Estudei a vida toda em um mesmo colégio. Lá formei minha base educacional, mas muito mais que uma experiência acadêmica forjei ali minha personalidade. Posso dizer, sem sombras de dúvida, que foi entre os muros da escola que fiz os melhores amigos e tive as memoráveis experiências de infância e adolescência.
Quando me casei, meus padrinhos foram os amigos da escola. A cerimônia, inclusive, foi no restaurante de um dos amigos da época de colégio. Nos vemos com menos frequência do que gostaríamos, mas com a mesma intensidade dos anos 1990.
Essa semana, uma das minhas mais fieis amigas assumiu um posto de responsabilidade em seu trabalho e, no mesmo dia, meu grande irmão que se aventura pelas bandas dos Estados Unidos também me acenou com boas notícias profissionais e pessoais.
Outra, não tão satisfeita com o trabalho atual, pensa em se jogar num mundo autônomo. Ela já passou por lugares para lá de distintos, desses que fazem brilhar um bom currículo. Ela é, de longe, a mais brilhante de todos nós.
Ainda que um pouco mais distantes por conta da vida, tenho um cá e um lá que são azes em suas profissões: publicitário e nutricionista. Todos provindos de um mesmo habitat, a escola.
E então ontem, depois de dar um abraço forte na amiga que foi promovida fiz o exercício de pensar que “demos certo”. Todos nós, um a um, fizemos escolhas dignas. Não tanto profissionalmente, apesar de individualmente irmos muito bem, obrigada, em nossos postos de serviço. Mas mais, muito mais por sermos quem somos.
Esse ano, em que promessas, alianças e acordos são feitos e desfeitos como quem vai à feira comprar batatas, penso que estou cercada por gente honesta, verdadeira e responsável.
Me surpreendo sem me surpreender sobre casos de alunos esfaqueando professores e essa relação íntima que existe no Brasil de transferir a responsabilidade de dentro de casa para a sala de aula. Ou de achar que a responsabilidade/culpa/salvação dos nossos problemas é, exclusivamente, do governo.
Ou ainda que o inferno é – sempre – o outro. Que não há relação entre chamar alguém de macaco e a sociedade dispare em que vivemos. Achar normal que uma ofensa seja proferida pelo “calor do momento”. Que tratar as mulheres como objeto é natural, pois assim dita a publicidade. E, por fim, bradar pelos valores da “família”, que até hoje tento entender do que se trata e onde vivem.
Me surpreendo sem me surpreender que, ainda bem, tenho esses amigos que me ajudam a acreditar num amanhã sem transferência de responsabilidades. Assumindo aquilo que nos cabe.
A educação do seu filho é problema seu, mas é meu também. Assim como a separação do lixo, ceder lugar no ônibus para a gestante e o senil, respeitar regras de condomínio, de trânsito, de ambiente de trabalho. Isso tudo é exercer a cidadania tanto quanto escolher um candidato, votar nele e controlá-lo.
Precisamos entender que tudo faz parte de um mesmo processo e que as minhas escolhas afetam você. A responsabilidade para com o nosso futuro, pessoal, é sua, minha e dos nossos amigos.
Marina Oliveira