Acho que finalmente alcancei aquela idade em que mais se vive o tempo presente. O futuro não tem mais do que uns 12 meses, o suficiente para planejar uma viagem, começar a pagar as despesas, e finalmente ir e voltar, para começar tudo de novo em torno de outro destino.
Não tenho mais tempo para projetos de longo prazo. A casa que comprei é a que terei. Os filhos que tivemos são nosso legado para a espécie.
Há quem, nessa fase, escreva livros, salte de para-quedas, estude arte e aprenda a comprar vinhos.
Para a jovem que fui, o futuro não chegava nunca. Lembro da sensação de querer tudo agora e para ontem, e de só conseguir fracionar sonhos e desejos.
Para a velhinha que, espero, serei, talvez o presente vire abstração. Vejo os velhos com quem convivo presos a um passado que não está em lugar algum, órfãos de dias melhores que não virão mais.
O presente é uma janela que um pé de vento pode fechar a qualquer momento. Vou me debruçando nela enquanto posso. Aprecio a vista e a brisa, mexo com os vizinhos, especulo sobre as nuvens e elas me contam histórias de agora.
Marisa Valério