11
nov

Mercado de luxo cresce no mundo, mas ONU não tem dinheiro para comida de refugiados

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Criança no campo de refugiados de Dadaab, foto de 2011

Uma notícia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA), do último dia de outubro, me deixou aturdida. Ou bolada, como eu diria por aqui. Os órgãos da ONU anunciaram que iam reduzir em 20%, em novembro e dezembro – por falta de dinheiro –, as porções de comida de mais de meio milhão de refugiados no Quênia. Com a redução, as pessoas que dependem dessas doações para sobreviver não receberão o mínimo de 2.100 calorias diárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, mas apenas 1.680.

Três coisas me deixaram super bolada:

  1. A notícia em si;
  2. A falta de repercussão que ela teve – desde quando o fato de a ONU não ter dinheiro para mandar comida suficiente para seus atendidos deixou de ser interessante?
  3. As receitas do mercado de luxo, no mundo, irão crescer até 50% mais rápido que o PIB global até 2015, de acordo com a expert no assunto, a consultoria Bain and Company.

A comparação é óbvia.

Não há problema algum em quem ganhou dinheiro honestamente gastá-lo com o que quer, dentro da legalidade, seja ou não artigo de luxo. Dependendo de quanto dinheiro se tem, comprar, por exemplo, uma bolsa por R$30 mil ou R$1 mil é luxo, R$500,00 é luxo, R$100,00 é luxo. Mas vejo um enorme problema quando a comida é artigo de luxo e quando se comemora a expansão do mercado de luxo no mundo sem se lamentar a redução da comida dos refugiados no Quênia. Quando eu tinha 13 anos, já dizia em casa: nosso problema não é falta de dinheiro, é que quando se desperdiça de um lado, falta de outro.

O diretor do PMA para o Quênia, Ronal Sibanda, explicou em comunicado que fizeram o que podiam para evitar a medida de redução, que, espera-se, seja temporária, e foi tomada para que as reservas durem até o final do ano. Os campos de refugiados afetados serão os de Dadaab (perto da fronteira com a Somália) e Kakuma, situado na confluência das fronteiras do Quênia com a Etiópia, Sudão do Sul e Uganda.

O apelo aos doadores continua e o PMA precisa de pelo menos US$ 10 milhões para distribuir mais de 10 mil toneladas de comida. Os EUA darão US$ 20 milhões, que devem estar disponíveis no começo de março de 2014, por isso, o alerta pela falta de fundos para operar em janeiro e fevereiro.

Letícia Ferreira

4
nov

Quanto tempo o tempo tem?

relogio Você já teve a sensação de que o tempo anda passando mais rápido do que antes? Já usou aquela frase “parece que foi ontem”? Pois é, acredito que todos que tenham mais de 20 anos já tiveram essa sensação pelo menos uma vez na vida.

Existem algumas hipóteses que explicam o porquê de sentirmos isso. Segundo Zygmunt Bauman, estamos em um estágio “líquido” da modernidade, ou seja, nada é estável, tudo está sempre em constante mudança, nada é feito pra durar, nada é “sólido”. As modas, tendências, aparelhos e até os nossos relacionamentos estão se tornando cada vez mais descartáveis, e as pessoas trocam, substituem as coisas num processo muito mais acelerado.

A quantidade de informação que recebemos todos os dias e as tecnologias que nos mantêm conectados acabam influenciando nossa percepção de tempo. Quando menos se espera, o dia já acabou. Houve uma mudança no ritmo biológico natural.

Por outro lado, existem situações em que temos a impressão que o tempo não passa, como quando estamos assistindo a uma aula chata ou quando esperamos alguém chegar, ou na fila do banco, na espera do hospital etc. O tempo está ligado às nossas ações, o que fazemos, a forma como nos ocupamos. Para uma pessoa que mora em São Paulo, a percepção do tempo é a de que ele está mais acelerado, diferentemente de uma pessoa que mora em um sítio isolado no interior. Para esta, o tempo passa mais lentamente.

