Tenho dificuldades para dizer não em situações que me desafiam. Isso não é uma qualidade, frequentemente deu errado e algumas vezes consegui me safar com poucos danos.
Podia ter me dado bem mal quando apliquei uma benzetacil no meu primeiro chefe. As variáveis eram assustadoras, mas a ignorância dá coragem. Então, sem nunca ter treinado sequer em uma maçã, misturei os birinaites da injeção mais doída do planeta e mandei brasa no braço da pessoa – que ainda agradeceu!
Nem vou desfilar aqui os muitos casos de minha insensatez – a maioria deles não merece vir a público por que ainda tenho alguma reputação a salvar.
Mas foi por sofrer dessa incontinência que neste ano corri o maior dos riscos para uma pessoa de vidinha mediana e medíocre como a minha. Fui parar em cima de um palco, cantando, dançando e representando. Quer dizer, tentando fazer tudo isso.
Claro está que não sou a única pessoa sem juízo na cidade. Eu era uma em um grupo de 29 amadores. Nossa sorte e fortuna residem no profissionalismo do maestro que nos deu essa missão.
Ele apostou no grupo e confiou que faríamos – não sem acionar o chicotinho, é claro, que nada vem de graça nessa vida; muito menos encenar uma versão da “Ópera do Malandro” num teatro lotado por 650 pessoas.
Parafraseio um dos antológicos versos do Chico Buarque para dizer como me sinto em relação a essa aventura: na vida, ou nos palcos da vida, a gente vai apanhar e sangrar e suar. E vai ser maravilhoso!
Marisa Valério