Certamente estamos mais estressados. Por mais positivos, gente fina e elegantes que sejamos, nosso cotidiano nos faz exercitar a paciência em doses cavalares. Depois da invenção das redes sociais, então, todo mundo virou corajoso e muito sincero. Atrás de um avatar, é possível brigar, esbravejar, falar aos quatro ventos palavras duras que ferem quem está do outro lado. Por isso, sou da opinião que a gentileza não é uma qualidade, mas uma obrigação.
Mas não me refiro à gentileza mecânica, aquela da educação primária. Por favor, com licença, muito obrigado são palavras básicas, necessárias para que convivamos em harmonia. Tratar bem está a milhões de quilômetros de tratar com cuidado. É que somos bastante egocêntricos, sejamos honestos, e justificamos nossas patadas porque, ora, não estamos num dia bom, está chovendo, o carro quebrou e o ônibus atrasou. Passamos por cima dos outros feito carros desgovernados, e ai daquele que vier de cara feia, que pra mim é fome.
Só que por mais romântico, bobo e ingênuo que possa parecer, nós esquecemos que cada um carrega sua própria cruz. Alguns, por sorte ou obrigação, criam uma espécie de resiliência, outros quebram de forma irremediável. A grande questão é que não dá pra saber.
E aí nós caímos na bobagem de achar que adultos sabem se defender. Gentileza se torna privilégio dos mais queridos. Aqueles queridos se tornam íntimos e a intimidade, veja só, se torna motivo para agredir. Então, nos esquecemos de nos colocar no lugar do outro, de levar em consideração as dificuldades, o repertório de vida, os traumas não superados. E não é necessário ser Madre Teresa de Calcutá para perceber que cada um tem a obrigação de ser gentil. Basta olhar por aí e notar que o mundo grita por gentileza, do menor para o maior grau.
É claro que não somos baratas tontas. Existem pessoas, dias e situações que pedem uma rispidez, um tom mais sério, até mesmo agressivo, porque gentileza não pode ser sinônimo de ingenuidade. Mas, talvez, a chave para a tão procurada harmonia ao nosso redor seja a empatia, atitudes leves e não bruscas, uma comunicação não tão na defensiva. Grosseria não pode virar hábito.
Rodrigo de Lorenzi