Arquivo mensais:julho 2015

31
jul

A Massa Crítica

“A massa crítica de um material fissionável é a quantidade necessária para manter uma reação nuclear em cadeia autossustentada. A massa crítica de um material fissionável depende das suas propriedades nucleares, das suas propriedades físicas (a densidade, em particular), a sua forma, e a sua pureza”, segundo a Wikipédia. A pouco tempo descobri, no entanto – e para você pode não ser novidade –, que existe um movimento chamado “Massa Crítica”, que se apropria desse conceito para tentar aplicá-lo à sociedade. Também li na internet um estudo recente de física quântica que indica que “um  único quantum de uma onda de alta frequência, de alta vibração, numa linguagem mais acessível, pode carregar, sozinho, mais energia do que muitos quanta de outra vibração mais baixa”.

massa criticaOu seja: aplicando isso ao dia a dia, é possível acreditar que pensamentos positivos se propagam muito mais que pensamentos negativos. Baseado nesse conceito, existe a ideia de que é possível que a humanidade dê um “salto evolucional” se um determinado número de pessoas evoluir – e não todos. Assim é mais fácil acreditar que a humanidade tenha um futuro, não?!

Aqui no Brasil existe um movimento inspirado na Massa Crítica, a Bicicletada (bicicletada.org). É um coletivo, mas você não precisa fazer parte dele para ajudar o mundo a ser um lugar melhor para se viver, ou pode, se quiser. Mas já ajuda ter pensamentos bons. Se não der certo para o mundo, vai, pelo menos, melhorar a sua vida. 

Luciana Penante

23
jul

O que é mais importante

Esses dias uma postagem no Facebook me chamou a atenção. Era um texto com o título “5 coisas com as quais você deve e não deve gastar dinheiro”. Resolvi ler e me identifiquei bastante. A introdução dele propunha uma reflexão sobre a importância de investir em momentos que ficarão na memória para sempre ao invés de gastar dinheiro com coisas que acabam facilmente.

reileaoAcho que tudo é uma questão de valores. O que tem mais valor na sua vida? Na minha as coisas mais importantes giram em torno de bons momentos com a família e com os amigos, conhecer lugares diferentes, estudar, viver novas experiências, enfim, algumas coisas que custam dinheiro e outras nem tanto. Meu carro não é novo, nem velho. É um carro popular, que serve exclusivamente para o transporte. Levar os filhos para a escola, ir para o trabalho e algumas pequenas viagens. Há dois anos penso em trocar, mas sempre me deparo com outra prioridade, como viajar com as crianças e estudar inglês.

Meu celular quebrou e precisei substituí-lo. Vi vários modelos legais, mas optei pelo mais simples, que atende às minhas necessidades e não era tão caro. Investi em um violão legal para o meu filho mais velho e em uma viagem de férias para ele. Para mim, foi uma escolha muito mais interessante que comprar um celular de última geração. Até porque a última geração de telefones, assim como a e de qualquer eletrônico, é cada vez mais efêmera. Logo o mercado lança algo melhor e mais inovador e seu aparelho será obsoleto.

Felizmente fui influenciada pela minha mãe. Ela sempre falou para mim e para meus irmãos que priorizaria a educação dos filhos e que isso seria a nossa herança. Que investiria o máximo em nossos estudos e não se preocuparia em ter o carro do ano ou comprar imóveis.

Concordo com ela e faço o mesmo com meus filhos. Vamos estudar mais, ler mais, aprender outros idiomas, tocar algum instrumento, conhecer novos lugares e pessoas diferentes. Enfim, para mim, isso é viver.

Aline Cambuy

16
jul

Versões sobre a mesma guerra

Bem no começo dos anos 90 eu chegava a ensopar o pijama com meus pesadelos sobre a guerra civil na antiga Iugoslávia.  Isso porque eu passava boa parte do dia editando imagens e produzindo textos sobre as barbáries dos sérvios (os grandes malvados) e dos croatas (não tão medonhos, mas também cruéis) contra os coitadinhos dos vizinhos bósnios.

guerra-da-bosnia-help-bosnia-nowSarajevo (o “j” tem som de “i”), a linda e culta capital da Bósnia, sitiada e aterrorizada pela presença dos franco-atiradores que, de cima das montanhas que circundam a cidade, faziam tiro ao alvo com a população que corria para procurar um resto de pão. Campos de limpeza étnica exterminando bósnios, de maioria muçulmana. Carnificina pura. Um auê.

Eis que num desses domingos chuvosos e frios começo a zapear e avisto um documentário no Eurochannel. Toscamente produzido, mas bem realista, o filme descrevia uma versão bem diferente daquela guerra. Os bósnios e os sérvios e os croatas foram igualmente maus, era o discurso. O problema é que os sérvios e, principalmente, o líder deles (Slobodan Milosevic) eram aliados dos russos. Os Estados Unidos de Bill Clinton estavam precisando de uma guerra para ganhar dinheiro e apoio político (o documentário explica os detalhes). Clinton manipulou ataques a civis bósnios, mexeu com a opinião pública e fez com que a entrada dos EUA na guerra parecesse genuína.

Quando o documentário terminou, fiquei tentando lembrar quantas matérias fiz tomando absoluto partido para um lado. Eu e o mundo todo, naquela época. Eu me senti um fantoche, e me perguntei se hoje seria menos fácil manipular a opinião pública. Por fim, já quase dormindo, cheguei à conclusão de que foi uma inocência injustificada. Afinal, não precisa ser nenhum Einstein para descobrir que nenhum lado é totalmente bom ou mau na guerra.

