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2
out

Superação

Há 10 meses (período em que voltei a trabalhar aqui na Talk) atendo a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa). Não tive muito contato direto com os atletas em um primeiro momento, pois a maioria deles ainda treina em São Paulo, na Universidade de São Paulo (USP). Sempre conversava bastante pelo telefone e também por meio de um jornalista que temos lá para agilizar o processo, o nosso colega Lucas Reis.

Fernando Fernandes

Pois bem, em julho eu fui, juntamente com alguns atletas, para Szeged na Hungria, como jornalista para cobrir o Campeonato Mundial Junior e Sub-23 de Canoagem Velocidade. Foi uma experiência incrível. Não somente por conhecer um lugar muito bonito e agradável, que jamais seria um dos meus destinos de viagem, mas também por conhecer a história dos atletas. Em sua maioria, histórias de superação, de gente que lutou bastante para chegar até ali. E convenhamos, a vida de atleta não é tão fácil como a maioria das pessoas pensa. Eles acordam cedo, treinam durante a manhã toda, almoçam, têm algumas horas de descanso e depois, treino novamente. E vamos combinar que ficar sentado ou ajoelhado em um caiaque ou canoa, remando o tempo todo, é para os fortes. Engana-se quem pensa que o treino é só na água. Eles fazem condicionamento, corrida, musculação e outras atividades físicas. Até para quem já faz exercícios, como eu que treino há seis anos, olhar a rotina deles cansa. Imagine para os sedentários de plantão…

Voltando para o Brasil, no último final de semana (25 a 28 de setembro), fiz a cobertura do Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade e Paracanoagem, que aconteceu no Parque Náutico, aqui em Curitiba. Neste evento eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente os atletas da paracanoagem e acreditem, me emocionei profundamente. Tetracampeão mundial de paracanoagem e campeão brasileiro de canoagem velocidade ao lado de três canoístas sem qualquer deficiência, o ex-BBB Fernando Fernandes chamava a atenção por onde passava. Sorriso imenso estampado no rosto e um carinho sem tamanho com as crianças, ele tirava fotos, dava autógrafos e saía por aí, espalhando bons dias e boas tardes para quem passasse por ele, que empurrava a sua cadeira de rodas em meio ao barro e chuva (choveu muito durante os dias de Campeonato, o que dificultou, mas não impediu a realização do evento).

Fernando não pode andar desde 2009, quando sofreu um grave acidente de carro. Assim como ele, cerca de 65 paratletas estavam presentes no Campeonato, todos com histórias de vida de tirar o chapéu. Kal Brynner, assim como Fernando, tem sorriso fácil. Falador, me contou quase sem respirar toda a sequência de fatos desde o acidente de carro que o deixou paraplégico, em 2008, até a descoberta da canoagem por ele, há um ano e meio.

Kal foi convidado por um amigo para remar no lago, em Brasília. Ele me contou que quase não conseguiu sair do lugar na primeira vez: “Morri de medo quando entrei no caiaque, pensei que ia me afogar. Mas meu colega disse que eu tinha força, que era para continuar e eu continuei”. Tá aí uma coisa que muita gente, sem nenhuma deficiência, não faz: continuar, insistir, tentar, sonhar. Kal, assim como Fernando, saía por aí distribuindo gentilezas. Ele deu duas entrevistas para emissoras de TV e sempre me perguntava se tinha ido bem na fala. Claro que ele foi, foi tão bem que encheu meus olhos de água e eu me segurei para não chorar ali mesmo.

O que vi no Brasileiro pode ser muito bem definido como lição de vida. Hey, você aí, para de dar desculpas e reclamar de tudo. Levante da cadeira e vá à luta! Amigo, esses caras aí, esses paratletas, eles conseguiram ser campeões brasileiros sem andar, pode ter certeza que você consegue começar a academia, você consegue achar um emprego, você consegue começar aquele curso que quer fazer há anos e dá a desculpa que “está sem tempo”. Isso serve também para mim. A vida é maravilhosa e apesar de todos os obstáculos e coisas ruins desse mundo, ainda há muitos motivos para sorrir e dizer: vale a pena! Afinal de contas, até onde sabemos, só vivemos uma vez. Então, aproveite!