O tempo é um elemento fascinante de estudar e sobre o qual se pensar porque é uma das poucas coisas sobre as quais o ser humano não tem controle. Não podemos voltar no tempo ou avançar nele, assim como também não podemos pará-lo, ao menos por enquanto. Não existe passado, existem memórias, fotografias, vídeos de momentos anteriores. Podemos revê-los, mas nunca revivê-los. Temos que nos conformar que o tempo simplesmente é.

Gustavo Scaldaferri

30
out

O direito de resposta e o papel do Jornalismo

respostaO Senado aprovou o projeto de lei que regulamenta o direito de resposta por matéria ofensiva divulgada nos veículos de comunicação. A proposta agora será analisada pela Câmara dos Deputados. A justificativa para o projeto é que desde 2009, quando a Lei de Imprensa foi considerada inconstitucional, o tema não tem regulamentação. A principal queixa dos interessados na questão é que, na maioria dos casos, o direito de resposta só é concedido após decisão judicial. E, ainda, a garantia de resposta pode levar anos para ser concretizada, pois a determinação fica sujeita aos prazos do judiciário.

No projeto de lei, a pessoa que se sentir ofendida poderá solicitar em 60 dias o direito de resposta de maneira gratuita e nas mesmas proporções da matéria divulgada originalmente. Isso garante que, em termos de veiculação, o espaço utilizado para a resposta será o mesmo dado à matéria. Então, no caso de um veículo imprenso, se a publicação teve destaque na capa do jornal ou da revista, por exemplo, a resposta deverá ser veiculada com o mesmo destaque na página.

Ainda de acordo com a proposta, a retratação poderá ser solicitada por um representante legal ou por um familiar do ofendido, caso ele esteja fora do país ou impossibilitado de se manifestar. O veículo de comunicação terá sete dias para publicar ou divulgar a retificação. Caso contrário, estará sujeito a ação judicial. Nesse caso, se comprovada a ofensa, o juiz fixará data e condições para veiculação da resposta, que deverá ocorrer no prazo máximo de dez dias.

A Lei, se aprovada, também não impede que a pessoa ofendida entre com ação judicial contra o veículo de comunicação, solicitando restituição por danos morais. No entanto, determina que, para que haja o direito de resposta, a ofensa deve ser individualizada, sendo direcionada a um grupo, entidade ou a um único indivíduo, não incluindo resposta para comentários de leitores, como os que são publicados em portais de notícias. Além disso, a garantia de retratação não é válida para textos de opinião, desde que não seja feita uma acusação.

De maneira geral, a regulamentação não pode ser considerada uma iniciativa ruim. Afinal, não são poucos os casos de empresas ou pessoas que têm sua imagem expostas por matérias mal apuradas. Nesse caso, o direito de resposta é bastante válido, já que a retratação dificilmente acontecerá com o mesmo destaque que foi dada à matéria. A regulamentação seria mais uma garantia de que a pessoa/empresa poderá mostrar a sua versão a história, apresentando informações concretas, além de se defender de exposição negativa que denigra sua imagem.

Por outro lado, existe uma linha tênue entre o dever de resposta, que permeia a ética profissional do Jornalismo, e a repressão à liberdade de imprensa. A lei não deve se tornar um mecanismo que impeça os veículos de comunicação de ir atrás da notícia, apurando os fatos e mostrando a realidade e, muito menos, inibir a prática de investigação da notícia. O comunicador tem que ouvir os dois lados da história, mas também não pode ficar preso ao que diz a norma, limitando o trabalho do profissional de imprensa.

Assim como a Lei de Imprensa, promulgada na época da ditadura e julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009, a proposta de garantir o direito de resposta não pode servir como base para que os poderosos, diante de interesses pessoais, inibam o trabalho jornalístico de mostrar os fatos para a sociedade. Ao contrário, a lei tem que ser mais uma garantia de que vivemos em um país democrático, em que todos têm direito a se expressar, garantindo o acesso igualitário à informação.

Karin Villatore

Artigo publicado no jornal Bem Paraná, em 27/09/2013.

