Quando temos noção real do que são os outros países, dificilmente chegamos a uma conclusão positiva a respeito do Brasil. Eu sou brasileira, nasci e cresci aqui, cidadã que paga seus impostos (e quantos são mesmo?) e, até pouco tempo atrás, defendia bastante o pedaço de terra que chamamos de pátria. Mas alguns acontecimentos recentes me fizeram mudar de opinião.
No ano passado viajei para o que é considerado o interior da Hungria: Szeged. Fui a trabalho, mas conhecendo a cidade no tempo livre, me apaixonei. Szeged é aconchegante e deve fazer parte de todo roteiro de viajante que quer conhecer cidades “desconhecidas”. Ela tem diversos bares e sorveterias ao ar livre, museus, transporte público impecável, uma vida noturna bem agitada no verão e outros diversos atrativos. Mas, o que mais me saltou aos olhos foi a beleza da arquitetura minimalista e elegante da cidade, pois tudo lá é um mimo. Bem decorado, impecavelmente limpo e iluminado, o centro de Szeged é uma atração à parte. Como se não bastasse, a cidade tem, nos campos ao seu redor, plantações e mais plantações de girassóis, paisagem que enche os olhos.
Neste ano eu e meu marido fomos para a Califórnia (sim, levar a vida numa boa, rs) de férias. Passamos por quatro estados dos Estados Unidos da América: Califórnia (Los Angeles, San Diego e San Francisco), Arizona (Flagstaff), Nevada (Las Vegas) e Geórgia (Atlanta). Isso sem contar a Highway 1 e a 17 Mile Drive, estradas que costeiam a costa Oeste do país, que são nas encostas das montanhas, banhadas pelo Oceano Pacífico, que fizemos de carro. Todos são lugares incríveis, com destaque maior, na nossa opinião, para San Diego, lugar que tem o embarcadero mais bonito que já vi, museus de sobra, zoológico (com panda gigante, urso polar e elefante), porta-aviões que virou museu… Enfim, se eu escrever aqui tudo, ficarei muito tempo falando das belezas do lugar. Só digo que, em todos os lugares, tivemos vontade de ficar. Mas em San Diego queríamos morar, criar nossos filhos e ter netos.
Confesso que a minha opinião sobre as terras do Tio San mudaram muito depois deste tempo lá. Eu era um pouco preconceituosa com relação aos norte-americanos, tinha aquela visão que todos eram selvagens capitalistas. Mordi a língua. Durante nossa estadia lá nunca faltaram com respeito conosco. Absolutamente todas as pessoas foram amáveis e simpáticas. Quando não puxavam conversa elas eram extremamente educadas. É um país de primeiro mundo, um carro básico e compacto é um Corolla e você enche o tanque dele com cerca de 20 dólares. Todos os lugares são impecavelmente limpos e toda a estrutura do país é pensada para pessoas. Aí você vai me dizer que no Brasil também é. Não, não é. Lá temos as higways (supervias de trânsito) que fazem o trânsito pesado fluir em vários sentidos e pra todas as direções. Lá temos acesso para deficientes em todos os lugares. A quantidade de banheiros públicos é surreal. Não basta ter banheiro público, ele é limpo, cheira bem e tem tudo de que você precisa: protetor do vaso sanitário, papel higiênico, sabonete na pia e toalha de mão.
Não, as coisas não são caras por lá. E o que é vale cada centavo do preço que se paga. Acho que nem preciso dizer que roupas, maquiagens, acessórios de beleza, cosméticos e produtos no geral são absurdamente mais baratos que aqui. A única coisa que perde é a comida, pois quase tudo é exagerado e sem um gosto e sabor definido, tudo com muito açúcar e gordura ou com muito sal e pimenta.
Uma coisa que me impressionou demais foi a educação do povo. Quando estávamos tirando fotos nos lugares as pessoas passavam pela gente, sorrindo e perguntando, carinhosamente, se queríamos que eles tirassem uma foto nossa juntos. Em todos os postos de gasolina, lojas, restaurantes, lanchonetes e mercados, nenhum vendedor fica em cima de você. Cada um vai, pega e paga, sem complicações. Tirando que em vários lugares existem os autosserviços de pegar e pagar, sem ninguém fiscalizando se você está pagando mesmo.
Enfim, só tivemos pontos positivos. O negativo foi chegar no Brasil, meu país, e ser mal tratada no aeroporto, gastar 130 reais de gasolina pra encher o tanque do carro, ficar sabendo que o preço do combustível subiu novamente, ver o IPVA, IPTU, contas e mais contas só aumentando. Enquanto isso, o governador aumenta o seu próprio salário, vereadores fazem gastos absurdos somente para a verba de gabinete ser mantida e quem tem que pagar a conta e o pato é o povo brasileiro. Pior ainda é saber que foi o povo que elegeu a corja de corruptos que lidera o país, o estado e a cidade.
Sei que ainda tenho esperança de que as coisas melhorem. Mas o Brasil não é um país de todos não, é um país para poucos.
Fabíola Cottet