 

Fabíola Cottet

25
set

Elis, pra sempre Elis

A vida é um grande espetáculo. Não é por menos que autores como Shakespeare e Nelson Rodrigues escreviam tão bem a realidade de sua época em forma de teatro. E o que acontece quando um artista se transforma em um espetáculo de sua própria vida? Ou, ainda, quando a sua existência transcende a vida humana, transformando-se em uma obra artística que sobrevive ao tempo?elis

No último final de semana fui assistir ao espetáculo “Elis, a Musical”, uma produção baseada na obra de Nelson Motta e Patrícia Andrade, com direção de Dennis Carvalho e que esteve em curta temporada no Teatro Guaíra. No palco, eram mais de 25 pessoas, entre atores e músicos, e outras 300 pessoas envolvidas na produção que recria em dois atos as diversas fases da vida desta cantora que, mais de trinta anos após sua morte, continua sendo a maior cantora do Brasil.

Nesta montagem, o que mais impressiona é, sem dúvida, a personagem título, pois quem vai assistir ao espetáculo espera ver uma grande Elis Regina. E confesso, deu até medo. Nós, atores, evitamos usar o termo “encarnar a personagem”, para não resumir uma peça de teatro a uma simples sessão de mesa branca. Afinal, o processo de construção de personagem é um estudo complexo que exige conhecimento, técnica e talento. Mas, nesse caso, a interpretação da atriz Laila Garin, que disputou o papel com outras 200 candidatas, chega a seduzir e iludir o espectador, tamanha é a semelhança na aparência, voz, gestual, postura e até a maledicência natural da personalidade de Elis.

Isso denota um talento incrível da atriz, uma equipe de caracterização primorosa e um processo intenso de imersão na vida e na obra da artista, com aulas diárias de canto, interpretação e expressão corporal. Tudo para recriar com perfeição momentos da artista em cenas famosas como a sua participação no Festival de Música cantando “Arrastão” com Jair Rodrigues (também perfeito!), “Águas de Março” com Tom Jobim, e a mais impressionante cena, digna de fechar o espetáculo com chave de ouro: a entrevista concedida por Elis ao programa “Ensaio” da TV Cultura, em 1973.

Em vários momentos, fechei os olhos para ter a sensação de estar ouvindo a própria Elis Regina cantando ali, a poucos metros de mim. Das cinquenta músicas cantadas, em 3 horas de encenação, pelo menos quarenta músicas foram interpretadas por Laila, a Elis do musical. A atriz conseguiu me encantar a ponto de eu querer chegar perto, tocá-la, sentir aquela Elis de verdade e mais viva do que nunca.

Ao final do espetáculo, no fim da cena da entrevista, a atriz, com figurino idêntico ao usado pela cantora na ocasião, retira a flor que enfeita seus cabelos curtíssimos, coloca na cadeira e sai de cena, deixando somente a cadeira e a flor iluminada por um único foco de luz, enquanto os demais atores entoam a música “Redescobrir”. Nesse momento, o pensamento inevitável é: por que a genialidade do artista sucumbe à realidade? Será esta vida tão incompreensível às mentes brilhantes? Será por isso que, como diz Renato Russo, os bons morrem jovens?

Logo, o pensamento é interrompido com a vinda de todo o elenco, cantando alegremente e agradecendo a presença do público, até que a última a entrar em cena para agradecer é ela, a atriz-Elis-Laila, desta vez para acabar com qualquer ilusão criada desde o início, fazendo o espectador cair em si e entender que a personagem não é a atriz, e que o teatro não é a realidade. Laila retorna ao palco sem a peruca curtíssima e, como se tivesse deixado nos bastidores o corpo e o espírito da personagem, se mostra completamente diferente, com seus longos, loiros e encaracolados cabelos.

Sai do Guaíra em estado de graça e ainda mais apaixonada pela arte teatral, a única que tem o poder de envolver e surpreender até mesmo quem conhece o que há por trás das cortinas.