24
out

A polêmica sobre o resgate dos beagles

beagle Em meio aos inúmeros textos que li sobre o resgate dos beagles do Instituto Royal, um particularmente me chamou a atenção. O texto não opinava sobre ser certo ou errado a pesquisa em animais, mas questionava sobre qual a posição do homem na natureza. Será que realmente somos donos do planeta e nossa espécie, por ser dominante, tem plenos direitos sobre tudo que existe nele?

Achei bastante interessante o questionamento, pois há alguns séculos o homem também pensava ser dominante sobre a própria espécie, diferenciado pessoas por raça, crença e sexo. Na época, o pensamento comum era totalmente convicto de que outras pessoas eram inferiores. Fato que também foi abordado no texto.

Desde então, o homem evolui e começou a enxergar o mundo de uma maneira totalmente diferente, não existe pessoa superior à outra. Nesse sentido, somo iguais e desenvolvemos as mesmas habilidades intelectuais. Porém, em relação aos animais, ainda tomamos como certo a questão da espécie superior que, por essa definição, pode usar outro ser para satisfazer e auxiliar o nosso modo de vida. Será que isso realmente está certo? Será que ainda não evoluímos o suficiente para saber que o sacrifício de uma espécie não deveria justificar a sobrevivência de outra?

E questionando isso, não estou tentando dizer que a pesquisa científica é errada e que devemos deixar de ir atrás da cura de doenças e de outros avanços que possam melhorar a qualidade de vida das próximas gerações, por exemplo. Essa discussão é muito mais longa: é se ainda não conseguimos desenvolver métodos confiáveis para substituir os animas como cobaias na realização de testes. Não sou cientista ou pesquisadora para afirmar se isso já é possível, mas posso dizer que, como qualquer pessoa que apoia a causa animal, dói ver as carinhas daqueles cachorros resgatados. Perceber a apreensão nos olhos deles é muito difícil, por isso não condeno o resgate, mesmo que nas circunstâncias em que ocorreu. Talvez, se eu estivesse lá, também tivesse ajudado a retirar os beagles.

O lado positivo disso tudo é que o acontecido ajudou a colocar em pauta essa discussão e, quem sabe, fazer com que a comunidade científica repense certas práticas.

Luanda Fernandes

22
out

Qual é a sua desculpa?

feb06a8d-e7ad-495d-8841-d859157ac54f_What-s-Your-Excuse Uma californiana de 32 anos está sofrendo ciberbullying porque publicou uma foto dela e dos três filhinhos de 4 e 3 anos e de oito meses no Facebook. A ira das pessoas, pelo teor dos comentários, foi provocada pelo duo aparência da mulher – corpo jovem, bonito e malhado – e a frase acima dela: “qual é a sua desculpa?”. Como se ela dissesse: “se eu posso malhar e ficar linda tendo três filhos pequenos, você também pode, não me venha com churumelas”.

Mais de 16 milhões de visualizações depois, muito dos 12 mil comentários foi positivo, mas uma boa parte foi bem agressiva, chamando-a desde “perniciosa” e “falsa” até uma péssima mãe e agressora. Ela disse em entrevista ao Yahoo Shine que fazer outras mulheres se sentirem mal era o oposto do que queria e que a frase “qual é a sua desculpa?” é usada comumente em campanhas de fitspiration, como se chamam as campanhas que devem inspirar as pessoas a malhar.

OK, a frase é provocativa, talvez demais para muita gente, porém, não menos que fotos de cosméticos antiaging com mulheres com menos de 30 anos ou todas as edições de revistas de moda em que as mulheres – e os homens – são figuras impossíveis porque simplesmente não existem. Mas nada disso provoca, que eu saiba, explosões como algumas que atingiram a bela mamãe.

O que tem me ocorrido, e esse caso me fez lembrar, é que muita gente não se conforma que a maior parte do mundo gosta mais das pessoas tidas como bonitas na cultura da nossa era. E muitas dessas pessoas bonitas – o que nem foi o caso dessa mulher durante um tempo – não malham até cair, não passam fome, não fazem plástica, não usam photoshop nas fotografias, etc. Elas ficam velhas e morrem como todos, mas, até lá, são naturalmente bonitas e os demais, que não são considerados bonitos pela cultura vigente, precisam se conformar.

