Arquivo mensais:fevereiro 2019

26
fev

As mudanças e a memória afetiva

Memória-afetiva

Saí de casa aos 28 anos para morar sozinho. Era um apartamento minúsculo, no mesmo bairro onde já morava, com sala, cozinha, quarto e banheiro, tudo no mesmo ambiente. Era minha mansão, claro. Foram dois anos de aprendizado. Virei amigo da solidão e jamais me senti solitário. Aprendi a apreciar minha companhia. Não conheço o que é tédio.

Mas depois de dois anos, resolvi me mudar para um apartamento maior, agora dividindo com outra pessoa, em outro bairro. Novos contextos e novas referências. Novo chão, velha constelação.

A parte burocrática da mudança é um troço muito insuportável de chato. Fretes, instalação de armário, chuveiro que queima, vistoria de apartamento, instalação de internet, bagunça, arrumação, inventário de coisa que eu nem sabia que tinha. Mas ao mesmo tempo em que tudo está uma zona completa, tudo também está lindo.

Eu me mudei para um bairro em que cada lugar ativa algo na minha memória afetiva. Foi lá onde boa parte da minha família viveu por muitos anos. A cada pedacinho do bairro, eu lembro do cheiro do café da minha bisavó, dos passeios com a minha avó, da alegria de pegar um ônibus quando criança, do apartamento onde minha tia viveu, do cheiro do chocolate enquanto minha tia preparava ovos de Páscoa, da sensação de ter ido ao cinema pela primeira vez, das brincadeiras com a minha prima no pátio de casa, do barulho da máquina de costura da minha bisavó.

É estranho, até meio mágico, o poder da memória. Esses dias entrei no apartamento e algum cheiro me transportou para uma época que eu nem lembrava que ainda existia dentro de mim. Quando fui dormir a primeira noite no apê novo, o barulho incessante de carros passando na rua me fez adormecer rapidamente, porque era o mesmo barulho de quando eu visitava minha bisa. A sensação é de pertencimento. Que coisa doida! Estou em casa.

19
fev

Planejar é tão bom quanto viajar

Aline

Nunca comprei um pacote promocional de viagem. Algumas vezes até tentei, mas não consegui me interessar de verdade pelo roteiro proposto. Não porque os pacotes não sejam bons, tem algumas opções que parecem ótimas, mas acho que o principal motivo é o fato de eu gostar de planejar a própria viagem.

Sou dessas que começa a viajar antes mesmo de definir o destino. Pesquiso os destinos, a melhor época do ano para visitar cada um deles, as opções de lazer, transporte, hospedagem, as passagens e, claro, a opinião de outros viajantes. Procuro sempre escolher um destino que eu não conheça. Tem tanto lugar que ainda quero conhecer, que evito repetir os lugares já visitados.

Sobre as vantagens de montar meu próprio roteiro, a principal delas é que é possível definir a viagem de acordo com os meus interesses e de quem está viajando comigo. Para mim, montar o roteiro é tão prazeroso, que se torna uma das etapas mais importantes da viagem. Nessa busca me surpreendo com cada coisa legal que não integra os pacotes tradicionais e normalmente são experiências incríveis.

Estudando as possibilidades que cada destino oferece, fica mais fácil definir qual será o melhor lugar para se hospedar e quantos dias serão ideais para conhecer o local. Além do mais, com planejamento e pesquisa é bem possível economizar muito.

Aproveito para deixar algumas dicas de sites que me auxiliam nessas buscas:

http://www.melhoresdestinos.com.br/ (Baixei o aplicativo no celular e recebo muitas ofertas de passagens aéreas. Já comprei e recomento).

https://www.passagensimperdiveis.com.br/  (Também baixei o aplicativo, mas ainda há poucas ofertas de passagens).

https://www.airbnb.com.br/  (Além de excelentes opções de hospedagens, tem opções de comprar experiências bem interessantes. Os preços costumam ser muito mais baixo que os hotéis e existem acomodações para todos os gostos. Já aluguei excelentes casas com piscina no Nordeste e me surpreendi).

www.booking.com (Ideal para comparar preços de hotéis e permite fazer reserva com cancelamento grátis, dependendo da política da acomodação. Ótimo para garantir hospedagem e ainda continuar procurando outras opções. Só fique atento a data limite de cancelamento sem custo).

https://www.hoteis.com/ (Permite pagar tudo antes da viagem, já incluindo o IOF e todas as taxas. Isso evita possíveis surpresas com taxas e variação do dólar).

https://www.viajenaviagem.com/ (O colunista da Band News Ricardo Freire dá excelentes dicas baseadas nas dúvidas que recebe dos seus ouvintes. Bem interessante).

