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3
dez

Porque gostamos de rotular?

Estava de férias e meio alheia ao que estava acontecendo à minha volta. Via uns buchichos sobre um tal aplicativo Lulu, um programa que permite que mulheres deem nota aos homens. Imaginei, na minha santa ingenuidade, que só podia ser uma brincadeira. Mas não, o tal app existe mesmo.

O aplicativo Lulu ficou conhecido por permitir que mulheres, anonimamente, deem nota e façam comentários sobre os homens que possuam perfil no Facebook, inclusive sobre aspectos pessoais como desempenho sexual, caráter e relacionamento com mulheres.

Vi algumas opiniões feministas dizendo que agora as mulheres estão se vingando, fazendo com os homens o que sempre fizeram com elas, dando notas, opiniões, etc. Confesso que não li profundamente e nem usei o aplicativo para ter uma opinião de especialista. Mas, do pouco que vi, achei muito triste perceber a que nível chegamos.

Dar notas para alguém? Falar que vale a pena ou nem chegue perto? Que tipo de mundo é esse? Acho triste, vergonhoso e sem o menor sentido isso. Vergonha alheia. Não consigo entender porque alguém goste de expor outrem desta maneira, seja para denegrir ou elogiar. Não consigo entender o valor desta ação. E, bem sinceramente, ainda bem que penso assim. #prontofalei

Thalita Guimarães

2
dez

2 de dezembro: Dia Nacional do Samba

Em homenagem ao Dia Nacional do Samba, uma lembrancinha de Noel Rosa: Quando o Samba Acabou, de 1933, na voz de Mario Reis.

NoelRosaNoel é um dos artistas mais importantes da música no Brasil e fez muito pelo samba do morro, a música do povo e do rádio.  Filho da classe média, marcado por uma deformidade no rosto, cedo mergulhou na boemia carioca e no sucesso como compositor e letrista com o samba Com que roupa, popular até hoje.

Depois de muitos sambas, sucessos, amores e farras, morreu aos 26 anos, em 1937, no Rio de Janeiro.

Letícia Ferreira

25
nov

Cometa gafes

vergonha

As pessoas vivem cometendo gafes. Isso é comum, afinal, nenhum de nós é perfeito. “Mas que clichê mais batido, Gustavo!” Desculpe, mas os clichês só são clichês porque são extremamente repetidos e, se são tantas vezes repetidos, é porque são importantes de alguma forma.

De fato, se você viveu pelo menos 10 anos, com certeza já cometeu alguma gafe. Criança comete muitas. Minha amiga de infância Gabi, certo dia estava no elevador com a mãe, e uma mulher com o cabelo todo armado entrou. Os olhos da Gabi se levantaram lentamente para o topete da senhora. A menina olhou fixamente e perguntou, com a maior inocência:

– Moça, você é uma bruxa?

A mãe, Simone, não sabia onde enfiar a cara.

– Gabrielaaa! Ai, moça, desculpa.

– “Magina”! Criança, sei como é.

Uma vez, esperando meu pai me pegar na escola, parou um carro igualzinho o dele. Já com o celular na mão e sem olhar pra frente, fui andando, abri a porta do carro e entrei. Quando olhei para o lado, tinha uma mulher olhando para mim com uma cara de: “Quem é você?” Foi constrangedor. Eu parecia um pimentão! Ela riu e eu saí do carro pedindo desculpa.

A verdade é que ninguém gosta de cometer uma gafe, mas eu consigo enxergar o lado bom delas. Se você, caro leitor, pensar bem, as histórias mais engraçadas que a gente tem pra contar são gafes que cometemos. Quem nunca se divertiu numa roda de amigos, um contando para o outro as próprias gafes ou as de outros?  Quantas histórias hilárias já ouvimos? Estas coisas têm que acontecer para deixar a vida mais gostosa. São aqueles momentos que, às vezes, você acaba lembrando e rindo sozinho, feito louco. Na hora em que aconteceu foi super embaraçoso, mas, depois passa e fica cômico. Faz parte.

Não me arrependo de nenhuma gafe que cometi porque, de vez em quando, são com essas lembranças que eu me pego sorrindo. Então, para finalizar, sem clichês, eu lhe dou um conselho de amigo: cometa gafes.

