4
fev

Os opostos se repelem

Assisti no final do ano passado ao Sem Pena, um documentário impressionantemente inteligente sobre o sistema penitenciário brasileiro. Depoimento soco no estômago vai, depoimento chute no joelho vem, a fala de um sujeito (eram só as vozes, sem mostrar o rosto) sobre a hipocrisia dessa modinha da inclusão enquanto, na verdade, queremos mais é que os diferentes se explodam, de preferência longe de nós.

Era bem mais que isso a teoria do cara que, no final, foi identificado como um filósofo. Meu brainsfilho, estudante de Filosofia, explicou que a base do argumento era nietzcheniana. Show.

Reflexiva, na saída do cinema fiquei pensando na raiva dos tucanos contra os petistas (e vice-versa), de torcedores chamando jogador de futebol de macaco e, o que vem me tocando mais, no preconceito dos curitibanos contra os imigrantes haitianos. Os refugiados se espalharam pelo Brasil inteiro. Mas, até onde sei, só aqui eles estão tendo efetivamente problemas. Sofrem preconceito pesado, são considerados foco de ebola pela ignorância dos que não têm a menor ideia de onde fica o Haiti – ou de onde vem o vírus -, falam idiomas – no plural – diferentes do Português.

Mas o pior mesmo é que eles são pretos retintos. Numa cidade em que bronzeado de praia já é quase ser um negro zulu, a cor da pele dos haitianos arrepia pelos polacos. Na dúvida, Curitiba não hesita. Rechaça. Nascida aqui, sinto vergonha. E, assim como todo mundo, não faço nada.

Karin Villatore

28
jan

Os diversos caminhos das palavras

Houve um tempo em que eu escrevia sem parar. No fim do caderno, na agenda, na mesa, no banco da sala de aula, na parede do meu armário. Sentia a necessidade de me expressar através das palavras – as quais eu não mostrava para ninguém. Era como se elas, as palavras, fizessem com que eu me entendesse melhor, ou talvez elas me compreendessem de um jeito que nem eu saberia fazer. Não sei quando aconteceu, mas a ânsia por escrever foi parando com o tempo. Tive um blog genial, com um título genial e uma ideia genial. Não saiu do total de 03 posts. Quem sabe um dia eu ainda o retome, para ver se retomo também o gosto pelas palavras – que devem estar se sentindo esquecidas. Elas, que me ajudaram tanto nos momentos mais difíceis.

Houve também um tempo em que eu acreditava que as minhas palavras eram mágicas. Como se elas fossem tão fortes que pudessem fazer acontecer o que eu desejasse. Um dia, no início da minha adolescência, li que eu deveria escrever o que mais queria e colocar no meio da
2bíblia. É, da bíblia. Não sei se foi vontade divina, mas deu certo. Evento semelhante aconteceu anos depois, mas desta vez sem nenhuma intervenção do cara lá de cima. Escrevi meus sentimentos mais obscuros, que eu não revelava para ninguém, nem para mim mesma, num moleskine no qual eu só escrevia com caneta preta de gel. As coisas mudaram e aconteceram conforme aquele conjunto de letras havia sido montado. A mudança não foi boa e eu percebi que aquilo, escrito num momento de tanta sinceridade, não era tão honesto assim. O resultado foi um autoconhecimento que carrego comigo até hoje.

Houve depois o tempo em que as palavras se tornaram obrigação. Perderam a minha personalidade e a mágica, mas não o encanto. Ficaram mais sérias, questionaram vertentes filosóficas, discutiram fatos políticos e relataram acontecimentos, bons e ruins. Aprenderam a se transformar em um lead, a responder os 5W, a fazer pausa para o TP e a resumir um texto de duas laudas em passagens e OFFs. Esqueci as palavras que sentiram minhas lamúrias e parti para aquelas que me ajudaram a redigir currículos, a fazer relatórios, a anotar meus compromissos. Troquei as letras de música por anotações perdidas sobre eventos importantes. Guardo uma coleção de caderninhos e canetas que esperam as palavras antigas voltarem. E eu sei que elas um dia voltam, pois, adaptando as célebres palavras escritas por Oswaldo Montenegro em um dos meus poemas favoritos, metade de mim é sentir, e a outra metade também.

Amanda Pofahl

21
jan

Sobre aquilo que podemos evitar

Não sei se é por causa do inferno astral ou se porque, realmente, estou cada dia mais crica, mas a questão é que não consigo mais ler notícias. Deixa eu me explicar. Não consigo mais ler notícias, pois não há mais nada para ler.

