Em 2014, o Jockey Club do Paraná foi multado pelo Ministério da Agricultura por uma série de infrações que culminaram com a cassação da Carta Patente, que impede corridas desde julho de 2014 no Tarumã. Para lembrar dos bons tempos das carreiras compartilho no blog dois causos turfísticos, um familiar e um pessoal.
Chamava-se Patusco. Era um potrinho de três anos, tordilho, com pelagem bem desbotada e acentuadas patacas. Seu dorso era comprido, acentuadamente flexível, o antebraço, muito mais curto que a pernas, a espádua, muita mais larga que a coxa. Uma estranha assimetria que levou dono do cavalinho a colocá-lo à venda por um preço ridículo, sem ao menos fazer a estreia nas raias do Jockey Club do Paraná. Meu avô, turfista de longa data, acalentava o sonho de ter um animal correndo com uma farda própria, ficou sabendo do negócio e arrematou o bicho por uma pechincha. Patusco tinha bons trabalhos nos treinamentos e um mês após a compra foi inscrito num páreo para estreantes. Alguns colunistas disseram que o animal tinha muita chance de vencer, mas que faria no mínimo o segundo lugar, chamado placê. Meu avô, confiante no desempenho do animal, convocou toda a família para acompanhar. Irmãos, irmãs, filhos, filhas, genros e noras, primos de primeiro até terceiro grau, colegas de trabalho, vizinhos, enfim, foi uma turma ao Tarumã para ver o bichinho correr. Os convidados embarcaram na empolgação. Jogaram de pá na barbada. Na abertura das apostas, Patusco era uma boa pule, pagava 4,50 por 1. Minutos antes do páreo, meu avô dá a cartada final, aposta uma grande quantia em Patusco. Com a confiança do proprietário, a pedra caiu em 2 por 1. Patusco virou o favorito e neste momento dobrava o capital apostado. Jogo feito, cavalos e jóqueis prontos, hora do páreo. Momentos antes da largada, pelo menos é o que me contaram, meu avô grita “Vai Patusco” e o narrador começa “E atenção, foi dada a largada para o terceiro páreo da programação, Almirante larga bem pela baliza 1, mas é seguido de perto My Honey, Purpurina Errante e Pimpão. O favorito, o tordilho Patusco fica no boxe…”
A segunda história se passa quase quarenta anos depois do ocorrido. Convidado por um primo assíduo do turfe fui parar no Tarumã, numa tarde de sexta-feira. Estou lá bebericando um chopinho e esperando, com uma certa euforia, o terceiro páreo da reunião. Fizera uma aposta acumulada, na qual deveria acertar três vencedores de três páreos. Já acertara dois e estava jogando uma boa quantia no terceiro, um estreante chamado Hirson. Vamos ao páreo. 1.400 metros na areia. Hirson larga na ponta e tira três corpos de vantagem para o segundo colocado, chamado Hipócrates do Sul. Nos 800 metros a distância diminui, mas o cavalinho apresentava ainda um bom rendimento. A corrida segue bem até os 1000 metros. Mostrando cansaço, era fácil vislumbrar que a diferença entre o meu escolhido e os outros animais já não era tão destacada. Nos 300 metros finais, Hirson é ultrapassado, iria garantir o segundo lugar, o que não me adiantaria. Já estou prestes a rasgar a pule, comento com meu primo assim que eles passam pelos cem metros finais. “Agora só se cair”. Mal acabei de dizer isso, o cavalo que estava na frente pisa num buraco, bate na cerca e cai estranhamente, enquanto o jóquei de Hirson dirige o seu pilotado para o centro da raia e passa tranquilo pelo disco, para a foto da vitória. Vai entender o turfe e os seus acasos.
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Luiz Antonio Ribas, cronista e grande conhecedor das corridas de cavalo, conta no Blog do Zé Beto os últimos anos de agonia que passou o clube, que pode vir a ser mudada com a construção do Jockey Plaza Shopping, que deverá estar pronto até 2017, tendo como permutante proprietário, 10% participativo, o Jockey Club do Paraná, Leia aqui: http://www.zebeto.com.br/enquanto-isso-no-jockey-club-do-parana/#.VVXkhvlVhBc