Arquivo mensais:abril 2015

30
abr

Em que ano estamos?

Nos últimos dias fomos surpreendidos com acontecimentos que nos causam estranheza, indignação, revolta, dúvidas, vergonha, enfim, uma série de sentimentos. O Paraná tem ganhado destaque na mídia nacional e internacional com notícias que mostram abuso de poder, descaso e perseguição. Mais uma vez nossos governantes menosprezam a classe dos professores que reivindica melhores condições de trabalho e, em troca, é recebida com violência. liberdade

Educadores que manifestaram em frente à Assembleia Legislativa foram enxotados com balas de borracha e bombas de efeito moral. O Paraná protagonizou um verdadeiro cenário de guerra contra uma classe que precisa ser valorizada. Estamos falando de educação! Uma bandeira levantada pelos políticos durante a campanha eleitoral e agora praticamente ignorada. É de educação que precisamos para garantir um Estado melhor para nossos filhos. Lamentável…

Durante as manifestações um cinegrafista da TV Bandeirantes foi mordido por um cão da polícia. Esses animais não são devidamente treinados para atacar ou não sob o comando do seu “parceiro de trabalho”, no caso o próprio policial? Quando digo animais, estou falando dos cães, viu? Embora nossos policiais e governantes tenham demonstrado atitudes irracionais também.

Mais uma vez um colega da imprensa foi vítima de agressão enquanto fazia o seu trabalho de registrar os fatos. E, por falar em imprensa, outro absurdo é a perseguição aos jornalistas da Gazeta do Povo e da RPC TV. Teve profissional que recebeu até ameaça de morte por investigar denúncias de pedofilia e corrupção na Receita Estadual do Paraná.

Afinal, em que ano estamos? A liberdade de imprensa não existe mais? Onde foi parar o respeito aos professores e a todos os cidadãos paranaenses que são vítimas de abusos da polícia e do governo? Ao acompanhar os noticiários parece que, realmente, voltamos ao século passado. Esse tipo de atitude é inaceitável para uma sociedade que busca fortalecer sua democracia e liberdade de expressão.

Aline Cambuy

23
abr

Mundo da Lua

Monica, Monica, MONICAAA…. é quase sempre assim. Duas chamadas e um berro. Não sou surda, apenas me concentro nos meus pensamentos. Até porque, quase sempre eles são bem mais interessantes do que aquilo que está acontecendo à minha volta. É assim desde criança e acho que começou quando meu pai lia histórias para mim. A que eu mais gostava era João e Maria. Lembro como se fosse hoje. Eu deitava sempre na cama dos meus pais, dava aquele cheirinho no travesseiro, ele apagava a luz, ligava o abajur e começava a leitura. Eu ficava deitadinha olhando para o teto imaginando cada detalhe da história. lua

Foi só descobrir a bendita da criatividade que minha vida mudou para sempre. Legal é descobrir, o problema é aprender a lidar com ela. Digamos que exista a “Criatividade Branca” e a “Criatividade Preta”. Vamos falar sobre a preta. A preta é aquela criatividade sacana, o verdadeiro capetinha no ombro esquerdo. Ligo para o namorado que está viajando a trabalho, mas ele não atende. Pronto, lá vem o roteiro. “Será que ele está em reunião? Claro que não, Monica! Já são 20h. Ah, então ele deve estar em um barzinho com o pessoal do trabalho. Você é idiota, Monica. É claro que ele está com uma mulher linda, conversando, rindo, bebendo e se divertindo. Ah, e eles ainda terão mais dois dias para continuar este programa, afinal a viagem de trabalho, que vai durar três dias, na verdade era para ser um bate-volta”. Enquanto a Criatividade Preta me boicotava, o mundo, ou melhor, umas 10 pessoas estavam gritando meu nome e eu, para variar, não escutava. Já era. O namorado virou ex. Criatividade Preta me boicotando mais uma vez.