20
nov

Antônimos perfeitos

girassolDias desses estava pensando nas músicas que falam sobre os contrários. Busquei no Google e vi que uma moça do Rio fez até um artigo acadêmico sobre o assunto. Fato que me fez lembrar de uma entrevista do Chico Buarque, em que ele disse que descobria, por meio de estudos acadêmicos, significados nas letras das canções dele que nem ele mesmo sabia que existiam. Só o Chico mesmo!

E por falar no meu ídolo, a primeira música em que pensei eu confesso que sempre achei que era do Chico. Mas eis que a moça do Rio usou Catavento e Girassol no artigo acadêmico e me corrigiu: é do Guinga & Blanc.

Entre tantos outros trechos geniais, gosto demais destes:

Você só pensa no espaço, eu exigi duração

Quando eu respeito os sinais, vejo você de patins, vindo na contramão

Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho

Eu sinto muita saudade, você é contemporânea

A segunda em que pensei foi O quereres, do Caetano Veloso. E, pimba, o artigo da moça do Rio também fala desta. Já começa, logo de sola, assim:

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão

Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não

Daí tem outra bem legal, da Alanis Morissette, chamada Hand in My Pocket. Diz coisas do tipo “Estou triste, mas estou rindo; estou aqui, mas já fui”.

E, assim como o contrário, existe o encontro perfeito, como o da Diariamente, que ficou conhecida na voz da Marisa Monte. Começa assim:

Para calar a boca: rícino
Para lavar a roupa: omo
Para viagem longa: jato

Menos conhecida, mas na mesma onda, tem a música Que Nem a Gente, do Celso Viáfora. Diz, entre outras:

Elegante não é, necessariamente,
Tudo competente
Artista não é tudo comunista
Maconheiro e indecente
Todo mundo é meio assim que nem a gente:
Tudo igual, mas muito diferente

E você, lembra-se de alguma?
Beijos,

Karin Villatore

14
nov

Ainda há esperança

Após quase seis anos do escândalo do mensalão, parece que finalmente existe luz no fim do túnel. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de começar a executar as penas dos réus que não entraram nos chamados embargos infringentes, demonstrou que nem tudo terminou em pizza. Pelo menos, essa é a percepção geral da nação sobre as coisas que acontecem em Brasília. O Tribunal decidiu que 11 dos 25 réus, em breve, receberão os mandados de prisão. E assim esperamos que aconteça.

Mas, dificilmente a expedição das ordens deve acontecer hoje, antes do feriado. Então, os condenados vão poder aproveitar o final de semana de sol em todo o país, que vai dar praia, como diriam os cariocas. Como um dos condenados que desde ontem aproveitava a folga prolongada na Bahia, tamanha era a certeza de que no feriado o banho de sol ainda seria à beira mar.

Infelizmente, nem tudo são flores, algumas figurinhas carimbadas do processo vão cumprir a pena em regime semiaberto e outros ao receberam pena alternativa. Sem mencionar os nove condenados que conseguiram a artimanha de entrar com recurso – o tal do embargo infringente –, que dá o direito a um novo julgamento. Enquanto isso, nós ficamos aqui, assistindo nos bastidores o desfecho de um processo que há muito tempo já deveria ter sido resolvido, mas que por “forças ocultas” ainda caminha em passos de formiga e sem vontade.

Luanda Fernandes

11
nov

Mercado de luxo cresce no mundo, mas ONU não tem dinheiro para comida de refugiados

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Criança no campo de refugiados de Dadaab, foto de 2011

Uma notícia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA), do último dia de outubro, me deixou aturdida. Ou bolada, como eu diria por aqui. Os órgãos da ONU anunciaram que iam reduzir em 20%, em novembro e dezembro – por falta de dinheiro –, as porções de comida de mais de meio milhão de refugiados no Quênia. Com a redução, as pessoas que dependem dessas doações para sobreviver não receberão o mínimo de 2.100 calorias diárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, mas apenas 1.680.