Por conta da rotina, me informo pela internet. Acesso sites de notícias, acompanho as manchetes pelo Facebook, dou uma olhada nas linhas do Twitter e, cada vez mais, me defronto com um imenso Buzzfeed.

Não tem um dia que eu abra as redes sociais de grandes veículos e não tenha um post preguiçoso. Sabe aquela matéria que você não tem que entrevistar ninguém, que qualquer coisa que você escreva vai parecer real e que terá milhares de visualizações? Então, é disso que estou falando…

Listas e mais listas de vazio: 10 coisas que você precisa saber agora que é chefe. 10 livros que te ajudarão a ganhar dinheiro em 2015. Saiba quem foram as 50 maiores personalidades de 2014. Oito dicas para combater a insônia. Veja cinco pontos infalíveis para o bom relacionamento na empresa. Saiba se seu chefe te odeia em 13 passos. É só o que eu leio nas redes sociais de grandes veículos.

Lembro de ouvir repetidas vezes enquanto criança os versos dos Titãs dizendo que “a televisão me deixou burro, muito burro demais”.  Hoje percebo que esse sentimento também se aplica às redes sociais. Por que cazzo nós, jornalistas, não conseguimos nos aprofundar? Por que não apuramos os fatos? Por que pedimos para a assessoria de imprensa conseguir personagens para nossas matérias? Por que as fontes não são boas o suficiente para propor discussões sobre o tema? Por que tenho que estar conectado o tempo todo? Por que fazer listas de coisas desinteressantes e achar que estou exercendo meu papel de jornalista?

Será que somos nós ou é o público quem não consegue ler e interpretar uma matéria e prefere ver listas infindáveis sobre coisas irrelevantes? E se for isso, por que não nos propomos a fazer jornalismo acessível e de qualidade sem ter que criar rankings estúpidos. Apurar, entrevistar, pensar em pautas, trazer depoimentos, dados, números, ideias, discussões. Por que temos que ser paladinos da justiça ao invés de simplesmente sermos jornalistas?

Enquanto não temos essas respostas, te proponho um exercício: não clique nessas listas. Não escreva nada nos comentários, não dê audiência para esse tipo de conteúdo. Se for inevitável, por favor, não ache que é tudo verdade. E depois, podemos fazer uma lista das 50 listas mais engraçadas/bobas/interessantes que tivemos acesso. Que tal?

15
jan

Ainda sonho com o jornalismo ideal para o mundo

O mundo está de cabeça para baixo, são inumeráveis crises e conflitos que, dia após dia, nos chocam e nos comovem. Quando dois atiradores entram em uma redação de jornal e matam 12 pessoas, todos ficamos estarrecidos com tamanha crueldade e sangue frio. A coisa fica mais assustadora ainda quando surgem alguns vídeos que mostram os terroristas em ação nas ruas de Paris, gritando e atacando policiais. Infelizmente, 2015 começou com uma tragédia.

Mais do que uma comoção e o choque, os ataques ocorridos na capital francesa me trouxeram algumas questões jornalísticas relevantes.

A primeira delas diz respeito aos “critérios de noticiabilidade” que têm direcionado a cobertura dos grandes veículos nos últimos dias (e em muitas outras ocasiões) e que, se me permitem, presssão asquerosos. Para os atentados odiosos na França, na Europa que tem dinheiro, em Israel e nos EUA, todas as manchetes, plantões e debates, sempre. Para as centenas de milhares de vítimas de todos os dias na África, na Palestina, nas favelas brasileiras e em outros rincões de que quase nunca ouvimos falar, uma notinha escondida em algum pé de página, como se fossem eventos distantes e irrelevantes.

Pode parecer sonho de um jornalista recém-formado que, aos 24 anos de idade, ainda acredita que sua profissão pode mudar o mundo, mas quantas vidas poderiam ter sido poupadas se apenas uma ínfima parte da atenção que está sendo dada pela imprensa aos acontecimentos em Paris tivesse sido dispensada às milhares de vítimas recentes do terror na Nigéria? Isso só pra dar um exemplo atual. Mas há outros. Há muitos outros. Há não muito tempo, a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos fizeram pouco caso de um genocídio em Ruanda. E a imprensa só fingiu acordar para o horror depois que centenas de milhares de cadáveres já apodreciam nas ruas… Óbvio que fico chocado, indignado e até emocionado com o que aconteceu na França. Mas não podemos ignorar os fatos para os quais boa parte do jornalismo ocidental fecha os olhos sistematicamente, como se algumas diretrizes dos manuais de redação não pudessem ser ignoradas de vez em quando, em nome de um jornalismo mais humano.

