Assisti no final do ano passado ao Sem Pena, um documentário impressionantemente inteligente sobre o sistema penitenciário brasileiro. Depoimento soco no estômago vai, depoimento chute no joelho vem, a fala de um sujeito (eram só as vozes, sem mostrar o rosto) sobre a hipocrisia dessa modinha da inclusão enquanto, na verdade, queremos mais é que os diferentes se explodam, de preferência longe de nós.
Era bem mais que isso a teoria do cara que, no final, foi identificado como um filósofo. Meu filho, estudante de Filosofia, explicou que a base do argumento era nietzcheniana. Show.
Reflexiva, na saída do cinema fiquei pensando na raiva dos tucanos contra os petistas (e vice-versa), de torcedores chamando jogador de futebol de macaco e, o que vem me tocando mais, no preconceito dos curitibanos contra os imigrantes haitianos. Os refugiados se espalharam pelo Brasil inteiro. Mas, até onde sei, só aqui eles estão tendo efetivamente problemas. Sofrem preconceito pesado, são considerados foco de ebola pela ignorância dos que não têm a menor ideia de onde fica o Haiti – ou de onde vem o vírus -, falam idiomas – no plural – diferentes do Português.
Mas o pior mesmo é que eles são pretos retintos. Numa cidade em que bronzeado de praia já é quase ser um negro zulu, a cor da pele dos haitianos arrepia pelos polacos. Na dúvida, Curitiba não hesita. Rechaça. Nascida aqui, sinto vergonha. E, assim como todo mundo, não faço nada.
Karin Villatore