Não adianta ficar com raiva, inventar que todo magro tem bulimia, anorexia ou não sabe aproveitar a vida ou inventar que todo mundo que se arruma é fútil e raso, que toda pessoa bonita fez plástica, que todo mundo que faz plástica é ignorante, que quem malha e cuida da alimentação é neurótico… Enfim, exageros à parte em todos os sentidos, não adianta inventar que o bonito é feio. Há quem goste disso e daquilo, há quem seja assim ou assado e pronto. Mudar a cultura de uma era à força, com xingamento ou humilhando as pessoas não é legal. E não é legal para quem magro ou gordo, moço ou velho, bonito ou feio, cuidado ou desleixado. Além do mais, cada um sabe onde lhe aperta o sapato.

Letícia Ferreira

18
out

Celular: telefone também serve pra telefonar

celulares – Quantos megapixels tem a câmera deste? É androide? É touch? Ele é 3g? Tem gps? Dá pra baixar quantos aplicativos? Entra no site que eu quiser?

Essas foram algumas das perguntas que eu fiz para a atendente quando fui comprar meu celular. Tantos modelos, tantas cores, tantas coisas a mais . Na loja, eu olhava ao redor e mais da metade das pessoas aguardando estava com seus telefones portáteis na mão, se entretendo das formas mais variadas. Muitos dizem que isso tudo facilita nossa vida, a torna mais dinâmica, mais rápida, mais interativa. Todos somos bem informados agora.

Realmente as novas tecnologias têm surpreendido nas últimas décadas. Mas voltemos 10, 20 anos na história. Como eram os celulares? O que tinham de diversidade, de opções, de operadoras e de planos? E antes da invenção dos aparelhinhos, como as pessoas se viravam?

Tenho apenas 21 anos, nasci nesse meio tecnológico. Quando me dei por gente, já tinha um aparelho celular da Gradiente. Hoje, nem sei se essa empresa ainda fabrica celulares. Câmera? Nem passava pela minha cabeça. Telefone é uma coisa, câmera fotográfica, outra.  Aplicativos também não tinham. O máximo eram aqueles joguinhos da cobrinha e do paraquedas que tinham naquele famoso celular azul da Nokia que foi moda em meados dos anos 2000. Todo mundo achava aquilo extraordinário. Hoje, mais que ordinário, é lixo. Para alguns, já é relíquia. Veja bem, eu disse meados dos anos 2000, não dos anos 1900. Menos de 15 anos e já virou antiguidade.

Divaguei sobre tudo isso enquanto esperava ser atendido. Quando fui, comprei um celular com todas as funções pelas quais perguntei pra atendente quando cheguei à loja. Saí feliz da vida, estava novamente inserido na rede, inserido no mundo virtual. Fui ligar pra minha irmã pra contar a novidade, mas percebi que tinha esquecido de colocar crédito. Tantas funções que me esqueci da principal. Telefone também serve pra telefonar.

Gustavo Scaldaferri

16
out

Preguiça de gente

Ando com preguiça. Mas com uma preguiça um tanto quanto diferente: preguiça de gente. Mas não é qualquer tipo de gente não, é daquela que nos fazem evitá-la.

Daquela que só critica e não acrescenta. Daquela que sempre está certa e não aceita opinião alheia. Daquela que julga e se acha mais do que perfeita. Daquele tipinho que todo mundo conhece uma.

Acho engraçado tantas pessoas, por exemplo, fazendo apologia ao Português no facebook. Gente que não se dá conta de que também comete erros gramaticais (normal, porque, vamos combinar, nossa língua é muito complexa e difícil e quem não deixa passar um errinho de vez em quando?) e posta incansavelmente como os Outros estão matando o Português. Não seria mais fácil corrigir de forma positiva a pessoa do que apenas ficar se achando o professor Pasquale?

