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jul

O legado da Copa do Mundo em ano de eleição

Depois de 32 dias, 62 partidas e muitos gols em cima da seleção brasileira, enfim, nossa vida volta ao normal. Só que não. Após a Copa do Mundo, vêm aí as eleições no mês de outubro e, depois de muito futebol, teremos que enfrentar as campanhas políticas para escolher os candidatos à presidência, senado, câmara dos deputados, governadores e assembleias legislativas.
E como tudo nesta época vira campanha eleitoral, os candidatos da oposição estão acusando os candidatos da situação de se autopromoverem com as obras da Copa. É aí que, então, na abertura e encerramento das festividades do mundial, eu vejo pela televisão a presidente ser vaiada a plenos pulmões pelo público, e realmente não entendo como isso pode ser chamado de ‘autopromoção’. Enfim, foi só um breve desabafo. Mas não é sobre este aspecto que quero tratar.
O que muito se fala após a Copa é sobre o legado que este grande evento deixou para o Brasil. As muitas críticas que o atual governo recebeu antes, durante e depois do mundial de futebol foram pelos altos gastos de dinheiro público com as obras das arenas e de infraestrutura para receber os turistas. Obras para inglês ver, como dizem. Em contrapartida, o governo enfatizou que a economia será fortalecida com o turismo, construções, investimentos estrangeiros e aumento das oportunidades de emprego.
Acredito que este evento nos deixou, sim, heranças negativas, as quais enfrentaremos após a festa, mas, sem dúvidas, deixou muitas heranças positivas. Apesar de todos os imprevistos, manifestações, depredações, atrasos nas obras, excessos de gastos e a imprensa nacional e internacional prevendo o pior, o Brasil superou as expectativas, fez a imprensa mundial mudar de opinião e foi um anfitrião exemplar.
Mais que o legado físico deixado com as arenas e as obras ao entorno, o legado humano talvez seja o que merece mais destaque entre as heranças deixadas pelo mundial. Denominada como a ‘Copa das Copas’, o país surpreendeu o mundo nos quesitos organização, estrutura para receber os turistas e, principalmente, pelo público brasileiro que recepcionou muito bem seus visitantes. Desde o começo acreditei que o Brasil seria um exemplo de anfitrião, e assim foi. O temor com os protestos que poderiam assustar o mundo e espantar os turistas foi abafado pelo entusiasmo brasileiro que entrou no clima esportivo. As poucas manifestações que ocorreram foram pacíficas e as esparsas ações de vândalos foram logo contidas pela polícia, atenta e preparada para esses casos.
Os impactos econômicos ainda não foram medidos após a Copa, mas a reputação do país perante o cenário mundial foi reforçada com uma imagem positiva mostrada pelo Brasil com o bom andamento do evento. E, politicamente, tal fato pode gerar interesses em investimentos por parte dos países estrangeiros, o que faz crescer a esperança de ganhos econômicos no futuro.
E o que isso gerará de benefícios concretos para povo, no sentido de redução da pobreza e investimentos em serviços básicos como saúde, educação, emprego e saneamento para regiões pouco abastecidas? Impossível prever. Como também é impossível não atrelar o desempenho de um evento esportivo deste porte com interesse políticos. É bem provável que o sucesso de um evento como a Copa do Mundo seja usado para promover o governo federal durante as campanhas políticas, ainda mais com a chegada dos Jogos Olímpicos que ocorrerão em 2016, no Rio de Janeiro.
Em ano de eleição promessas virão, políticos se mostrarão contra e a favor destes eventos. Mas, para mim, o que merece ser levado em conta é o povo deste país que, apesar de todas as adversidades, tem a força e a perseverança para fazer dos problemas uma motivação para se superar e destacar. Após a Copa, é hora de fazer valer nossos direitos e exercer a nossa cidadania através do voto para mudar o que está errado. Não depender de grandes eventos para mostrar ao mundo que este é o país do futuro e que vale a pena investir aqui.
Agora, sim, é a hora de utilizar a força do gigante que se fez presente nas manifestações no ano passado, de uma forma pacífica e inteligente para mostrar ao mundo que este país não é só futebol e festa, mas também uma federação engajada e interessada em aplicar os benefícios advindos com a herança desses megaeventos esportivos e de todos os outros que virão. Parece utópico pensar desta maneira, mas, se não tivermos esperança, o que nos sobra? Somos brasileiros e não desistimos nunca…

Aldy Coelho

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