Três coisas me deixaram super bolada:

  1. A notícia em si;
  2. A falta de repercussão que ela teve – desde quando o fato de a ONU não ter dinheiro para mandar comida suficiente para seus atendidos deixou de ser interessante?
  3. As receitas do mercado de luxo, no mundo, irão crescer até 50% mais rápido que o PIB global até 2015, de acordo com a expert no assunto, a consultoria Bain and Company.

A comparação é óbvia.

Não há problema algum em quem ganhou dinheiro honestamente gastá-lo com o que quer, dentro da legalidade, seja ou não artigo de luxo. Dependendo de quanto dinheiro se tem, comprar, por exemplo, uma bolsa por R$30 mil ou R$1 mil é luxo, R$500,00 é luxo, R$100,00 é luxo. Mas vejo um enorme problema quando a comida é artigo de luxo e quando se comemora a expansão do mercado de luxo no mundo sem se lamentar a redução da comida dos refugiados no Quênia. Quando eu tinha 13 anos, já dizia em casa: nosso problema não é falta de dinheiro, é que quando se desperdiça de um lado, falta de outro.

O diretor do PMA para o Quênia, Ronal Sibanda, explicou em comunicado que fizeram o que podiam para evitar a medida de redução, que, espera-se, seja temporária, e foi tomada para que as reservas durem até o final do ano. Os campos de refugiados afetados serão os de Dadaab (perto da fronteira com a Somália) e Kakuma, situado na confluência das fronteiras do Quênia com a Etiópia, Sudão do Sul e Uganda.

O apelo aos doadores continua e o PMA precisa de pelo menos US$ 10 milhões para distribuir mais de 10 mil toneladas de comida. Os EUA darão US$ 20 milhões, que devem estar disponíveis no começo de março de 2014, por isso, o alerta pela falta de fundos para operar em janeiro e fevereiro.

Letícia Ferreira

4
nov

Quanto tempo o tempo tem?

relogio Você já teve a sensação de que o tempo anda passando mais rápido do que antes? Já usou aquela frase “parece que foi ontem”? Pois é, acredito que todos que tenham mais de 20 anos já tiveram essa sensação pelo menos uma vez na vida.

Existem algumas hipóteses que explicam o porquê de sentirmos isso. Segundo Zygmunt Bauman, estamos em um estágio “líquido” da modernidade, ou seja, nada é estável, tudo está sempre em constante mudança, nada é feito pra durar, nada é “sólido”. As modas, tendências, aparelhos e até os nossos relacionamentos estão se tornando cada vez mais descartáveis, e as pessoas trocam, substituem as coisas num processo muito mais acelerado.

A quantidade de informação que recebemos todos os dias e as tecnologias que nos mantêm conectados acabam influenciando nossa percepção de tempo. Quando menos se espera, o dia já acabou. Houve uma mudança no ritmo biológico natural.

Por outro lado, existem situações em que temos a impressão que o tempo não passa, como quando estamos assistindo a uma aula chata ou quando esperamos alguém chegar, ou na fila do banco, na espera do hospital etc. O tempo está ligado às nossas ações, o que fazemos, a forma como nos ocupamos. Para uma pessoa que mora em São Paulo, a percepção do tempo é a de que ele está mais acelerado, diferentemente de uma pessoa que mora em um sítio isolado no interior. Para esta, o tempo passa mais lentamente.

O tempo é um elemento fascinante de estudar e sobre o qual se pensar porque é uma das poucas coisas sobre as quais o ser humano não tem controle. Não podemos voltar no tempo ou avançar nele, assim como também não podemos pará-lo, ao menos por enquanto. Não existe passado, existem memórias, fotografias, vídeos de momentos anteriores. Podemos revê-los, mas nunca revivê-los. Temos que nos conformar que o tempo simplesmente é.

Gustavo Scaldaferri

30
out

O direito de resposta e o papel do Jornalismo

respostaO Senado aprovou o projeto de lei que regulamenta o direito de resposta por matéria ofensiva divulgada nos veículos de comunicação. A proposta agora será analisada pela Câmara dos Deputados. A justificativa para o projeto é que desde 2009, quando a Lei de Imprensa foi considerada inconstitucional, o tema não tem regulamentação. A principal queixa dos interessados na questão é que, na maioria dos casos, o direito de resposta só é concedido após decisão judicial. E, ainda, a garantia de resposta pode levar anos para ser concretizada, pois a determinação fica sujeita aos prazos do judiciário.

