E já que o assunto é a Copa do Mundo, por qual motivo não falaríamos dela? Bem, os leitores perceberão no texto, mas eu não sou a favor da Copa do Mundo no Brasil. Não estou dizendo isto porque detesto futebol, pelo contrário, sempre assisti às Copas, vibrei e torci pelo Brasil, como boa patriota que sou.
A minha posição se refere a todo o cenário criado em torno do evento. Falando em um aspecto amplo, greves no Brasil não estão faltando, em todas as esferas da sociedade. Durante o ano, já vi notícias falando da falta de lanche para os funcionários públicos, como policiais militares (PM). Tive notícias também que os cães da PM estavam sem ração. E ainda nem comecei a falar de faltas. Isso mesmo, falta saúde, falta segurança, falta educação. Não critico o evento como Copa do Mundo, mas critico, sim, a má gestão de nossos governantes, o desvio descarado de dinheiro público e a falta de consideração com a população, que é quem está pagando o preço.
Sendo um pouco mais específica, darei um exemplo. Moro e trabalho no mesmo bairro, o Água Verde, em Curitiba, pertinho da Arena, estádio em que serão sediados os jogos aqui na capital. O local onde moro não entrou na chamada “zona de restrição” por apenas duas quadras. Mas fico imaginando quanto tempo levarei para sair de casa durante esse período. O pior é que, na zona de restrição, que é uma área de dois quilômetros ao redor de todo estádio, o bloqueio ocorre para carros e pessoas não cadastradas, carros não podem ficar estacionados nas ruas e o acesso de moradores, táxis e trabalhadores se dará por meio de cinco “pontos” de entrada. Além disso, todas as empresas que ficam dentro do perímetro e no entorno tiveram que readequar todo o seu horário de trabalho, com um prejuízo de horas perdidas de trabalho e produção. O que será sem volta.
E aí fica a reflexão: vale a pena ter Copa do Mundo no Brasil?
Fabíola Cottet
Acho uma análise rasa. Concordo, sim, com a questão do desvio do dinheiro público, com os gastos elevados nos estádios e, mais ainda, com o transtorno o bloqueio na faixa do estádio está causando aos moradores, comerciantes e trabalhadores.
Porém, há 8 anos (!!!) o Brasil se candidatou para sediar a Copa de 2014. 8 anos! De lá pra cá, Lula foi reeleito para o segundo mandato, a Dilma se elegeu. E, veja bem, não acho que o cenário, naquela época, em relação à corrupção, ao desvio de dinheiro e às faltas que você cita fossem assim tão diferentes. Com tudo isso, o que quero dizer, é: para variar, estamos atrasados.
Reclamar é permitido a qualquer tempo. Até hoje podemos reclamar da ditadura, do populismo de Getúlio, das guerras que marcaram o início do século XX. Mas a mudança tem horário. Essas mesmas pessoas que exigem mudança e o fim da Copa no Brasil hoje, estavam, certamente, comemorando a confirmação do Brasil como sede, em 2007. E, em 2006, quando o Brasil candidatou-se, também estavam corroborando o desejo de sermos o país-sede.
E não adianta dizer que não. Desafio a desenterrarmos os perfis de Orkut e vermos as publicações antigas. Que bom que o gigante acordou. Só que continua sonado, perdendo tempo com o que não vai mudar. Afinal, dá menos trabalho do que reservar tempo, reservar vida para acompanhar, de fato e de perto, a vida pública do seu bairro, da sua cidade, do seu estado e do seu país.
E antes de mudar o mundo, é preciso mudar a si mesmo. Essa mudança, para a maioria das pessoas, ainda não aconteceu. E continuaremos sendo pequenos corruptos num país de grandes corruptos. E só somos pequenos porque nos faltou oportunidade para beneficiar a mãe, o pai e o irmão com cargos públicos, para ajudar a empresa do amigo numa licitação de obra pública, para prestar serviços escusos em prol de um dinheirinho extra no fim do mês. 😉