar, o que comer e coisa e tal. Pra facilitar a vida de todo mundo, seguem abaixo algumas sugestões.

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Eu e minha amiga Léli, no caminho lindo entre Jeri e as lagoas.

Adorei a Pousada Isabel, que fica em frente ao mar. O quarto, que dá pra 3 pessoas, é bem limpo, tem banheiro próprio e ar-condicionado. Custa R$ 50 por cabeça. Mais informações em www.pousadaisabel.com (sem br no final).

Pra ir de Fortaleza a Jericoacoara, recomendo o ônibus (que é mais barato e mais prático que os carros 4X4). Dependendo do horário, eles saem do aeroporto ou da rodoviária. Custa R$ 80 por pessoa, ida e volta. Com a Fretcar (85) 3402-2244/22 ou www.fretcar.com.br

Lá em Jericoacoara, não peguem buggy pra ir pras lagoas. Andem de jardineira, que é bem mais barata e divertida (a diferença é de R$ 150 por passeio pra R$ 10!!!!). As jardineiras saem da praça principal. Os “locais” não comentam sobre isso pra não sacanear com os bugueiros.

Restaurante bom e barato é o Estrela do Mar. O casal de donos, Luzia e Raimundin, é ótimo! Tem prato feito, com peixe fresco, arroz, feijão e salada. Aliás, os restaurantes caros ficam na rua principal. Os bons e baratos, nas ruas paralelas – tipo este Estrela do Mar.

Lagoa do Paraíso é a minha preferida. Eu costumo ficar na parte atrás da Pousada Chez Loran. Os caras da jardineira sabem e te deixam na porta. Você fica na lagoa o dia todo, tem redes simplesmente dentro da lagoa pra deitar, cadeiras confortáveis na beira da lagoa e o pessoal do restaurante da pousada fica te oferecendo suco de fruta natural, camarão, cerveja gelada….. O uó de bão!

Só pra fechar, lembro que Jeri é point mundial de wind e kitesurf. Então, é sol o ano todo com bastante vento. Ou seja, calor sem suor.

 Beijos,

 Karin Villatore