No projeto de lei, a pessoa que se sentir ofendida poderá solicitar em 60 dias o direito de resposta de maneira gratuita e nas mesmas proporções da matéria divulgada originalmente. Isso garante que, em termos de veiculação, o espaço utilizado para a resposta será o mesmo dado à matéria. Então, no caso de um veículo imprenso, se a publicação teve destaque na capa do jornal ou da revista, por exemplo, a resposta deverá ser veiculada com o mesmo destaque na página.

Ainda de acordo com a proposta, a retratação poderá ser solicitada por um representante legal ou por um familiar do ofendido, caso ele esteja fora do país ou impossibilitado de se manifestar. O veículo de comunicação terá sete dias para publicar ou divulgar a retificação. Caso contrário, estará sujeito a ação judicial. Nesse caso, se comprovada a ofensa, o juiz fixará data e condições para veiculação da resposta, que deverá ocorrer no prazo máximo de dez dias.

A Lei, se aprovada, também não impede que a pessoa ofendida entre com ação judicial contra o veículo de comunicação, solicitando restituição por danos morais. No entanto, determina que, para que haja o direito de resposta, a ofensa deve ser individualizada, sendo direcionada a um grupo, entidade ou a um único indivíduo, não incluindo resposta para comentários de leitores, como os que são publicados em portais de notícias. Além disso, a garantia de retratação não é válida para textos de opinião, desde que não seja feita uma acusação.

De maneira geral, a regulamentação não pode ser considerada uma iniciativa ruim. Afinal, não são poucos os casos de empresas ou pessoas que têm sua imagem expostas por matérias mal apuradas. Nesse caso, o direito de resposta é bastante válido, já que a retratação dificilmente acontecerá com o mesmo destaque que foi dada à matéria. A regulamentação seria mais uma garantia de que a pessoa/empresa poderá mostrar a sua versão a história, apresentando informações concretas, além de se defender de exposição negativa que denigra sua imagem.

Por outro lado, existe uma linha tênue entre o dever de resposta, que permeia a ética profissional do Jornalismo, e a repressão à liberdade de imprensa. A lei não deve se tornar um mecanismo que impeça os veículos de comunicação de ir atrás da notícia, apurando os fatos e mostrando a realidade e, muito menos, inibir a prática de investigação da notícia. O comunicador tem que ouvir os dois lados da história, mas também não pode ficar preso ao que diz a norma, limitando o trabalho do profissional de imprensa.

Assim como a Lei de Imprensa, promulgada na época da ditadura e julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009, a proposta de garantir o direito de resposta não pode servir como base para que os poderosos, diante de interesses pessoais, inibam o trabalho jornalístico de mostrar os fatos para a sociedade. Ao contrário, a lei tem que ser mais uma garantia de que vivemos em um país democrático, em que todos têm direito a se expressar, garantindo o acesso igualitário à informação.

Karin Villatore

Artigo publicado no jornal Bem Paraná, em 27/09/2013.

24
out

A polêmica sobre o resgate dos beagles

beagle Em meio aos inúmeros textos que li sobre o resgate dos beagles do Instituto Royal, um particularmente me chamou a atenção. O texto não opinava sobre ser certo ou errado a pesquisa em animais, mas questionava sobre qual a posição do homem na natureza. Será que realmente somos donos do planeta e nossa espécie, por ser dominante, tem plenos direitos sobre tudo que existe nele?

Achei bastante interessante o questionamento, pois há alguns séculos o homem também pensava ser dominante sobre a própria espécie, diferenciado pessoas por raça, crença e sexo. Na época, o pensamento comum era totalmente convicto de que outras pessoas eram inferiores. Fato que também foi abordado no texto.