Vivendo e aprendendo. Com tanto capetinha enchendo meu ouvido com Criatividade Preta, resolvi que era hora de dar um basta e comecei a dizer não para mim mesma. Ohhhh…. Isso sim é evolução. Calma, eu ainda volto atrás várias vezes. A diferença é que assumi que sou meio fora da casinha mesmo, penso pra caramba, minha criatividade vai longe e a Branca pode prevalecer à Preta. O problema agora já não é mais meu e, sim, daqueles que precisam aquecer a voz para dar uns gritinhos quando a mocinha aqui está feliz da vida no sétimo céu.

Monica Melo

16
abr

VENDE-SE PEIXE FRESCO TODO DIA

Dia 15 de abril é comemorado o Dia Mundial do Desenhista. Aproveito o gancho e lembro do desenhista americano Simms Taback, que nasceu em Nova Iorque, em 1936, e faleceu no dia 25 de dezembro de 2011. Trabalhou como ilustrador, escritor, diretor de arte, designer gráfico e lecionou na Escola de Artes Visuais da Universidade Syracause. Taback ficou conhecido por ter feito o design da primeira embalagem do Mc Lanche Feliz, em 1977. Entretanto, o grande kibitzerlegado do artista são os mais de 40 livros infantis publicados durante a carreira, a maioria hilariamente ilustrados e, infelizmente, nenhum deles traduzidos para o português.

Tempos atrás, caiu nas minhas mãos um livro de Simms intitulado “Kibitzers and Fools: Tales My Zayda Told Me”. O livro é uma reunião de 30 causos da cultura judaica que foram contados pelo avô de Simms, um judeu polonês que ainda jovem desembarcou nos Estados Unidos. A ideia do livro era também traduzir algumas expressões ídiche, a língua adotada por judeus do mundo inteiro, principalmente os da Europa Central e Oriental. Algumas palavras são de difícil tradução, outras nem tanto. O “Zayda” do título, por exemplo, é como se chamam informalmente os avôs em ídiche. E os kibitzers, quem seriam? Para entendermos esta palavra, vamos recontar resumidamente o primeiro conto deste belo livro. Simms está jogando uma partida de damas com seu zayda, mas, quando o avô vai mexer uma peça, o neto o interrompe e diz: “por que você não mexe na peça preta?”. O avô, irritado, responde: “você não passa de um de kibitzer!”. Afinal, o que é um kibitzer? Vamos à história.

Benjamin Rabinowits era peixeiro ambulante e decidiu ampliar seu negócio. Vendeu sua bicicleta adaptada com uma caixa de isopor para armazenar os peixes, comprou um freezer e alugou um ponto fixo. Para chamar a atenção dos clientes, começou a preparar uma placa, na qual escreveu o seguinte: VENDE-SE PEIXE FRESCO TODO DIA

Pegou uma escada e foi colocá-la na fachada. Quando estava ajeitando o letreiro, apareceu o primeiro kibitzer. “Olá, senhor Benja. Vejo que finalmente está começando seu negócio. Gostaria de lhe ajudar com uma sugestão. Você não precisa escrever na placa TODO DIA, afinal, se você estará aberto diariamente, será redundante dizer isso”. Realmente, pensou o peixeiro. Retirou então as duas palavras, ficando: VENDE-SE PEIXE FRESCO

Terminada a alteração, era hora de instalar a nova placa. Estava quase pregando o primeiro prego, porém, chegou o segundo kibitzer. “Grande, Benja. Fico contente em ver o amigo prosperando. Mas, em virtude da nossa amizade, gostaria de sugerir a retirada da palavra FRESCO da sua placa, afinal, os clientes podem desconfiar, por que você precisaria dizer algo do tipo se todo peixe que vende já é FRESCO. O sr. Rabinovitch acata. Ficou então
VENDE-SE PEIXE

O comerciante está quase finalizando a colocação da nova placa, aparece o terceiro kibitzer. “Benja, parabéns pelo seu negócio. Vou te dar um conselho para você começar bem. Penso que não é necessária a palavra VENDE-SE em sua placa, afinal, você já tem um estabelecimento, é óbvio que você vende alguma coisa, não é?” Impossível não concordar, correto? É feita mais uma alteração e a placa fica assim: PEIXE

Já é quase final de tarde e o Benjamin estava louco para instalar de uma vez a placa de seu negócio. Eis que surge o quarto kibitzer. “Excelente iniciativa, Benja. Mas, olha só, dá para sentir de longe o cheiro de peixe, é óbvio que aqui é uma peixaria, acho desnecessário…Não precisou nem concluir, o peixeiro jogou finalmente a placa inteira fora.

