Arquivo mensais:maio 2016

27
mai

Observe!

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“Hoje eu não vou, Vicente!” A frase é um clássico na minha família, em resposta a qualquer convite, e sempre desperta uma cumplicidade divertida. Todo grupo familiar tem os seus códigos, alguns de origem desconhecida de tão antigos, mas grandes sobreviventes da tradição oral. O Vicente em questão é ninguém menos do que o cantor
, que só os mais velhos ou com alguma cultura musical reconhecerão, pelo menos de nome. Nos anos 40/50, era de ouro do rádio brasileiro, ele era um dos maiorais, encharcando corações de sofrência, em agudos e vibratos arrebatados.

Pois ocorre que entrou nas nossas vidas por conta de um casal de vizinhos – vó Maria e vô Santinho – no bairro Getúlio Vargas, popular Vila do Cedro, espécie de Vila das Torres da cidade gaúcha de Rio Grande. Recém-casados, contava Maria, hospedaram Vicente Celestino e seriam convidados de honra do show que ele faria à noite, no auditório da rádio local. Maquiada e bem arrumada, Maria despertou o ciúme de Santinho, que a proibiu de sair naquela boniteza toda. Aos prantos, a moça trancou-se no quarto. O cantor, querendo ajudar, bateu à porta e convidou: “É hora do show. Vamos, Maria?”. E a resposta entre soluços sobreviveu ao episódio: “Hoje eu não vou, Vicente!”.

Temos outros personagens frequentemente invocados no nosso dia a dia. Nenhum tão famoso. Pra dizer a verdade, ninguém mais sabe quem são. É o caso do Angelino, provavelmente um comilão de respeito. Basta que alguém se exceda um pouco à mesa, que vem o bordão: “Mas é um Angelino, mesmo!”. E dá-lhe riso, mesmo que a frase volte várias vezes na mesma refeição, por que no fundo somos todos uns Angelinos. Outro caso de personagem perdido na origem, mas sempre vivo na memória, aparece na sentença: “E deu-se o caso do mascote!”. Que mascote? Ninguém sabe. Mas a frase serve pra tudo, encerrando solenemente qualquer história cujo final seja previsível.

Recentemente, entrou na nossa rotina um personagem cujo nome não vem ao caso, por que está bem vivo e pode ser reconhecido. O fato é que ele gerou uma interjeição que usamos muito, a ponto de amigos de amigos terem passado a usá-la, sem nem desconfiar de onde vem, para expressar alguma coisa entre “que legal!” e “veja só!”. É o já amplamente conhecido “Observe!”. Se você lembra de expressões familiares desse tipo, conta aí, pra gente rir um pouco. Um beijo!

Marisa Valério

19
mai

De três em três horas

Há alguns dias fui a uma consulta com a nutricionista. Como faço exercícios físicos, gostaria de saber se eu poderia tomar esses suplementos nutricionais com zilhões de proteínas, de forma saudável e controlada. A resposta foi sim, mas com uma condição: suplemento somente por uns dois meses, depois eu devo buscar os nutrientes nos alimentos de verdade. Que gostoso, pensei. Mas aí veio a dieta. É necessário comer de três em três horas.  Comer-a-cada-3-horas-funciona

Parece uma coisa fácil, mas não é. Estamos tão habituados a comer apenas quando sentimos fome que acabamos demorando umas quatro, cinco horas entre uma refeição e outra. E não pense que é para comer essas guloseimas maravilhosas, não. Bolachas? Jamais! Chocolate? Não, não! Apenas fruta? Não adianta nada! O ideal, entre uma refeição e outra, é comer algumas castanhas, nozes, frutas secas, amendoins, amêndoas, todos produtos bastante acessíveis que custam uns R$ 80 cada grama. Não está sendo fácil. E a médica ainda me mandou comer batata doce. Quem foi que teve a ideia de criar uma batata que é doce?

Embora seja uma dificuldade imensa lembrar que preciso comer de três em três horas – não vale bolachinha recheada, hein – sou um moço muito disciplinado. Compro castanhas, iogurte e biscoitos saudáveis, tudo para que minha nutricionista tenha orgulho de mim. Eu até forço na batata doce.

Mas agora já são quase 18h e eu mereço uma Negresco bem gordinha.

Rodrigo de Lorenzi

12
mai

A maternidade com mais leveza

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Nestes últimos dias as redes sociais foram tomadas por imagens fofas de demonstrações de carinho entre mães e filhos. O Dia das Mães gera essa comoção coletiva e faz com que as pessoas façam declarações de afeto, gratidão e amor para as suas mães. Da mesma forma, as mães publicaram fotos dos filhos, com muito orgulho e admiração.

Mas o que mais me chamou a atenção é que muitas postagens feitas pelas próprias mães são carregadas de mensagens do tipo “Noites mal dormidas, comida fria, falta de tempo e preocupações, tudo isso é recompensado quando recebemos o sorriso de um filho”. As mães relacionam a maternidade com exaustão, cansaço e muito esforço. A maioria das mensagens tem um tom de melancolia.

Questiono-me qual é o verdadeiro significado da maternidade. Se ao invés de ficarmos reclamando e enaltecendo o quão difícil é a tarefa de ser mãe, brincássemos mais com nossos filhos. Podemos escolher uma vida mais leve, sem tanta culpa. Uma mãe não precisa ser perfeita. Também temos o direito ao cansaço, a usar o nosso tempo para fazer coisas que nos dão prazer, de ter dias de mau humor, enfim, somos de carne e osso. Os filhos precisam compreender isso e aprender a respeitar nosso espaço.

Tenho dois filhos incríveis. Escolhi ser mãe e amo muito tudo isso. Não me cobro tanto. Faço o meu melhor possível sempre, mas não sou perfeita. Então, me dedico mais a amar e ser amada. Sem sofrimento.

Acho que a maternidade pode ser mais simples do que parece. Vamos nos divertir mais.

Bjs,

Aline Cambuy

5
mai

Desprevenidos

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Uma vacina serve para prevenir contra uma doença. O lance principal é colocar no corpo do sujeito um vírus fraquinho, morto ou parecido com o de verdade pra ensinar o organismo a se defender. Coisa de louco, e que funciona.

Desde 2004 a Talk atende o Frischmann Aisengart. Lembro bem que, em 2009, quando rolou a pandemia da gripe H1N1 (naquela época o pessoal chamava de suína), foi um auê. Mal dava pra você espirrar no elevador sem ser linchado. Chegaram as vacinas, foi uma correria de fim de mundo lá no Laboratório. Daí a moçada relaxou e, em 2012, um novo surto e nova maratona às vacinas. Filas de virar o quarteirão no Frischmann e cobertura diária da imprensa. Novo ciclo de “deixa pra lá” da população e, neste ano, o pânico chegou mais cedo, com cem mortes pela gripe registradas no Brasil ainda em março.

No Frischmann, 21 mil doses de vacina foram vendidas em míseros 13 dias de abril. E depois, nenhum fabricante com lotes disponíveis para venda. Filas na vacinação pública. O pessoal do Laboratório dando entrevista a torto e a direito.

Ouvi uma teoria médica que me pareceu coerente: o vírus volta porque as pessoas deixam de se vacinar, e a imunização cai no decorrer dos anos. Se for isso mesmo, seria de ser prever que nos próximos dois ou três anos não haverá surtos de gripe. Mas, em no máximo quatro, caso continue o velho hábito de não se vacinar em períodos em que não há frisson, a gripe volte com tudo. Tomara que não.

Beijos,

Karin Villatore