Aldy Coelho

 

17
set

Pra Gra

Quase um tiro nas costas ter recebido a notícia antes de fechar o elevador. A voz do porteiro ecoou feito um chicote até a chegada do andar. Porta fechada no 81. Amaldiçoou por mil vezes ter se esquecido das chaves. Tia Mitiko atendeu a campainha com cara inchada. Seu pai morreu, querida. Abraço.

Nunca foi chegada a expressar sentimentos. E o cenário de chora mais quem pode deixa a moça constrangida. Procurou a mãe pela sala enquanto tentava fugir os olhos daquela multidão. Foi à funerária escolher o caixão, avisou o primo boçal de camisa polo.

Dava meio braço por um teco de whisky. Mas era tia demais para afogar mágoas num drink.

Sentou na poltrona do pai, a única vazia.

Karin Villatore

9
set

Divagações sobre ser alguém na vida

Estudei a vida toda em um mesmo colégio. Lá formei minha base educacional, mas muito mais que uma experiência acadêmica forjei ali minha personalidade. Posso dizer, sem sombras de dúvida, que foi entre os muros da escola que fiz os melhores amigos e tive as memoráveis experiências de infância e adolescência.

Quando me casei, meus padrinhos foram os amigos da escola. A cerimônia, inclusive, foi no restaurante de um dos amigos da época de colégio. Nos vemos com menos frequência do que gostaríamos, mas com a mesma intensidade dos anos 1990.

Essa semana, uma das minhas mais fieis amigas assumiu um posto de responsabilidade em seu trabalho e, no mesmo dia, meu grande irmão que se aventura pelas bandas dos Estados Unidos também me acenou com boas notícias profissionais e pessoais.

Outra, não tão satisfeita com o trabalho atual, pensa em se jogar num mundo autônomo. Ela já passou por lugares para lá de distintos, desses que fazem brilhar um bom currículo. Ela é, de longe, a mais brilhante de todos nós.

Ainda que um pouco mais distantes por conta da vida, tenho um cá e um lá que são azes em suas profissões: publicitário e nutricionista. Todos provindos de um mesmo habitat, a escola.

E então ontem, depois de dar um abraço forte na amiga que foi promovida fiz o exercício de pensar que “demos certo”. Todos nós, um a um, fizemos escolhas dignas. Não tanto profissionalmente, apesar de individualmente irmos muito bem, obrigada, em nossos postos de serviço. Mas mais, muito mais por sermos quem somos.

Esse ano, em que promessas, alianças e acordos são feitos e desfeitos como quem vai à feira comprar batatas, penso que estou cercada por gente honesta, verdadeira e responsável.

Me surpreendo sem me surpreender sobre casos de alunos esfaqueando professores e essa relação íntima que existe no Brasil de transferir a responsabilidade de dentro de casa para a sala de aula. Ou de achar que a responsabilidade/culpa/salvação dos nossos problemas é, exclusivamente, do governo.

Ou ainda que o inferno é – sempre – o outro. Que não há relação entre chamar alguém de macaco e a sociedade dispare em que vivemos. Achar normal que uma ofensa seja proferida pelo “calor do momento”. Que tratar as mulheres como objeto é natural, pois assim dita a publicidade. E, por fim, bradar pelos valores da “família”, que até hoje tento entender do que se trata e onde vivem.

Me surpreendo sem me surpreender que, ainda bem, tenho esses amigos que me ajudam a acreditar num amanhã sem transferência de responsabilidades. Assumindo aquilo que nos cabe.

A educação do seu filho é problema seu, mas é meu também. Assim como a separação do lixo, ceder lugar no ônibus para a gestante e o senil, respeitar regras de condomínio, de trânsito, de ambiente de trabalho. Isso tudo é exercer a cidadania tanto quanto escolher um candidato, votar nele e controlá-lo.

Precisamos entender que tudo faz parte de um mesmo processo e que as minhas escolhas afetam você. A responsabilidade para com o nosso futuro, pessoal, é sua, minha e dos nossos amigos.

Marina Oliveira

4
set

Em época de eleição, mais vale uma entrevista bem explorada ou um debate bem polemizado?

