Quando eu trabalhava na Volvo Car eram comuns as viagens ao exterior para acompanhar grupos de jornalistas que testavam carros, reuniões mundiais com as Assessorias de Imprensa da empresa, encontros de aproximação com a imprensa dos outros países do Mercosul e visitas às feiras de automóveis da Europa. Tudo absurdamente bem organizado, como é típico dos suecos.
Fazia alguns anos que eu não viajava para fora do Brasil a trabalho. No final de março quebrei o jejum de um jeito bem intenso.
Desde janeiro atendemos a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907. Para quem não lembra, foi aquela tragédia da Gol que aconteceu em 2006 e que foi causada pela imperícia de dois norte-americanos que pilotavam um jato Legacy. O nome deles: Jan Paul Paladino e Joseph Lepore. Todas as 154 pessoas que estavam no Boeing da Gol morreram. O que aconteceu com Paladino e Lepore? Nada! Aliás, eles voltaram irregularmente para os Estados Unidos, nunca foram presos e são pilotos até hoje, um na American Airlines e outro ainda trabalhando com o Legacy.
Até o dia 25 de março, uma sexta-feira, o primeiro interrogatório com Paladino e Lepore estava agendado para acontecer na Embaixada Brasileira em Washington, capital dos Estados Unidos, nos dias 30 (quarta-feira) e 31 (quinta-feira) de março. Sim, desde 2006 eles nunca tinham sido interrogados. Até então, estava previsto que eu iria acompanhar a audiência de Brasília, por meio de uma videoconferência, e teríamos uma equipe fazendo uma vigília em Washington. No final da tarde daquela sexta-feira veio a notícia: o interrogatório tinha sido transferido para Nova Iorque, mais precisamente para Long Island, cidade na qual vivem Paladino e Lepore. Ou seja, a audiência aconteceria no “quintal” dos pilotos. Mudei rapidamente minhas passagens. Domingo embarquei para Nova Iorque.
Karin Villatore