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nov

Terapia

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Sempre que alguém chega para mim com uma situação impossível de resolver ou um trauma daqueles de desgraçar a cabeça, eu indico terapia. Sempre que alguém se sente confuso, perdido ou muito triste, eu indico terapia. Eu indico terapia para o meu pai. Eu indico psicólogos. Eu passo telefone. Eu falo sobre como a terapia é benéfica e poderia resolver todos os nossos problemas. Mas euzinho mesmo nunca fiz terapia. Eu, não. Eu era um grande e gostoso de um hipócrita.

Não mais. Comecei terapia.

Eu relutava. Relutava por que tinha fechado a minha torneira de emoções há muito tempo. Sempre que alguém pedia para contar sobre a minha vida ou como eu estava naquele momento, eu fazia manobras na conversa que até Freud ficaria admirado, tudo apenas para que a pessoa continuasse a falar dela e não de mim. Como as pessoas adoram falar sobre elas mesmas, nem era tão difícil.

Por anos foi assim. Há anos sofro com uma ansiedade que não me larga. Há anos antecipo problemas e destruo momentos. Há anos reprimo sentimentos felizes porque eu sou uma pessoa contida. Há anos eu construo dentro de mim uma baixa autoestima que, menina do céu, é paralisante. Mas eu disfarço com piadas, ironias e autodepreciação, porque é muito melhor ser negativo. A positividade irrita.

Mas isso está ficando no passado. Aos poucos, bem aos pouquinhos.

Logo na segunda sessão de terapia eu tive que escrever uma carta fictícia me apresentando para alguém que não me conhecia. Fui sincerão no texto e me expus quase que completamente. Eu só não contava que a minha terapeuta iria ler a carta em voz alta. Foi um choque, porque constatei que eu sou carinhoso com muita gente, menos comigo. Aliás, eu sou extremamente tóxico comigo mesmo.

Mas a questão é que somente agora eu estou conseguindo organizar as ideias e entender como eu me vejo, me comporto e me sinto perante várias situações da vida. Somente depois de começar terapia eu percebo que aquilo lá que aconteceu em 1996 e que eu contava como se fosse piada, na verdade me moldou de uma maneira que eu jamais tinha imaginado. Aquele fato em 2011 fez eu mudar de uma maneira irreversível. Aquela frase ouvida me mudou para melhor. Aquela outra frase me destruiu.

Mas só agora eu consigo analisar coisas que sozinho eu não conseguiria. Só agora eu tento olhar para quem eu sou hoje de uma maneira mais delicada. Porque tem coisas que a gente não consegue analisar sozinho, por mais que a gente ache que sim. Somos muito teimosos.

No fim, o que todos nós precisamos é de terapia, e eu gostaria de pagar um terapeuta para todo mundo, porque só assim seria possível parar de fazer terapia, já que só sentamos no divã porque os outros não fazem terapia. É isso. É um ciclo horroroso.

Cada um de nós carrega aquele símbolo de frágil na testa, mas a gente esconde e os outros fingem que não carregam. Tá certo que todos nós passamos por poucas e boas nessa estrada da vida, e com isso acabamos vestindo uma certa resiliência, mas isso não quer dizer que as coisas não se quebrem dentro de nós. E aí ninguém se preocupa com a dor e a bagagem do outro. Saem empurrando e derrubando sem o menor cuidado com o próximo. A grosseria anda sendo glamourizada e aí, meu amigo, é um festival de traumas e cabeças perturbadas passando por nós. Só a terapia salva.

Beijos

Rodrigo de Lorenzi

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