Arquivo mensais:maio 2015

29
mai

Feminismo. E o que a comunicação tem com isso?

Comunicadora e feminista, me atrevo a escrever em poucas linhas uma reflexão inicial sobre as duas áreas.
São muitas as afirmativas machistas, misóginas, sexistas, racistas, lesbofóbicas, transfóbicas, gordofóbicas, e outras, que são veiculadas nos produtos midiáticos, tanto de entretenimento quanto de informação (jornalismo). Por sofrerem com a violência simbólica nesses meios, muitas mulheres passaram a discutir e a interseccionar as teorias feministas com as práticas comunicativas e midiáticas. Os primeiros estudos de feminismo e comunicação datam a década de 1970, e uma das linhas de investigação é da representação da mulher em cinema, revistas e televisão. feminista

O problema central dessas representações é o de serem naturalizadas, ou seja, passarem para as práticas sociais cotidianas sem que sejam problematizadas e desconstruídas.

Cabe ao comunicador e à comunicadora o papel de atuar com o viés da transformação política. Devemos entender que nossa situação é privilegiada, pois temos condições de produzir e receber informação, e refletir sobre ela; assim, é nossa responsabilidade lutar para que os direitos humanos, e o direito à comunicação, envolvam todas as mulheres (ou melhor, todas as minorias).

Uma dica bacana
A parceria entre a FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas e a ONU Mulheres – Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres – deu origem a um “Guia para jornalistas sobre gênero, raça e etnia”. O propósito é auxiliar os comunicadores e comunicadoras na tarefa de cobrir os temas com recorte de gênero, raça e etnia no dia a dia da imprensa, com pautas livres de preconceitos e estereótipos.
É uma iniciativa de transformação e de construção de uma mídia mais democrática, plural, diversificada e igualitária, que começa a partir de nós, profissionais da comunicação.

Link para o Guia: http://goo.gl/kRQ6Eh

Marcielly Moresco

21
mai

Sobre viagens, repertórios e amizades

eiffel Recentemente tive a felicidade de viajar pela primeira vez para a Europa. Foram duas semanas de diversão, descobertas e algumas dificuldades — normal para quem fica fora do país por um tempo, descobri depois. Eu poderia contar como foi conhecer Amsterdã, Londres e Paris, cidades pelas quais passei, mas os blogs de viagem estão aí para fazer isso com muito mais propriedade do que eu, que só fiquei quatro ou cinco dias em cada cidade. Prefiro contar para vocês alguns fatos divertidos e coisas que aprendi na minha passagem pelo velho mundo.

Em Amsterdã aprendi que o holandês é um idioma indecifrável para quem não nasceu lá. Que mesmo na primavera faz frio na Europa, muito frio. Que lá arroz e feijão é uma iguaria exótica e é mesmo preciso se contentar com massas, pizza, batata frita e queijo, muito queijo! Aprendi que é preciso andar com cuidado nas calçadas de Amsterdã, pois as entradas das casas têm escadas para baixo do nível da calçada, e desavisados ou bêbados podem acabar encaçapados nelas, como vi acontecer. Aprendi também que os carrinhos que varrem as ruas por lá podem ser bem assustadores e vir em grande velocidade na sua direção, fazendo com que você saia correndo – sim, eu paguei esse mico! Descobri que além da maconha, cogumelos alucinógenos são vendidos por lá – e que eles têm até cardápio, separados pelo grau de alucinação que podem causar nas pessoas, tipo: efeitos visuais – cinco estrelinhas, efeitos sonoros – três estrelinhas. Prefiro ficar com a minha loucura e com a do Felipe, meu colega de aventuras e de corridas atrás de trens-bala.

Em Londres, descobrimos que pessoas comuns não podem passar do portão do Abbey Road Studios, mas a Beatles Crossing está liberada. Eu, pessoalmente, descobri que andar 12 quilômetros com a mesma bota faz com que ela descole a sola, te levando a passear com o “Tap e Flap” (quem lembra?) pelas margens do Rio Tâmisa. Aprendi que os melhores lugares para comprar lembranças de Londres são os mercados de rua do Camdem, bem mais em conta que nos pontos turísticos. Sobre comidas: descobri que vinagre na batata frita é horrível (mas lá é uma tradição) e que comer feijão no café da manhã é normal por lá. Também aprendi que as baladas de Londres fecham cedo: quatro horas da manhã. Aprendi a me virar sem celular, já que o meu quebrou no meio da viagem. Descobri que hostels são lugares legais para fazer amigos, como a Andrea, do Chile, e a Catherine, do Canadá.

Em Paris, descobri que um dia é pouco para conhecer o Louvre e que os vendedores de chaveiros no pátio do museu – na maioria africanos em busca de uma vida melhor – sabem mais do Brasil que muito brasileiro (o que vendeu várias Eiffel em miniatura para meu amigo conhecia toda a seleção e governantes – sim, eles fazem questão de recitar a escalação completa. Deve aumentar as vendas). Aprendi que “sou bonita na África”, como diz o Felipe, pois em todas as baladas só levei cantadas de rapazes negros (um deles até me girou no ar sob protestos – sou casada!). Aprendi que na Disney é proibido usar orelhas da Minnie na montanha russa e no barco do Peter Pan (“Madame, s’il vous plaît, retirez votre oreille”). Aprendi também que “retire vossa oreia” pode render risos por semanas.

Descobri que malas extraviadas podem voltar para casa inteiras — e com champanhe dentro. Que pessoas incríveis estão nos lugares mais inimagináveis. Que nunca se pode jogar bituca de cigarro no chão. Que seguranças de loja, ainda hoje, podem te seguir pelo fato de você ser brasileiro. Que ir para a Europa não mata sua vontade de ir para lá: apenas faz você querer ir outra vez.