Ano eleitoral. Vários candidatos tentando expor suas ideias, suas promessas. Chegamos em um período em que toda semana vemos entrevistas individuais ou debates com postulantes aos mais importantes cargos do país. Somos bombardeados com conteúdos eleitorais vindo de todos os lados, em todas as mídias. Mas, será que esse excesso permite que a população tenha acesso aos pontos mais importantes das propostas de cada candidato?

Mais do que isso, pensemos: se analisarmos a propaganda eleitoral, as entrevistas individuais e os debates, qual das ferramentas é mais eficiente? Qual leva ao público eleitor as ideias principais de cada concorrente ao cargo (seja para presidente, governador, etc.)?

É difícil dizer que uma ferramenta é melhor do que a outra. Os debates são engessados, os participantes ficam limitados, muitas vezes os conceitos e as propostas não são debatidos de fato. Isso sem contar que, em inúmeras situações, a estratégia traçada por alguns candidatos é simplesmente atacar o adversário, deixando de lado suas próprias propostas. Alguém pode aparecer e dizer “mas isso é a política, meu caro. Assim é a política”. Sim, assim é e sempre foi. Mas não quer dizer que é o ideal. Sonho com debates em que os candidatos sejam obrigados a expor de fato suas ideias, seu planejamento, seus planos de governo. Mas como tudo por aqui vira brincadeira, os debates têm servido para que surjam piadas, montagens e memes da internet.

A vantagem das entrevistas individuais, como fez o Jornal Nacional, por exemplo, é que o entrevistador pode e deve “puxar” o entrevistado para o foco da pergunta, fazendo com que as questões sejam de fato respondidas. O grande problema de uma entrevista é que ela pode ou não ser tendenciosa. Pode favorecer ou desfavorecer alguém. E aí candidatos e público ficam nas mãos dos jornalistas. Aliás, não soa estranho que o Jornal Nacional receba tantos elogios por “tratar todos os candidatos igualmente” ao pressionar um por um em suas entrevistas? Isso é o mínimo que se exige. Mas sabemos que em outros tempos…

A grande questão nesses casos é: qual o tamanho do interesse de cada candidato em expor de fato suas ideias e mostrar ao público que eles podem ser bons governantes? Se houver realmente interesse, os debates, as entrevistas e até as propagandas eleitorais no rádio e na TV podem ser muito úteis. Mas, pelo jeito, a clareza de ideias não é prioridade dos candidatos por aqui. A impressão que tenho é que tudo que é passado pelos candidatos fica vago, não conseguem desenvolver os assuntos, se aprofundar em nada. Então, se você faz parte do grupo dos indecisos na hora de votar, terá um árduo trabalho para definir seu candidato!

Lucas Reis

28
ago

Amanhã é 29

Formatura 2Mais um ciclo da minha vida se completa. Mesmo tendo terminado a universidade já há alguns meses, o sentimento de encerramento vem amanhã, com a colação de grau. Daqui a um dia, serei oficialmente jornalista. A ansiedade pela festa já está aqui, apertando minha respiração e encolhendo meus ombros.

A solenidade, tão aguardada, me parece uma ruptura da vida de estudante, de menina, de filha. Mesmo sendo só uma formalidade, com a formatura vem a sensação de se tornar “gente grande” e de ter toda a liberdade do mundo. Vem também o medo do que vem a seguir, dos desafios futuros e de como lidar essa quebra de paradigma.

Com o fim da faculdade, acaba a obrigação, o roteiro a ser seguido. Não é o fim de meus estudos, pois quero continuar evoluindo e aprendendo até não poder mais, mas, de agora em diante, será tudo novo.  Sei que incertezas virão e que, assim como fiz em determinados momentos, questionarei minhas escolhas, mas isso não abalará a minha confiança de que tenho um futuro lindo à minha frente.

Dedico esta vitória aos meus pais, meus exemplos. Guerreiros, sempre vi neles a força para continuar em frente e conquistar vitórias. Por eles, sempre me dediquei aos estudos e terminei a faculdade com vinte anos. Não há palavra ou gesto no mundo suficientes para agradecer todo o esforço que eles dedicaram, durante todos esses anos, a mim e meu irmão. Sei que tive atitudes erradas, que muitas vezes falei sem pensar e não correspondi a algumas expectativas. Porém, por meus pais, segui em frente e evoluí. Eles me deram a melhor infância de todas. O maior amor de todos. E, por isso, esta conquista é toda deles também.

