Desde que me entendo por gente tenho uma imagem mental do calendário, da passagem do tempo. Enquanto o ano avança, é como se estivesse subindo uma ladeira suave e sempre em curva para a direita, de modo que quando chego em dezembro estou de novo no começo do mesmo caminho.
Em julho há uma ponte, e ainda que o mês pertença ao segundo semestre pra mim esse período só começa em agosto. Isso já me criou problemas. Nos tempos de editora executiva em redação de jornal – com mais funções de planejamento do que de jornalismo-raiz – quase perdia a hora para as pautas de balanço e de projeções.
Os feriados são portões de jardim, com portinhas arredondadas ornadas de flores. Uma visão romântica que nem combina comigo, mas foi o subconsciente quem criou, então devo ter uma alminha sentimental perdida aqui por dentro.
Os dias de aniversário das pessoas da família ficam nas margens desse caminho, como se fossem serzinhos felizes, quase emoticons, embora não amarelos, mas azulados, como um céu com nuvens claras.
Se você chegou até aqui e quer me passar o telefone do psiquiatra, espere mais um pouquinho, só para eu terminar de explicar. Essas imagens me acompanham desde sempre, mas só recentemente tive consciência delas. Foi quando percebi que à medida que o tempo passa vão entrando novos elementos nesse mundo vida loka da minha cabeça.
O tempo é uma beira de estrada e, agora, deram de aparecer umas esquinas e uns atalhos que nunca havia “visto”. Em setembro deste ano, por exemplo, houve uma curva acentuada, em 90 graus, e quando vi estava em outubro. Nem vi direito os portõezinhos dos feriados.
Olho para o calendário de papel e ele segue firme, em branco e marrom, sem se abalar com minhas ideias próprias de como se conta o tempo. Acho que é porque ele conta o tempo que passa e eu vou contando o tempo que falta.
Marisa.