A segunda questão fica por conta da forma de apurar os fatos acontecidos em um momento de crise/tragédia: por que tanta avidez por notícias que não são apuradas, mas apenas coletadas das fontes oficiais? Será que, devido ao calor das circunstâncias, as forças policiais da França (ou de qualquer outro país) podem ser acreditadas como se nunca houvesse nada a questionar? O que vale é a voz oficial e só a voz oficial? Estou pedindo demais? Talvez sim, e talvez se estivesse em uma cobertura dessas, eu teria feito exatamente a mesma coisa. Mas será que não há alternativas de fontes? Não há histórias paralelas que dão novos pontos de vista aos acontecimentos ou que tragam curiosidades e levantem novas questões aos debates? Não sei se tenho a respostas pra tudo isso, talvez não.

A situação é complicada, claro. O que sei é que esse não é o jornalismo que quero para o Mundo.

Lucas Reis

8
jan

Ano novo, novos desafios!

Logo no primeiro dia útil do ano iniciei um novo desafio profissional. Após um breve período de dedicação à maternidade, fui convidada para assumir a coordenação da Talk Assessoria de Comunicação. Esta oportunidade me deixou bastante animada. Conheço a seriedade e o profissionalismo desta empresa. Além disso, já estava com muita saudade da rotina de assessoria de imprensa.2015

Em 2014 resolvi me afastar temporariamente do mercado após 11 anos. Escolhi ser mãe. Planejei a gravidez e, após o nascimento do pequeno, optei por me dedicar prioritariamente a ele. Pude amamentar com muita tranquilidade e participar ativamente do seu primeiro ano de vida. Foi sensacional!

Agora chegou o momento de retomar a rotina que tanto me fascina. Trabalhar com comunicação empresarial é algo que me motiva, me encanta e me desafia o tempo todo.

Ainda estou na primeira semana de trabalho, mas já posso dizer que encontrei um ambiente saudável e uma equipe formada por competentes jornalistas. Além disso, na carteira de clientes estão empresas que são referências no mercado e que utilizam a comunicação como ferramenta estratégica de gestão.

Tenho certeza de que 2015 será um ano bastante produtivo! Um Feliz Ano Novo!

Aline Cambuy

18
dez

2014, um ano estranho

O que escrevi no título deste último post do ano foi a menção que mais tenho ouvido sobre 2014. Não sei se foi por causa da Copa do Mundo no Brasil, que estraçalhou as agendas e deixou a gente quase ilhado no próprio país. Ou se foi devido às eleições presidenciais mais concorridas da nossa jovem democracia. Quem sabe foi porque a gente não sabia ao certo growth2aonde esses dois grandes eventos iriam chegar, se haveria quebra-quebra nas ruas ou se tudo daria certo no final.

 2014 foi tão estranho que, pasmem, a Talk continuou, pelo sétimo ano consecutivo, crescendo. Não só aumentou os ganhos como também a infra. Escritório novo, equipe nova, equipamentos de TI tinindo de novos. Isso tudo num ano maluco é de, no mínimo, causar estranheza, concordam? Mas só consigo achar um motivo para essa nossa braçada contra a maré: a qualidade do nosso trabalho.

E, bem aqui de pé de ouvido, adianto que temos novidades muito legais já programadas para o ano que vem. Que venha 2015!

 Valeu, ano estranho, e beijos a todos,

 Karin Villatore 

11
dez

Das coisas que acontecem na vida

A vida é dessas que surpreende. Num momento nos deixa sem força, noutro nos obriga a ser mais fortes do que nunca. Ela nos coloca em provações e nos faz questionar o seu sentido. E o engraçado é a resiliência com que nós, meros participantes, continuamos seguindo em frente, do jeito que dá. E é assim até que algo devastador acontece e perdemos o chão, perdemos o ar, enjoyperdemos nós mesmos. E então só basta esperar. Esperar que algo avance, que alguma coisa mude, que a dor passe, que alguém volte. “Tudo está bem, até que não está”, um dia disseram. A verdade é que, quando tudo está bem, falta sentir e não se importar. Capturar aquele momento e aproveitar. Sentir o prazer da respiração, da comida, de um abraço, de um beijo, de um amor. Tratar melhor quem a gente gosta, quem a gente não gosta e, principalmente, tratar melhor nós mesmos. Parar de falar dos outros, de achar que sabe mais, de julgar, de querer mostrar o que tem e o que não tem. Porque no fim, lá no fim, não importa. Por isso eu digo, solte rojões! Solte fogos de artifício! Não oprima a felicidade com medo que ela acabe. Abrace a raiva e a tristeza por um breve momento – elas te farão forte! E então as jogue fora… E acredite, o quanto você puder e o quanto você desejar poder, que vai melhorar. Que vai ficar bem. E lute por isso. Esteja presente. Sinta. Seja. E nada mais.

