O ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre. Muitos não crescem e muitos não se reproduzem. Muitos só crescem no corpo e muitos não deveriam se reproduzir ou só se reproduzem porque é o normal, porque é bonito, porque não querem ficar sozinhos, porque acham que devem, porque querem.
A vida é dura, o mundo é cruel. Tudo passa. Há quem acredite que tudo acaba aqui. E daí? Há quem acredite que a gente vai e vem até virar não se sabe o que ou ir para o céu ou que a gente vai para o céu direto. Então para que aqui? Explicações…
Que nos resta?
Amar (Carlos Drummod de Andrade): “Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.”
Letícia Ferreira