Observando as pessoas em restaurantes, nas estações tubos, durante os trajetos de ônibus, conversas no Uber e Cabify, roda de conhecidos e amigos, família e a mim cheguei a conclusão da dificuldade que temos para exercitar a gratidão.
Ser grato não significa aceitar tudo da maneira como é posto. Gratidão é saber olhar para o que temos e ao nosso redor. Ser grato é saber valorizar e enxergar a realidade do próximo. Gratidão não significa abdicar da ambição. Ambas podem – e devem – caminhar juntas.
É possível sermos gratos pela nossa profissão, por termos um teto, condições de nos alimentarmos, um armário com roupas que às vezes ficamos mais de um ano sem usar, por termos acesso a saúde, um transporte público que funcione ou condições de usar uma alternativa como Uber e Cabify. Enfim, valorizarmos o fato de integrarmos o seleto grupo de 1% da população mais rica do planeta. Acredite, se você está lendo esse texto, você faz parte desse grupo. Às vezes vivemos com muito mais do que precisamos e desejamos muito mais do que merecemos.
E é aí que entra a ambição. Mas aquela positiva…
Uma das coisas que move o ser humano é a ambição. Mas ela pode ser a vontade de ser alguém melhor, de ajudar a mudar o mundo a nossa volta, de contribuir para tornar a vida de quem está ao nosso lado mais digna, de sermos capazes de valorizarmos mais as nossas conquistas e as vitórias de cada um, de superarmos os nossos desafios.
A ideia aqui não é repetir um livro de autoajuda ou parecer hipócrita. Espero que não seja levada para esse lado. A minha reflexão se aprofundou quando ouvi a seguinte frase:
“O humilde é grato por ter menos que merece e mais do que quer. O soberbo tem mais do que precisa e almeja mais do que merece”.
E fez a ficha cair com esta matéria da Revista Galileu que fala sobre consumismo. Vou separar três trechos que conectaram tudo o que venho refletindo há algum tempo.
“De acordo com o Banco Mundial, os mais ricos, 20% da população global, abocanham 76,6% dos produtos. Já a classe média, 60%, consome 20% de tudo o que é produzido. O resto fica na (ínfima) conta dos mais pobres”
“A cada ano, a humanidade precisa de 1,7 planeta para se recuperar do uso excessivo de seus recursos naturais e da poluição causada por ela mesma, como revelam os cálculos da Global Footprint Network, responsável por avaliar os impactos ambientais gerados por alguns países”
“795 milhões de pessoas no planeta que ainda passam fome não sabem o que é viver com abundância de recursos e, claro, não têm a menor chance de acumular nada, nem comida. Enquanto isso, a parcela endinheirada da população continua a reproduzir nosso instinto primitivo e consome quase todas as coisas produzidas no mundo”
O caminho para aprendermos a sermos gratos, humildes e ambiciosos na medida certa exige paciência, persistência, prática do autoconhecimento e reflexão. Tive a sorte de encontrar alguém que me ajuda muito nessa trajetória que é a minha esposa. Espero poder passar isso adiante e plantar essa semente para um futuro mais humano.
Eu já comecei a minha caminhada e você?
Beijos,
Wellington