Era uma sala pequena e Jan Paul Paladino, o co-piloto do Legacy que colidiu com o Boeing da Gol, estava depondo havia quase duas horas. Ao lado dele, o advogado brasileiro e o advogado norte-americano. Em frente, os dois jornalistas norte-americanos. A repórter da Globonews guardou para mim uma cadeira que dava de frente para Paladino. Passei o interrogatório todo o encarando. Afinal, eu estava ali representando os familiares e amigos das vítimas.
Paladino é o homem mais frio que já vi. Nos intervalos da audiência, ele me encarava de volta. Não pareceu sofrer em nenhum momento do depoimento. Tinha tudo decorado. Todas as mentiras, todas as desculpas. E em nenhum momento demonstrou culpa pelo acidente que ajudou a causar. Um monstro. Assustador.
Na saída do interrogatório, confrontamos pacificamente Paladino com faixas que diziam “Por que você está feliz?”, com uma foto dele e de Lepore sorrindo. Ele nem assim esboçou uma reação.
Confesso que me senti muito mal com a presença de Paladino. Tive vontade de chorar, não consegui comer naquele dia e nem dormir. Mas o que me impressionou muito foi a solidariedade da imprensa brasileira. Torciam silenciosos por um tropeço no discurso decorado de Paladino, não reclamavam das horas a fio sem comer, os que estavam lá fora esperando por uma imagem do piloto aguentaram firmes o frio abaixo de zero. Era como se houvesse uma corrente de apoio de todos os brasileiros presentes, um sentimento até citado no dia seguinte na matéria do The New York Times, quando o jornalista relata que parecia que o Brasil estava mobilizado por esta causa. Ali em Long Island, em frente à Corte Federal, estava mesmo.
Karin Villatore