Preguiça de gente que mantém a cabeça fechada à opinião, ideia, preferência alheia e teima em dizer que somente existe uma verdade e que os outros não têm ideia de como estão errados. Preguiça de gente que briga por futebol, religião, gosto, o que é certo, o que é errado, o que é bonito, o que é feio.

Afinal, não é o máximo termos opiniões diferentes, conhecimentos diferentes, nos ajudarmos e evoluirmos em prol da ascensão da humanidade em todas as esferas?

Enquanto isso não ocorre continuo tendo preguiça. Preguiça daqueles que mal olham para o próprio umbigo, mas teimam que são os mais espertos.

Thalita Guimarães

11
out

Ser criança

criançasChegamos ao Dia das Crianças. Essas datas são diferentes hoje! Na minha época, não lembro exatamente o que a gente fazia, acho que todos os primos se reuniam para aprontar algumas. Nossas brincadeiras favoritas eram jogar Stop (para quem não sabe, era uma brincadeira com bola e cada um gritava o nome de uma fruta), Bets e Caçador, andar de bicicleta e de roller, além de subir na árvore do vizinho, coisa de que ele sempre reclamava. Mas o maior desafio era pular valetas que, sim, naquela época existiam, e muitas, e sempre tinha um desafortunado que não conseguia pular e acabava dentro da valeta – a farra acabava naquele instante.

Claro, os tempos mudaram e hoje as crianças preferem outras atividades, estão muito mais interessadas em apetrechos eletrônicos. Além disso, o apelo comercial é muito mais forte do que quando eu era criança, e os pais têm que “se virar nos trinta” com a quantidade de brinquedo novo que surge a cada ano.

Isso me fez lembrar o diálogo de uma amiga minha com a filha dela nesta semana: a menina queria uma boneca chamada Baby Alive e fez dos sonhos uma artimanha para convencer os pais a comprarem o brinquedo. Ela dizia que gostava de dormir porque podia sonhar com a boneca, que brincava e dava banho na boneca. Então, minha amiga, muito inocente, perguntou se ela não sonhava com outra coisa – é nesse momento que você percebe que as crianças são muito mais espertas do que você imagina – e a filha respondeu: “eu também sonho com Deus ajudando o papai e a mamãe a comprar a minha Baby Alive”. Não preciso dizer mais nada não é?

Bom Dia das Crianças!

Luanda Fernandes

7
out

Que podemos, senão…

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“Sobre a Cidade” de Marc Chagall

 O ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre. Muitos não crescem e muitos não se reproduzem. Muitos só crescem no corpo e muitos não deveriam se reproduzir ou só se reproduzem porque é o normal, porque é bonito, porque não querem ficar sozinhos, porque acham que devem, porque querem.

A vida é dura, o mundo é cruel. Tudo passa. Há quem acredite que tudo acaba aqui. E daí? Há quem acredite que a gente vai e vem até virar não se sabe o que ou ir para o céu ou que a gente vai para o céu direto. Então para que aqui? Explicações…

Que nos resta?

Amar (Carlos Drummod de Andrade): “Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.”

Letícia Ferreira

1
out

2013

Neste ano de 2013, como todo mundo, já sofri, já sorri, já vivi. Em resumo, o ano seria assim:

Viajei, festei, chorei, me emocionei. Dirigi, corri, fiz dieta, comi. Presenteei, fui presenteada e comprei. Dancei, cantei, pulei, descolori. Chorei, perdi, enterrei. Adoeci, adoeceram, cuidei. Trabalhei.

Sorri, gargalhei, abracei, fui abraçada. Fui injusta, fui injustiçada, julguei, fui julgada. Fiquei de cama, defendi e fui defendida. Enterrei de novo, adoeci de novo, adoeceram de novo e enterrei de novo.

Ganhei, perdi, tive esperança, ela se foi. Senti saudade, recebi ajuda, ajudei. Perdoei, fui perdoada, perdi o chão, mas tive fé. Caminhei, refleti, mudei. Amadureci, cresci, li e assisti. De certa forma morri e revivi. Mas o mais importante: Amei, fui amada, vivi.

Thalita Guimarães