Desde então, o homem evolui e começou a enxergar o mundo de uma maneira totalmente diferente, não existe pessoa superior à outra. Nesse sentido, somo iguais e desenvolvemos as mesmas habilidades intelectuais. Porém, em relação aos animais, ainda tomamos como certo a questão da espécie superior que, por essa definição, pode usar outro ser para satisfazer e auxiliar o nosso modo de vida. Será que isso realmente está certo? Será que ainda não evoluímos o suficiente para saber que o sacrifício de uma espécie não deveria justificar a sobrevivência de outra?

E questionando isso, não estou tentando dizer que a pesquisa científica é errada e que devemos deixar de ir atrás da cura de doenças e de outros avanços que possam melhorar a qualidade de vida das próximas gerações, por exemplo. Essa discussão é muito mais longa: é se ainda não conseguimos desenvolver métodos confiáveis para substituir os animas como cobaias na realização de testes. Não sou cientista ou pesquisadora para afirmar se isso já é possível, mas posso dizer que, como qualquer pessoa que apoia a causa animal, dói ver as carinhas daqueles cachorros resgatados. Perceber a apreensão nos olhos deles é muito difícil, por isso não condeno o resgate, mesmo que nas circunstâncias em que ocorreu. Talvez, se eu estivesse lá, também tivesse ajudado a retirar os beagles.

O lado positivo disso tudo é que o acontecido ajudou a colocar em pauta essa discussão e, quem sabe, fazer com que a comunidade científica repense certas práticas.

Luanda Fernandes

22
out

Qual é a sua desculpa?

feb06a8d-e7ad-495d-8841-d859157ac54f_What-s-Your-Excuse Uma californiana de 32 anos está sofrendo ciberbullying porque publicou uma foto dela e dos três filhinhos de 4 e 3 anos e de oito meses no Facebook. A ira das pessoas, pelo teor dos comentários, foi provocada pelo duo aparência da mulher – corpo jovem, bonito e malhado – e a frase acima dela: “qual é a sua desculpa?”. Como se ela dissesse: “se eu posso malhar e ficar linda tendo três filhos pequenos, você também pode, não me venha com churumelas”.

Mais de 16 milhões de visualizações depois, muito dos 12 mil comentários foi positivo, mas uma boa parte foi bem agressiva, chamando-a desde “perniciosa” e “falsa” até uma péssima mãe e agressora. Ela disse em entrevista ao Yahoo Shine que fazer outras mulheres se sentirem mal era o oposto do que queria e que a frase “qual é a sua desculpa?” é usada comumente em campanhas de fitspiration, como se chamam as campanhas que devem inspirar as pessoas a malhar.

OK, a frase é provocativa, talvez demais para muita gente, porém, não menos que fotos de cosméticos antiaging com mulheres com menos de 30 anos ou todas as edições de revistas de moda em que as mulheres – e os homens – são figuras impossíveis porque simplesmente não existem. Mas nada disso provoca, que eu saiba, explosões como algumas que atingiram a bela mamãe.

O que tem me ocorrido, e esse caso me fez lembrar, é que muita gente não se conforma que a maior parte do mundo gosta mais das pessoas tidas como bonitas na cultura da nossa era. E muitas dessas pessoas bonitas – o que nem foi o caso dessa mulher durante um tempo – não malham até cair, não passam fome, não fazem plástica, não usam photoshop nas fotografias, etc. Elas ficam velhas e morrem como todos, mas, até lá, são naturalmente bonitas e os demais, que não são considerados bonitos pela cultura vigente, precisam se conformar.

Não adianta ficar com raiva, inventar que todo magro tem bulimia, anorexia ou não sabe aproveitar a vida ou inventar que todo mundo que se arruma é fútil e raso, que toda pessoa bonita fez plástica, que todo mundo que faz plástica é ignorante, que quem malha e cuida da alimentação é neurótico… Enfim, exageros à parte em todos os sentidos, não adianta inventar que o bonito é feio. Há quem goste disso e daquilo, há quem seja assim ou assado e pronto. Mudar a cultura de uma era à força, com xingamento ou humilhando as pessoas não é legal. E não é legal para quem magro ou gordo, moço ou velho, bonito ou feio, cuidado ou desleixado. Além do mais, cada um sabe onde lhe aperta o sapato.

Letícia Ferreira