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abr

Choque de realidade

dc3a9bora-2Eu admito: às vezes, reclamo da vida. Muito mais do que eu deveria, é claro, como muitos de nós. Mas hoje tive um choque de realidade. Na verdade, mais um. Mas por que esquecemos tão rápido dos choques de realidade? Porque não os registramos. – Alguns respondem- Porque a vida segue! Porque as coisas têm que continuar! – Mas continuar não quer dizer não mudar, não é?! Então, por que não seguir a vida, mas com uma mudança de atitude? Por que não melhorar?

Hoje passei minha manhã e minha tarde inteiras na raia olímpica da USP fazendo a cobertura da primeira etapa da Copa do Brasil de Paracanoagem. 50 paratletas no mesmo local, 50 histórias de superação, de esperança, de fé. Não só a fé religiosa mas, principalmente, a fé em si próprio, que cada uma daquelas pessoas me mostrava quando passavam por mim em suas próteses, cadeiras de rodas e sorriso no rosto.

Me emocionavam também as famílias, os treinadores, os amigos. Os atletas não estavam lá sozinhos, eles estavam cercados de gente que os amavam e os apoiavam, vibravam e incentivavam. Eu vi rivais nas provas se encontrando na chegada, dizendo parabéns uns para os outros, abraçando-se e se divertindo.

Eu vi a Débora, com má formação nos pés, que se movia sentada no chão e não parava de sorrir. Ajudava seu companheiro a entrar no caiaque. Ela havia acabado de vencer uma prova e, como comemoração, fez uma supermanobra levantando seu corpo sobre o barco e, depois, jogando-se na água. Vi a Maria, a primeira deficiente visual da paracanoagem. Remava sendo seguida por um guia. Quando perguntei a ela- Como você chegou até aqui? -, ela me disse- Não importa quem você seja ou o que você tenha, não há algo que você não possa fazer, você sempre acha algo em que se realizará, e eu achei aqui e vou abrir portas pra outras pessoas acharem também.

Não havia o que se dizer, só concordar e perceber o quão egoísta eu sou quando digo que tenho preguiça, quando acho que não sou capaz de algo, quando me sinto inseguro. Só percebemos isso quando tomamos um choque de realidade. Eu vi ex- dançarino, ex-modelo, ex-lutador. Na verdade, eu vi 50 lutadores, desses que não brigam, mas lutam, pelo esporte, por uma nova vida realizada. Eu registro aqui. Eu não quero me esquecer.

Gustavo Scadalferri

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