Luciana Penante

15
mai

“Vai Patusco” e “Só se Cair”, dois causos turfísticos

hipodromoEm 2014, o Jockey Club do Paraná foi multado pelo Ministério da Agricultura por uma série de infrações que culminaram com a cassação da Carta Patente, que impede corridas desde julho de 2014 no Tarumã.  Para lembrar dos bons tempos das carreiras compartilho no blog dois causos turfísticos, um familiar e um pessoal.  

Chamava-se Patusco. Era um potrinho de três anos,  tordilho, com pelagem bem desbotada e acentuadas patacas. Seu dorso era comprido, acentuadamente flexível, o antebraço, muito mais curto que a pernas, a espádua, muita mais larga que a coxa.  Uma estranha assimetria que levou dono do cavalinho a colocá-lo à venda por um preço ridículo, sem ao menos fazer a estreia nas raias do Jockey Club do Paraná.  Meu avô, turfista de longa data, acalentava o sonho de ter um animal correndo com uma farda própria, ficou sabendo do negócio e arrematou o bicho por uma pechincha.  Patusco tinha bons trabalhos nos treinamentos e um mês após a compra foi inscrito num páreo para estreantes.  Alguns colunistas disseram que o animal tinha muita chance de vencer, mas que faria no mínimo o segundo lugar, chamado placê. Meu avô, confiante no desempenho do animal, convocou toda a família para acompanhar. Irmãos, irmãs, filhos, filhas, genros e noras, primos de primeiro até terceiro grau, colegas de trabalho, vizinhos, enfim, foi uma turma ao Tarumã para ver o bichinho correr. Os convidados embarcaram na empolgação. Jogaram de pá na barbada. Na abertura das apostas, Patusco era uma boa pule, pagava 4,50 por 1.  Minutos antes do páreo, meu avô dá a cartada final, aposta uma grande quantia em Patusco. Com a confiança do proprietário, a pedra caiu em 2 por 1. Patusco virou o favorito e neste momento dobrava o capital apostado. Jogo feito, cavalos e jóqueis prontos, hora do páreo. Momentos antes da largada, pelo menos é o que me contaram, meu avô grita “Vai Patusco” e o narrador começa “E atenção, foi dada a largada para o terceiro páreo da programação, Almirante larga bem pela baliza 1, mas é seguido de perto My Honey, Purpurina Errante e Pimpão. O favorito, o tordilho Patusco fica no boxe…” 

A segunda história se passa quase quarenta anos depois do ocorrido.  Convidado por um primo assíduo do turfe fui parar no Tarumã, numa tarde de sexta-feira. Estou lá bebericando um chopinho e esperando, com uma certa euforia, o terceiro páreo da reunião. Fizera uma aposta acumulada, na qual deveria acertar três vencedores de três páreos. Já acertara dois e estava jogando uma boa quantia no terceiro, um estreante chamado Hirson. Vamos ao páreo. 1.400 metros na areia. Hirson larga na ponta e tira três corpos de vantagem para o segundo colocado, chamado Hipócrates do Sul. Nos 800 metros a distância diminui, mas o cavalinho apresentava ainda um bom rendimento.  A corrida segue bem até os 1000 metros. Mostrando cansaço, era fácil vislumbrar que a diferença entre o meu escolhido e os outros animais já não era tão destacada. Nos 300 metros finais, Hirson é ultrapassado, iria garantir o segundo lugar, o que não me adiantaria. Já estou prestes a rasgar a pule, comento com meu primo assim que eles passam pelos cem metros finais. “Agora só se cair”.  Mal acabei de dizer isso, o cavalo que estava na frente pisa num buraco, bate na cerca e cai estranhamente, enquanto o jóquei de Hirson dirige o seu pilotado para o centro da raia e passa tranquilo pelo disco, para a foto da vitória. Vai entender o turfe e os seus acasos.

***

Luiz Antonio Ribas, cronista e grande conhecedor das corridas de cavalo, conta no Blog do Zé Beto os últimos anos de agonia que passou o clube, que pode vir a ser mudada com a construção do  Jockey Plaza Shopping, que deverá estar pronto até 2017, tendo como permutante proprietário, 10% participativo, o Jockey Club do Paraná, Leia aqui:  http://www.zebeto.com.br/enquanto-isso-no-jockey-club-do-parana/#.VVXkhvlVhBc

 

7
mai

Fala, Dilma

Esqueça a Lava-Jato, o desemprego, o dólar, a greve dos professores, as fábricas paradas. A culpa da crise do governo é a falta de comunicação.

Claro que tenho ouvido isso de analistas que mencionam o escasso diálogo da Dilma com as massas como uma das três ou quatro principais causas (o número depende de quem analisa) das manifestações populares. O argumento criou ainda mais corpo depois deste 1.º de maio, quando a mensagem da presidente ao trabalhador só veio pelas redes sociais. No mínimo polêmico.

press

Só para criar um parâmetro, temos os presidentes dos Estados Unidos, papas do setor. Raramente eles perdem a oportunidade de um pronunciamento oficial para expor uma opinião, um feito do governo, um bateu-levou contra algum opositor. E, nesta mecânica, dizem a que vieram.

A Dilma, em contrapartida, não tem esse belo hábito de informar. O conterrâneo jornalista Thomas Traumann,  então secretário de comunicação da presidência, supostamente deixou vazar um documento interno com críticas ao setor que ele mesmo comandava. Resultado: pediu demissão.

Para quem, como eu, é da área, parece claro que a Dilma deveria falar mais, responder mais, explicar mais, posicionar mais sua opinião. E esse recurso não deveria ser usado só agora. Ideia que vale para o presidente da república, para empresários, para autônomos e para quem se preocupa com a imagem.

Beijos,

Karin Villatore