Depois de passar 30 anos envelhecendo, fiz uma descoberta recente que me deixou muito animada: minha velhice passou. É isso, deu, mas já passou, foi uma fase.
Talvez volte, vou ficar de olho. Mas por enquanto sinto que ela se foi e já foi tarde. Os amigos da minha idade – algo entre 50 e 60 anos – conseguem entender, depois que me explico.
Os jovens me olham com aquela condescendência que reservamos aos desajustados em geral e sepultam comentários debaixo de uma risadinha. São jovens, mas não são burros!
Vou resumir aqui minhas razões. Como sabem os mais próximos, não pretendo morrer. Se acontecer um dia, paciência. Só não está nos meus planos.
Por isso, resolvi há algum tempo mudar de vida. Nada muito espetacular. O suficiente, porém, para me devolver a juventude. Emagreci e venci a síndrome metabólica, nome técnico para as doenças da obesidade. As chiques, como a hipertensão, o diabetes, a esteatose hepática, a hipercolesterolemia; e as de pobre, como a dor nos quartos, o esporão calcâneo e até a unha encravada…Que tudo dá em quem é gordo.
Pois muito bem. Livre do peso que levava nas costas, livre dos remédios de uso contínuo, livre da ameaça de morte precoce por obesidade, eis que descobri que estou jovem de novo.
A velha guria que havia em mim reapareceu em forma de disposição e humor. E veio com bônus, em doses extras de tolerância e resiliência.
É claro que tudo isso tem pouco a ver com o espelho, esse miserável, que só escondeu a passagem do tempo para o sortudo do Dorian Gray. De modos que resolvi ignorá-lo, não preciso muito dele. Dou aquela conferida no reflexo para ver se as cores estão combinando, se não estou saindo de casa com a saia presa em algum lugar, se o cabelo segue em seu escorrido padrão, e sigo adiante.
Eu e Benjamin Button, mais jovens do que nunca!
Beijos,
Marisa