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jul

Palavras são pequenas demais para descrever o amor pelas palavras

PalavrasVazias

Nos últimos anos comecei a pensar realmente em quanto gosto de palavras. Eu já desconfiava que gostava de ler e escrever quando escolhi o jornalismo como profissão, mas não imaginava que encontraria um jeito tão peculiar de adotar palavras específicas como prediletas. Inclusive predileta é uma das minhas palavras favoritas.

Eu me pego rindo sozinho das maluquices, bisbilhotagens e idiossincrasias presentes na nossa língua. Quando tenho fome, lembro dos quitutes e guloseimas preparados por minha vó, sempre em suas cumbucas de madeira. Na rua, a atenção se volta para os paralelepípedos e os períbolos, que nada mais são do que o espaço entre os edifícios e os muros.

As palavras me confortam em todos os momentos. Se estou rindo, elas podem expressar júbilo, deleite ou regozijo. Se triste, logo vêm para representar meu desalento, infortúnio e melancolia. Por sinal, esta última é o título de um ótimo filme. Contudo, se estou com raiva, as palavras parecem me faltar. Penso, repenso, trepenso…mas as minhas favoritas não pululam na lembrança. Droga! Somente dois dias depois é que me lembro dos substantivos requintados para referir-me ao indivíduo responsável pelo meu lamento, como: biltre, calhorda, paspalho e salafrário. Merecendo até um safanão.

É muito peculiar a forma como podemos montar um texto e titerear as palavras como personagens de um contexto muito maior. As palavras ‘fulguram’ na mente como chamas a bruxulear, sibilantes, sussurrando: sou importante. A pantomima da imaginação se desenrola de forma tão natural quanto um bordão. Eu me perco nos pirilampos sassaricando pelo pensamento e quase esqueço de voltar para a realidade mequetrefe. Tédio.

Infelizmente, atualmente, a minha mente somente se vê descrente com a crescente utilização de neologismos e estrangeirismos, principalmente na área da comunicação. Eles me incomodam tanto ou mais do que a você com a sensação de eco e repetição na última frase. É muito job, paper, meeting, call e budget para pouco afazer, artigo, tertúlia profissional, ligação e orçamento. Fico iracundo.

Porém, não declaro guerra a expressões em línguas estrangeiras. Aliás, diga-se de passagem, meu devotamento às palavras não se restringe ao português. Belezas como bibelot e wanderlust não se encontram todo dia. Até expressões como levar o Bernardo às compras, dos nossos irmãos lusitanos, têm lugar cativo no meu coração.

Deixe-me ir. Já perdi muito tempo. A procrastinação é uma presença constante nos devaneios diários. Já passei por tantas oscitações, paradigmas e clichês que voltar aos afazeres me parece tarefa hercúlea, tanto quanto soletrar a doença de quem aspira as cinzas de um vulcão: pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico!

Lucas Jensen

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