Para o querido Victor. Que esse tempo passe mais breve do que um piscar de olhos.

Amanda Pofahl

5
dez

And the Oscar goes to…

Pra encerrar os meus posts neste ano, resolvi compartilhar uma lista pessoal com quem, assim como eu e meu marido, adora filmes. Cinéfilos assumidos, nós assistimos a uma extensa lista de filmes neste ano, dos mais diversos tipos e gêneros. A lista começou a ser confeccionada em março, mês do nosso casamento, e vai crescendo a cada dia que passa.

Compartilho a nossa lista com vocês. Claro que, todos os filmes Marvel da lista foram assistidos devido ao gosto do meu marido. Embora eu deva admitir que (culpada!) acabei gostando de alguns. Capitão América e Homem de Ferro são os meus favoritos (e da torcida flamenguista feminina também), mas quase dormi em Guardiões da Galáxia e Interestelar. Este último não é Marvel mas, na minha opinião, é uma ficção científica de quase três horas, que explica demais coisas que não precisam ser explicadas e peca completamente não explicando as que precisam.

Filmes 2014

Pra quem gosta bastante de romance e de chorar, com certeza absoluta A Culpa É Das Estrelas deve ser visto. Eu e todas as mulheres do cinema saímos com caras inchadas e maquiagem completamente borrada, soluçando. Por incrível que pareça eu também vi homens chorando no filme. Não é pra menos. A história é de um casal adolescente que têm câncer. Só aí já é complicado.

Não temos um melhor filme disparado, nós elegemos quatro como os melhores: 12 Anos De Escravidão, O Mordomo da Casa Branca, Blue Jasmine e O Lugar Onde Tudo Termina. São filmes inteligentes, daqueles que te fazem pensar a respeito de muita coisa, com histórias coesas e bem contadas,  sendo que os dois primeiros são baseados em fatos reais. Destes três, merece destaque O Lugar Onde Tudo Termina por ter nos surpreendido, já que não esperávamos muita coisa dele. O filme tem vários personagens principais, pulando de um foco para o outro e, mesmo assim, não perde o fio da meada. A história é envolvente e muito boa. Não vou dar detalhes para vocês tirarem suas próprias conclusões assistindo ao longa.

Na minha opinião, merecem destaque especial: Praia do Futuro, A Grande Beleza, Garota Exemplar, Ninfomaníaca (1 e 2) e Europa. Estes dois últimos são do Lars Von Trier, diretor que admiro demais. Claro que o meu marido não gostou muito de Praia do Futuro, mas vale a pena pela fotografia impecável. Praia do Futuro e Trash – A Esperança Vem do Lixo, também valem a pena pela atuação, como sempre sensacional, do brasileiro Wagner Moura.

Hora de falar dos piores: Teorema Zero, O Doador de Memórias e O Homem Duplicado nos decepcionaram bastante. Eles são diferentes de Godzilla, Tartarugas Ninja e Robocop, por exemplo, que você já vai assistir ao filme não esperando muita coisa além de efeitos especiais e pancadaria. Estes, os nossos piores do ano, foram eleitos pelo simples motivo que pareciam ser muito mais do que foram. Em Teorema Zero, usando as palavras do meu marido, os produtores deviam estar drogados quando produziram o filme, sem lógica, sem começo, sem meio e sem fim. Dá a impressão que ele quer ser absolutamente cult, mas sai errado e acabou ficando uma grande porcaria. Já O Doador de Memórias conseguiu ficar adolescente demais, tipo filmes da Saga Crepúsculo. O Homem Duplicado tinha tudo, inclusive diretor, pra ser muito bom, mas peca pela enrolação e pira.