Karin Villatore

9
jul

Quem transgride quem?

Há uma verdade mais dura por trás das transgressões de crianças e adolescentes: a realidade delas e deles, tão distinta da maioria de nós.

Há cinco anos eu pesquiso essa parcela minoritária da população, milito por, com e para aqueles que possuem suas vozes silenciadas pela dominante sociedade. Dediquei boa parte dos meus anos de pesquisadora aos que necessitam da transgressão para manifestarem que também são sujeitos e sujeitas de direitos. Nos últimos dois anos eu literalmente me sujei na lama da pesquisa empírica sobre adolescentes em conflito com a lei, especificamente aqueles 1-FF7fYzx91xYUKwFOQvPxxwque cumprem medida socioeducativa de liberdade assistida ou de prestação de serviço à comunidade; conversei com eles, andei pelos bairros e comunidades onde vivem, visitei suas moradias (algumas muito precárias), presenciei alguns, ainda tão crianças e inocentes, empinando pipa (ou raia, como eles chamam), ou observei o tráfico bem em frente à porta da casa de um deles, falei com as pessoas (nem sempre eram familiares; mas, quase sempre eram monoparental) com quem moravam e, de um extremo a outro, passei por condomínios classe média para falar com algumas exceções que se envolveram em delitos. Alguns sofreram e/ou sofrem violência em casa, ou foram abandonados e outros não tinham quem sequer perguntasse “como foi seu dia na escola”.

Após as visitas, chegava em casa de alma exausta e com fome de justiça, igualdade e proteção. Chorava. Talvez seja essa a experiência que mais me permitiu conhecer e compreender realidades muito além da que eu vivencio, possibilitando tornar-me muito mais sensível ao olhar o outro.

Na disposição social e política de trancafiar os jovens e o debate (debate?) sobre a redução da maioridade penal, sobram abundantes projetos de leis alterando o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (logo este, que constituiu uma significativa conquista para a minoria a partir dos anos 1990, na qual começava-se a tratá-los como sujeitos de direitos e não com a higienização da população, tal como era o Código de Menores). Sobra isso, mas falta o olhar sensível e compreensivo para a realidade da maior parte desses jovens que, muitas vezes, são privados de recursos, de atenção, de amor, de família, de acesso à saúde, educação, cultura, entretenimento. Falta contemplar as localidades em que moram, falta um diálogo com eles, falta um esforço para compreender nosso sistema prisional problemático e faltam investimentos no acesso à educação e nas próprias medidas socioeducativas.

Deixo algumas problematizações que podem fazem caminhar para uma reflexão nesse momento de decisões políticas: são os adolescentes que estão em conflito com a lei ou é a lei que está em conflito com os nossos adolescentes? E quem deve ser responsabilizado pela não garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes?

Marcielly Moresco

Foto: Nair Benedicto

2
jul

As “Esquecidas” Aventuras do Rei Pausolo

Esse negócio de pintar livrinho não está com nada. Finalmente consegui um exemplar da única tradução brasileira das “Aventuras do Rei Pausolo”, um dos mais divertidos romances galantes/eróticos que se tem notícia. Escrito pelo francês Pierre Louÿs, a obra veio a público em 1901, na França. A história foi um tremendo sucesso mundial. Chegou ao Brasil em 1911, publicado a partir do número de estreia do semanário fescenino “O Riso”. Nos anos 1930, o livro virou uma opereta e logo depois um filme dirigido por Alexis Granowsky. Vamos então a uma sucinta apresentação. Louys_Pausole_page_de_titre

O Rei Pausolo era o soberano absoluto de Tryphemia, local de estonteante beleza natural, mas nunca comentado nos livretos de história e geografia. Dizem que por ser tão belo e com uma cultura tão diferenciada, os historiadores preferiram manter em segredo a localização do reino, para afastar os curiosos desta terra encantadora.

Debaixo de uma cerejeira (pois além da sombra, fornecia frutos maravilhosos), Pausolo solucionava tranquilamente o problema dos seus súditos. As decisões eram baseadas nas duas únicas leis em vigor em Tryphenia:

1 – Não incomode seu vizinho.
2 – Bem entendido o primeiro artigo, cada qual pode fazer o que bem quiser.

Cultores da simplicidade e do bom gosto, em Tryphenia todos deveriam andar nus, desde que tivessem corpos bonitos. Toda noite, Pausolo escolhia uma das suas 366 mulheres (uma por dia, prevendo anos bissextos) para compartilhar sua cama. Por mais de 20 anos o reino segue em perfeita harmonia e paz, até que a filha de Pausolo decide fugir do castelo real. A partir daqui, deixo para você, leitor curioso e que não é dublê de pintor, buscar as Aventuras.

Este livro, praticamente esquecido em terras brasileira nos dias de hoje, ainda ecoa em movimentos diversos, de wickas a alternativos chinelão de couro, de apreciadores do naturismo a bem comportados juristas, que reverenciam o bom humor, a benevolência, a indecisão, o erotismo e a justiça do reinado de Pausolo. O único defeito da edição brasileira, de 1956, é de que não contêm as ilustrações que tornaram ainda mais célebre o livro, já que existem edições estrangeiras ilustradas por nomes como Carlège, Lucien Métivet, entre outros. Adoraria ver este romance encenado, quem sabe algum dia algum dramaturgo brasileiro se anime. Diversão e sucesso de público garantidos.

José Daniel