21
jan

Sobre aquilo que podemos evitar

Não sei se é por causa do inferno astral ou se porque, realmente, estou cada dia mais crica, mas a questão é que não consigo mais ler notícias. Deixa eu me explicar. Não consigo mais ler notícias, pois não há mais nada para ler.

Por conta da rotina, me informo pela internet. Acesso sites de notícias, acompanho as manchetes pelo Facebook, dou uma olhada nas linhas do Twitter e, cada vez mais, me defronto com um imenso Buzzfeed.

Não tem um dia que eu abra as redes sociais de grandes veículos e não tenha um post preguiçoso. Sabe aquela matéria que você não tem que entrevistar ninguém, que qualquer coisa que você escreva vai parecer real e que terá milhares de visualizações? Então, é disso que estou falando…

Listas e mais listas de vazio: 10 coisas que você precisa saber agora que é chefe. 10 livros que te ajudarão a ganhar dinheiro em 2015. Saiba quem foram as 50 maiores personalidades de 2014. Oito dicas para combater a insônia. Veja cinco pontos infalíveis para o bom relacionamento na empresa. Saiba se seu chefe te odeia em 13 passos. É só o que eu leio nas redes sociais de grandes veículos.

Lembro de ouvir repetidas vezes enquanto criança os versos dos Titãs dizendo que “a televisão me deixou burro, muito burro demais”.  Hoje percebo que esse sentimento também se aplica às redes sociais. Por que cazzo nós, jornalistas, não conseguimos nos aprofundar? Por que não apuramos os fatos? Por que pedimos para a assessoria de imprensa conseguir personagens para nossas matérias? Por que as fontes não são boas o suficiente para propor discussões sobre o tema? Por que tenho que estar conectado o tempo todo? Por que fazer listas de coisas desinteressantes e achar que estou exercendo meu papel de jornalista?

Será que somos nós ou é o público quem não consegue ler e interpretar uma matéria e prefere ver listas infindáveis sobre coisas irrelevantes? E se for isso, por que não nos propomos a fazer jornalismo acessível e de qualidade sem ter que criar rankings estúpidos. Apurar, entrevistar, pensar em pautas, trazer depoimentos, dados, números, ideias, discussões. Por que temos que ser paladinos da justiça ao invés de simplesmente sermos jornalistas?

Enquanto não temos essas respostas, te proponho um exercício: não clique nessas listas. Não escreva nada nos comentários, não dê audiência para esse tipo de conteúdo. Se for inevitável, por favor, não ache que é tudo verdade. E depois, podemos fazer uma lista das 50 listas mais engraçadas/bobas/interessantes que tivemos acesso. Que tal?

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