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Ghost Writer

Em uma agência que trabalhei em São Paulo tínhamos o hábito de, toda sexta-feira à tarde, sentar por uma ou duas horas para discutir questões gerais ligadas à comunicação. Às vezes profissionais eram convidados para palestras e, na maioria das situações, a equipe interna é quem dava o tom das discussões. Lembro de um debate que tivemos sobre como tínhamos que, de uma certa forma, incorporar a linguagem de cada um dos clientes.

Seria algo como, grosso modo, você ir a uma região e começar a falar com o sotaque local. E na reunião lá da agência concluímos que nossa capacidade quase camaleônica de adaptação representava, em muitos casos, o sucesso do trabalho. Veja lá você que, de repente, não trabalha em uma agência de comunicação como a nossa: um jornalista ou um relações públicas atende dois, três, quatro empresas ao mesmo tempo. Cada uma de um setor, com seus termos técnicos, seus padrões de vestimentas corporativas, suas normas, seus tabus, sua cultura. E aí você se torna a pessoa que vai escrever os textos em nome dos representantes dessa corporação, falar com os jornalistas (e, consequemente, com a opinião pública) sobre as questões próprias desta empresa, zelar por sua imagem.

Para escrever um artigo de opinião, por exemplo, é muito comum sermos o ghost writers. Temos, então, que tentar puxar pela memória quais são os termos mais comuns que a pessoa que está assinando o texto usa, de que forma ela costuma se expressar, como ela faria este ou aquele argumento. É como se fôssemos meio atores nesta representação linguística. Um exercício bem desafiador, mas que dá um tom sempre bacana e estimulante ao nosso trabalho. Já tinha pensado nisso?

Karin Villatore

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