Bjs,

Aline Cambuy

12
fev

Não estamos no controle

game

Ano passado fui surpreendida por uma paralisia facial periférica – a tal da “Paralisia de Bell”. Já tinha ouvido falar vagamente da dita cuja, mas não tinha ideia da batalha que eu iria enfrentar. Fiz um vídeo rindo, o dia era 15 de julho. Achei que em menos de um mês estaria boa. Pois bem: estou entre os 15% que levam bem mais tempo para recuperar as funções faciais. Se você ainda não deu um Google ou não conhece a doença, é aquela em que a gente fica com a cara de quem teve um AVC – metade do rosto parece que derreteu. É horrível, dá vergonha de sair na rua e uma sensação irritante de impotência: “perdi o controle do meu próprio rosto”, pensei.

Será que eu iria ficar daquele jeito pra sempre? Os neurologistas pediam paciência. Muitos médicos me disseram que tudo o que eu podia fazer era fisioterapia e esperar. Continuo fazendo isso. Embora a sobrancelha ainda não se mexa, o sorriso melhorou bastante e quando estou quieta ninguém percebe por tudo o que passei nos últimos sete meses. Eu até já consigo piscar – sim, porque fiquei meses sem conseguir fechar 100% do olho esquerdo. Mas não estou te contando isso tudo para você ficar com pena ou assustado, e sim para dizer algo que aprendi com a melhor médica que encontrei nessa caminhada, a Dr.ª Aline Barreto. Ela é uma baita acupunturista e, pra mim, também uma excelente terapeuta: ela diz que a gente não tem ideia do quanto não está no controle de nada do que acontece em nossa vida. Se até o nosso corpo pode se rebelar contra nós, a despeito de nossos planos, imagina tudo o que está ao nosso redor. Não é que não sabemos o dia de amanhã. Não sabemos o minuto seguinte.

Tive vontade de compartilhar esse “insight” porque acredito que ele facilita viver e aceitar o que vier pela frente – não passivamente, mas sim enfrentar nossas lutas e entender que não estamos no controle de nada, e que coisas ruins, infelizmente, vão acontecer. Boas também. Ótimas. Algumas incríveis. E outras nem tanto. O importante é aprender, como diz a sábia Dr.ª Aline, a lidar com as dificuldades e ser feliz apesar delas. Não estou dizendo pra você deixar de planejar o futuro, seja o jantar de hoje, ou a viagem no fim do ano, veja bem. Estou te alertando que em alguns segundos tudo pode mudar. E aceitar essa falta de controle pode ser a chave para viver melhor o agora. Então, apenas seja feliz e “descontrole-se”.

Luciana

5
fev

De saudade, orgulho e inveja!

Tempos de Copa, alegria e esperança.

Tempos de Copa, alegria e esperança.

Nas mãos, em papel jornal, a edição histórica dos 100 anos da Gazeta do Povo. Os olhos leem a capa e identificam os elementos gráficos: a “linguiça”, trazendo notinhas do lado esquerdo, a manchete e a foto principal em cinco colunas, os titulinhos e as chamadas ao pé da página.

Rever uma edição da Gazeta em papel pode ser nada para quem nunca desenhou e editou uma primeira página, mas é muito para quem participou dessa gincana por anos a fio. O passado não tem idade e o coração dispara com as lembranças: a tensão do diagrama em branco e de escrever a manchete, a dúvida sobre a melhor foto, a dificuldade de derrubar chamadas importantes em troca de outras mais importantes ainda…

O medo eterno de em poucas horas – entre a meia-noite e as seis da manhã – descobrir que escolheu errado: a manchete era outra, havia uma foto melhor, alguma coisa ficou de fora daquelas seis colunas.

Quando isso acontecia, o dia virava uma desgraça só. Em compensação, as boas capas davam um orgulho danado e até as reuniões de MCIs ficavam mais suportáveis.

A edição especial veio com 96 páginas, mas algumas delas – além da prima – são como gatilhos de saudade: a Coluna do Leitor, Entrelinhas, as páginas de opinião…

O mergulho definitivo na nostalgia vem nas crônicas refinadas da Marleth Silva e na avalanche de memórias do José Carlos Fernandes, dois dos grandes com quem dividi minha vida durante 15 anos. Com tantos nomes para recordar e homenagear, o Zeca achou tempo pra me citar e me fazer inchar de orgulho.

Tá certo que não foi por minhas (in) competências jornalísticas, e sim pela cantoria com que torturava os colegas a cada fechamento.

Mas duvido que vocês não estejam morrendo de inveja!

Marisa