Amanda Pofahl

19
ago

Fã clube

Imagino que eu seja apenas uma dentre uma multidão de pessoas que considera a Maria Elisa (sim, a Ferraz Paciornik) uma pessoa maravilhosa. Também pudera. Mais do que raro a gente conviver com alguém tão acima da méFoto AAHC Karin e Mariadia.

Tive a sorte de conhecer a Maria Elisa há quase uma década, na Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas do Paraná. No discurso emocionado na posse para a presidência da Associação falou do filho Felipe, que foi salvo pelo Hospital quando nasceu e, anos depois, morreu em um acidente de carro. Hoje a UTI pediátrica do hospital tem o nome de Felipe.

Maria Elisa é do tipo que põe a mão direita no peito quando ouve o hino nacional, usa roupa colorida e não pinta o cabelo. Com a chegada dos netos Helena e Jaime recoloriu a vida.

Por onde passo vejo o nome dela registrado como membro honorária, premiada, conselheira, superintendente, mantenedora.  “Meus filhos Rui e Pedro costumam me perguntar quando eu vou arranjar um emprego que me dê algum dinheiro”, costuma brincar.

Brincadeira de quem já foi secretária de governo, criadora de Cidade Industrial, funcionária das Nações Unidas e de quem já trouxe multinacional importante para o Paraná.

Caso você ainda não saiba, Maria Elisa, uso você como um bom espelho. Eu e, imagino, uma multidão de pessoas.

Beijos,

Karin Villatore

14
ago

Teorias bizarras da conspiração

eduardo-campos-abreEstava aqui pensando sobre um tema bacana para escrever no blog nesta semana. Aí de repente o Eduardo Campos, candidato à Presidência da República pelo PSB, morre em uma tragédia de avião em Santos. No dia posterior à sua sabatina no jornal mais assistido no Brasil, o Jornal Nacional. Não é um tema bacana, mas não quero aqui falar sobre a morte do presidenciável em si, mas sim sobre a completa falta de ter o que fazer de algumas pessoas.

Antes da morte do pai de família se tornar oficial pela assessoria de imprensa do partido, quando tinha-se somente a notícia de que o avião tinha caído, já tínhamos memes no Facebook, imagens na internet com bizarrices, e coisas do tipo, incluindo todo o tipo de piada infame sobre a tragédia.

Não bastasse o humor negro, começam as pessoas que arquitetam teorias da conspiração mirabolantes, iguais as que dizem que a Copa estava vendida, ou que o Mundo ia acabar em 2012. As pessoas pensam que o PT derrubou o avião, que a Marina Silva fez um complô com a presidente Dilma e não embarcou pois sabia o que ia acontecer, que o piloto foi comprado e por aí vai. A mais absurda que ouvi é que, há dois meses, uma lei tornou sigilosa a investigação de acidentes aéreos no país. Claro, os psicopatas de plantão das redes sociais já ligaram uma coisa a outra, dizendo que a lei foi implantada com exatamente esta intenção: acobertar os verdadeiros culpados pela tragédia que aconteceria em breve. Aí quem é um pouco inteligente se pergunta: gente, se era para derrubar um avião, o mais correto seria fazer isso com o Aécio, não é mesmo?

Mas os absurdos não param por aí. Sou jornalista, mas fico pasma com o sensacionalismo exacerbado da imprensa. O pessoal começa a fazer infográficos e simulações de como o avião pode ter caído, de como foram os últimos minutos de voo, do momento da queda e de outras coisas que não vale nem a pena citar. Além disso, começam a investigar a família, cada cidade caça notícias e tenta achar uma maneira da tragédia ficar mais próxima, chega a ser quase lamentável.

