O Tempo e o Vento sopram e passam com as vozes das mulheres e dos violoncelos de Tom Jobim e nas aquarelas de Glauco Rodrigues, bagunçando os cabelos brancos de uma senhora louca que, no vai e vem da cadeira de balanço, fala com os mortos e ri dos vivos. Assim conheci a história aos 12 anos, na minissérie de TV, e fiquei impressionada e apaixonada para o resto da vida.
Os livros de Érico Veríssimo, no qual a minissérie foi baseada, conheci muitos anos mais tarde. E me impressionaram, apaixonaram, arrastaram na ciranda de histórias nas quais fui morar.
O filme, assisti na semana passada, na pré-estreia após coletiva de imprensa com o diretor, Jayme Monjardim, a atriz Marjorie Estiano, que interpreta Bibiana jovem, e o ator José Henrique Ligabue, o irmão de Ana Terra.
Não me apaixonei, nem me impressionei, nem fui arrebatada pelo espírito vibrante, melancólico e ardente da obra de Érico Veríssimo. As interpretações estão corretíssimas, Marjorie Estiano é muito boa, o elenco é ótimo, Thiago Lacerda está radiante como Capitão Rodrigo, Fernanda Montenegro (Bibiana idosa) dispensa elogios e o ator que apareceu para interpretar Pedro Missioneiro, o argentino Martín Rodriguez, é de primeira. As paisagens são autênticas, a fotografia é linda, enfim, é Jayme Monjardim e, por isso mesmo, não vai além. O próprio diretor explica, talvez se antecipando a qualquer comparação: “Não sou um diretor de filmes de arte, para dez pessoas assistirem e para mim mesmo. Sou um diretor popular. Não sou um diretor político, sou um diretor romântico”.
E o filme é isso: popular, romântico, correto, bonito. Faz as mulheres – e Monjardim gosta de agradar as mulheres, se diz um diretor que gosta de retratar o delicado universo feminino – chorarem e suspirarem. E cumpre outro papel que, diz o diretor, lhe é destinado: fazer os livros de O Tempo e o Vento conhecidos. É um resumão de Ana Terra, Um Certo Capitão Rodrigo e O Sobrado, os capítulos mais populares da obra. Um filme leve, gostoso e simples, como uma novela das 6.
Letícia Ferreira