Não sou nenhuma crítica cinematográfica, mas apenas compartilho as minhas opiniões aqui. Para quem quiser ver alguns filmes a que assistimos, segue nossa lista:

 Cinema

– Noé
– Capitão América
– X-Men
– Praia do Futuro
– A Culpa é das Estrelas
– Tartarugas Ninjas
– Godzilla
– Lucy
– 13º Distrito
– No Olho do Tornado
– Teorema Zero
– No Limite do Amanhã
– Transcendence – A Revolução
– Maze Runner
– Garota Exemplar
– Planeta dos Macacos: o Confronto
– Guardiões da Galáxia
– O Doador de Memórias
– Getúlio
– Trash – A Esperança vem do Lixo
– O Juiz
– Annabelle
– Drácula
– Interestelar

Em casa

– Ninfomaníaca 1 e 2
– 12 Anos de Escravidão
– A Menina que Roubava Livros
– Rush – No Limite da Emoção
– Robocop
– O Lobo de Wall Street
– Amante à Domicílio
– 42
– O Grande Hotel Budapeste
– Dose Dupla
– Gravidade
– Até o Fim
– Os Suspeitos
– O Mordomo da Casa Branca
– O Lugar Onde Tudo termina
– Capitão Philippis
– Mundos Opostos
– Invocação do Mal
– A Grande Beleza
– Elisyum
– Truque de Mestre
– Se Beber Não Case 3
– Círculo de Fogo
– Thor 2
– Blue Jasmine
– Django Livre
– O Grande Gatsby
– Trapaça
– Divergente
– O Cavaleiro Solitário
– Capitão América 1
– Vingadores
– X-Men
– Looper – Assassinos do Futuro
– A Queda
– Caçadores de Obras Primas
– Turistas
– Diamante de Sangue
– Batman – Cavaleiro das Trevas Ressurge
– Argo
– A Origem
– Encontro Fatal – September Tapes
– Terra Prometida
– A Vida Secreta de Walter Mitty
– O Homem Duplicado
– Invasão à Casa Branca
– Dose Dupla
– Malévola
– Europa
– Conselheiro do Crime
– Millenium: Os homens que não amavam as mulheres
– Mulheres ao Ataque
– A Hora Mais Escura
– Super Homem – O Homem de Aço

 Fabíola Cottet

27
nov

Nunca diga nunca

*Sugiro que leia esse texto ouvindo a música “Podres Poderes”, do Caetano Veloso.

Esse texto não é (apenas) sobre as minhas férias. Esse texto não é (apenas) sobre os lugares nunca3que visitei, as comidas que provei, as pessoas que conheci. Esse texto é (também) sobre civilidade, cidadania e memória.

Caminhei muitos quilômetros por Buenos Aires. Preferi fazer os trajetos a pé, para perceber a cidade, as pessoas e entender um pouco melhor a vida dos nossos vizinhos.

Em 15 dias encarei duas greves de banco, três manifestações distintas contra a Cristina Kirchner, a economia e sabe mais Deus o que. Também pude presenciar uma “virada cultural”, que reuniu mais de um milhão de pessoas nas ruas na chamada “noite dos museus”.

Um dos meus programas preferidos quando viajo é observar os muros das cidades. Realmente acredito que as paredes falam, ou que a sociedade fala por meio dos muros. Pelas inscrições conseguimos ter uma ideia bem clara do que pensa/vive a juventude, como vai a economia, em que pé estão as eleições, quais são os quereres do povo. Os muros são excelentes periódicos.

Muito comuns, as pichações e grafites que fazem referência aos anos da ditadura militar me chamavam a atenção, e sei como a memória dos argentinos com relação ao passado assombroso dessa época é muito mais viva que a nossa. Aliás, é viva.

Em um passeio pelo centro, no entanto, me deparei com um stêncil que dizia: “nunca digas nunca, um documentário sobre desaparecidos na democracia”. Foi como um soco na boca do estômago ao meio dia de terça-feira.

Não que eu seja ingênua de não saber que as pessoas desaparecem de maneiras mais escusas e estranhas pelas mãos de milícias, polícias e vai saber mais quem. Mas a questão é como tratamos disso no Brasil. Ou melhor, como não tratamos.

 Gente como o Amarildo, que some do mapa sem deixar rastros. Gente como os 43 estudantes mexicanos que não se tem notícias há semanas. Gente que, geralmente, tem muito a dizer e pouca ou nenhuma influência, e que apenas somem. E que nós, não nos importamos.

 Esse papo do “gigante acordou” para mim sempre foi uma balela, porque pelo que eu saiba, eu não estava dormindo, não. Nem eu, nem todas as mulheres que sofrem abusos diários nas ruas, nem os homossexuais, nem os negros, nem os pobres, nem as famílias desses desaparecidos, nem muita gente que sequer conseguiu dormir um dia.