Contudo, a saga da placa não acaba ainda. Algumas semanas depois aparece o quinto kibitzer. Benjamin Rabinowitz está sentado na frente da peixaria, pois quase não tinha clientes.

“Olá, Benja, como estão os negócios?”

“Mar de remanso, devagar e parado, penso que pessoas não estão mais comendo peixe.”

“Ora, por que então você não faz uma placa?”

O kibitzer é esta figura universal, presente em várias culturas, chamado por aqui de intrometido, inconveniente, pescoço, peru, metido, entrão, folgado, pensa sempre que sabe mais que você. Um kibitzer dá opiniões não muito boas e que você nem sequer pediu. Ou seja, ele está sempre metendo o nariz onde não é chamado. Se encontrar um deles pela rua já pode acabar com seu dia, imagine só encontrar vários em sequência?

***
Vale a pena dar uma passadinha no site Simms Taback e conhecer este grande artista ainda inédito no Brasil!

José Daniel

 

9
abr

Bodas de Prata

Era 88, eu tinha 16, voltava de 6 meses de intercâmbio e só tinha 3 dias para decidir. Achava que o vestibular seria só uma experiência. Provavelmente o MEC não iria validar o semestre estudado fora e teria que fazer o Terceirão de novo.25 anos

Pensei em Secretariado Executivo. Não lembro o motivo. Comentei em casa e meu pai, de pronto, retrucou: “Faz Jornalismo, minha filha. Você escreve tão bem”. Fiz e o semestre fora valeu.

Conhecimento precário da universidade compensado pelas descobertas feitas nos 4 anos que passei por lá. Dos amigos de verdade que hoje conto nos dedos, boa parte veio dessa época.
Comecei a trabalhar bem antes de me formar e amei a profissão desde sempre. Passaram rápido esses 25 anos. Se tivesse que escolher de novo, faria igual.

Karin Villatore

1
abr

Qual o seu repertório?

musicaEste final de semana fui a um grande festival de música, o Lollapalooza. Lá, uma multidão de gente esperava para ver seus ídolos. Com várias atrações no line-up, a ideia dos organizadores era a de agradar a gregos e troianos. Tarefa ingrata e digo mais: impossível. Com mais de 50 atrações é fácil atingir um pouco de cada tribo, mas não dá para atingir muito de nenhuma. Claro: cada banda tem um estilo e repertório, normal. Mas aí você se pergunta: sim, e daí, qual a novidade? A novidade está no repertório do outro, daquele que a gente não conhece – e isso pode ser levado a outras esferas: nossa vida, por exemplo.

Provavelmente quem foi ao festival para assistir ao rock’n roll de outras décadas de Robert Plant e Smashing Pumpinks não estava muito interessado em assistir ao show de música eletrônica do Skrillex ou ao dance de rádio FM do Calvin Harris — mas isso não diminui a importância que os dois têm para quem gosta de chacoalhar na pista, entendeu?! O que não dá para acontecer – e não aconteceu, ainda bem – é desrespeitar o repertório do outro. O fato de você não gostar de dançar não pode ser pressuposto para você ir lá e reclamar por estar rolando um show de dj, porque tem quem goste. E digo mais: se você tiver a mente aberta, pode se surpreender com o repertório do outro e até arriscar uns passos de dança – ou simplesmente apreciar a vista.

No meu caso, fiquei apaixonada pelo som e visual da Saint Vincent, de quem nunca tinha ouvido falar. Mas voltando ao plano das metáforas: o repertório do outro sempre pode surpreender se você estiver disposto a escutar – e aqui eu não estou falando de música, estou falando de gente. É preciso ouvir música e é preciso ouvir o outro – afinal, se todo show tivesse as mesmas músicas sempre, ninguém ia querer assistir outra vez.

Luciana Penante