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out

Que podemos, senão…

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“Sobre a Cidade” de Marc Chagall

 O ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre. Muitos não crescem e muitos não se reproduzem. Muitos só crescem no corpo e muitos não deveriam se reproduzir ou só se reproduzem porque é o normal, porque é bonito, porque não querem ficar sozinhos, porque acham que devem, porque querem.

A vida é dura, o mundo é cruel. Tudo passa. Há quem acredite que tudo acaba aqui. E daí? Há quem acredite que a gente vai e vem até virar não se sabe o que ou ir para o céu ou que a gente vai para o céu direto. Então para que aqui? Explicações…

Que nos resta?

Amar (Carlos Drummod de Andrade): “Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.”

Letícia Ferreira

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