 Me defrontar na rua com um chamado como o “nunca digas nunca”, me fez entender que não só não “acordamos”, como estamos muito longe de nos entendermos como cidadãos. Fiquei incomodada comigo mesma, com algumas de minhas escolhas e com muitas pessoas ao meu redor. Minhas férias foram como uma cirurgia de catarata, onde agora é possível ver a mim, ao meu povo, ao mundo, de maneira mais clara. Ainda que não seja uma visão otimista.

 Vou e volto com meus pensamentos e só consigo pensar nas palavras do Caetano. “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos”?

 Marina Oliveira. 

20
nov

Viva Lobão e Bolsonaro; impeachment e intervenção militar já!

Antes de iniciar de fato este texto algumas questões importantes precisam ser esclarecidas. A primeira delas é: o título do texto contém uma generosa dose de ironia! O segundo ponto é: essa não é uma questão partidária e não é um debate de ideologias políticas.

Duas manifestações recentes aqui em São Paulo chamaram muito a atenção nas últimas semanas. A primeira delas aconteceu no dia 1.º de novembro e reuniu cerca de 3000 pessoas, uma semana após a reeleição da Presidente Dilma; a segunda no último sábado, dia 14 de novembro e, segundo algumas informações da polícia militar e de alguns veículos de informação, reuniu entre 5 e 10 mil pessoas . Em comum nos dois protestos estavam os gritos contra o resultado das eleições presidenciais, o pedido de impeachment da Presidente Dilma e, pasmem: alguns desses manifestantes imploravam por uma intervenção militar já para afastar “a ameaça comunista” (já viram esse filme antes?).

blog talk

Há exatos 50 anos, em 1964, o Brasil passou por um golpe militar. A intervenção era, em tese, temporária, apenas para colocar ordem na casa e afastar uma tal ameaça comunista (cá entre nós, ameaça que nunca foi uma ameaça de fato). Mas a tal intervenção virou ditadura e durou sofríveis 21 anos!

O governo militar “salvador da pátria” calou, torturou e matou sem o menor constrangimento, centenas de brasileiros. Fora mais de 350 mortes confirmadas, mais de 25 mil presos e 10 mil exilados.

Pois bem… 50 anos depois lá estavam alguns brasileiros pedindo pra que a ameaça comunista seja expulsa do país. Entre eles os assustadores Eduardo Bolsonaro (filho do Jair Bolsonaro) e o cantor Lobão (que fez discursos de extrema direita, mas quando viu que a coisa estava ficando muito feia, passou a dizer que é contra qualquer tipo de intervenção militar).

As milhares de pessoas que foram gritar contra Dilma e pediram a tal intervenção militar só não entendem o quão incoerentes estão sendo.  O discurso é de que o governo atual é antidemocrático, que as eleições não foram justas e que um golpe de esquerda está sendo planejado. A partir disso então pedem uma ação ainda mais antidemocrática pra resolver a situação?

Nos dois protestos o deputado absurdamente recém-eleito, Eduardo Bolsonaro berrou aos microfones que os militares não batem em quem não faz besteira e puxou gritos de “Viva a PM”. Quer dizer que todas aquelas pessoas que na ditadura militar gritaram por liberdade e democracia e depois apanharam feito condenados estavam fazendo besteira? A liberdade para protestar que essas mesmas pessoas têm hoje só existe porque durante a ditadura outras pessoas “fizeram besteira” e deram a cara a tapa. Aliás, seu Bolsonaro foi à manifestação lá do dia 01º, fez seu discurso too irônico e radical, e foi flagrado com uma arma na cintura. Pra quê a arma na cintura, meu vilão???

Não acredito, sinceramente, que um golpe militar será imposto, mas o número de pessoas (desinformadas ou não) que clamam pela intervenção é muito grande e isso é lamentável. O discurso de hoje é muito parecido com o discurso apoiado por muitos em 1964. O resultado foi horroroso e o país inteiro deveria ter vergonha dessa página na história. E não me venham com aquela história dita por algumas pessoas mais velhas de que “no tempo dos militares as coisas funcionavam, havia menos violência e corrupção”. Isso é uma besteira enorme até porque com a censura que era imposta aos meios de comunicação, a população não ficava sabendo de nada ruim que acontecia no país.

Pode deitar sua cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. O país pode ficar bom ou ruim, mas certamente não vai virar Cuba ou Venezuela.  Tá na hora da galera parar de embarcar em qualquer coisa que vê na internet e, principalmente, parar de gritar por coisas que não têm a menor noção das consequências!

Lucas Reis