Não sou jornalista de redação, mas como assessora de imprensa já atendi situações fortes de gestão de crise, inclusive em casos de acidentes aéreos. No mundo da comunicação, além do acidente aéreo já me envolvi com política, acidente com morte em terra e também uma morte trágica de atleta. Sei bem o que os assessores e família do Eduardo Campos devem estar sentindo. Não é o momento para fazer conspirações e criar teorias bizarras. O momento é de prestar condolências aos entes queridos e respeitar a dor e sofrimento dos familiares. Independentemente do que tenha acontecido ele não vai voltar.

Fabíola Cottet

8
ago

Casal Conectado

internetUma pesquisa na Holanda chegou à seguinte conclusão: ser viciado em internet faz bem para o casamento. Os pesquisadores acompanharam a rotina de 190 pessoas e simplesmente verificaram esse fato. A pergunta que eles não conseguiram responder é: por quê?

Se é pra analisar prós e contras, o distanciamento que o computador traz tem duas faces. É um mundo próprio, onde só há a pessoa, voyeur do mundo. Um ponto de fuga talvez? Uma tela a isolando de quem compartilha sua vida diariamente. Isso pode ter seus pontos fortes, como uma extensão do relacionamento, por exemplo, mas também pode arruinar todo o envolvimento do casal: “Querido, o que nós vamos fazer hoje?” “Ah, vai rolar um torneio de CS, topa?” Mais ou menos assim.

O distanciamento entre os pombinhos de hoje em dia já é grande por conta das horas de trabalho, trânsito, festas, almoços, entre outros eventos chatos que a vida em sociedade exige. Imagine, então, que nas únicas horas a sós, o que poderia ser um momento romântico vem a ser um momento virtual. Até na hora de dormir o computador está ali, presente na mesinha em cima da cama.

Sendo assim, será mesmo que cônjuges viciados em internet são realmente mais felizes? Os malefícios são superados pelos benefícios ou é preciso ser holandês mesmo para isso dar certo? Para refletir.

Amanda Pofahl

28
jul

Filosofia de botequim

bar_blog web

De certa forma tenho alguma conexão cármica com botecos. Meu tio-avô, um senhor de 81 anos e um passado de samba e futebol, sempre me levou aos botecos da vida. Filha de cientistas sociais, o que por si só já é um porre, sempre estive presente em discussões acaloradas sobre Marx regadas a garrafas de Brahma.

Sou nascida e criada no Água Verde, e desde pequena fui acostumada às mesas do Becks, Ball Bull, Colarinho, Zezitos e do saudoso Paca Tatu Cotia Não, que ficava escondido ao lado do João Turin, escola estadual mais bem frequentada do bairro.

Durante a adolescência ampliei meus horizontes e fui descobrir o Largo da Ordem. O Torto, o Sapo, Kitnet e tantos outros foram minhas moradas durante os anos difíceis da puberdade.

Optei por fazer jornalismo, profissão com maior grau de alcoolismo entre todas. Na faculdade, Kowalski era meu pastor e nada me faltou, amém!

Já mais velha, conheci o Barbaran, um reduto de jovens velhos como eu. Ontem, estive lá. Depois de um dia longo de trabalho cobrindo evento fui me despedir de meu pai, que já há alguns anos sem beber, parte agora para uma aventura europeia.

Estava entre família e amigos, e ainda que tomando apenas Coca-Cola – sim, domingo já se faz mais complicado para mim – essa atmosfera botequística me faz um bem danado.

As conversas, as risadas, as piadas, são parte do que sou hoje. Sinto que construí quem sou entre um vidro de rollmops e a carne de onça. Estou ficando metida é verdade, já não tenho paciência para lugares muito cheios, bêbados falando alto e dando vexame, e confesso: tenho investido em rótulos internacionais.

Casada, temos preguiça de sair e várias vezes transformamos nossa casa em boteco. Muitos amigos, risadas e a vantagem de podermos escolher a música.

Mas ontem, quando por um momento parei para observar esse organismo vivo que é o boteco, quiçá o melhor ambiente para se fazer estudos antropológicos e etnográficos, percebi como foi bom ter sido criada em meio a tudo isso. Menos pela questão alcoólica e mais pela sociológica, é verdade. O boteco ainda é um bom companheiro e viva o bolinho de carne!

Marina Oliveira