“Hoje eu não vou, Vicente!” A frase é um clássico na minha família, em resposta a qualquer convite, e sempre desperta uma cumplicidade divertida. Todo grupo familiar tem os seus códigos, alguns de origem desconhecida de tão antigos, mas grandes sobreviventes da tradição oral. O Vicente em questão é ninguém menos do que o cantor
, que só os mais velhos ou com alguma cultura musical reconhecerão, pelo menos de nome. Nos anos 40/50, era de ouro do rádio brasileiro, ele era um dos maiorais, encharcando corações de sofrência, em agudos e vibratos arrebatados.
Pois ocorre que entrou nas nossas vidas por conta de um casal de vizinhos – vó Maria e vô Santinho – no bairro Getúlio Vargas, popular Vila do Cedro, espécie de Vila das Torres da cidade gaúcha de Rio Grande. Recém-casados, contava Maria, hospedaram Vicente Celestino e seriam convidados de honra do show que ele faria à noite, no auditório da rádio local. Maquiada e bem arrumada, Maria despertou o ciúme de Santinho, que a proibiu de sair naquela boniteza toda. Aos prantos, a moça trancou-se no quarto. O cantor, querendo ajudar, bateu à porta e convidou: “É hora do show. Vamos, Maria?”. E a resposta entre soluços sobreviveu ao episódio: “Hoje eu não vou, Vicente!”.
Temos outros personagens frequentemente invocados no nosso dia a dia. Nenhum tão famoso. Pra dizer a verdade, ninguém mais sabe quem são. É o caso do Angelino, provavelmente um comilão de respeito. Basta que alguém se exceda um pouco à mesa, que vem o bordão: “Mas é um Angelino, mesmo!”. E dá-lhe riso, mesmo que a frase volte várias vezes na mesma refeição, por que no fundo somos todos uns Angelinos. Outro caso de personagem perdido na origem, mas sempre vivo na memória, aparece na sentença: “E deu-se o caso do mascote!”. Que mascote? Ninguém sabe. Mas a frase serve pra tudo, encerrando solenemente qualquer história cujo final seja previsível.
Recentemente, entrou na nossa rotina um personagem cujo nome não vem ao caso, por que está bem vivo e pode ser reconhecido. O fato é que ele gerou uma interjeição que usamos muito, a ponto de amigos de amigos terem passado a usá-la, sem nem desconfiar de onde vem, para expressar alguma coisa entre “que legal!” e “veja só!”. É o já amplamente conhecido “Observe!”. Se você lembra de expressões familiares desse tipo, conta aí, pra gente rir um pouco. Um beijo!
Marisa Valério