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As saudades e ciladas da nostalgia

Nostalgia

O cinema, a TV, a música e até mesmo a política têm investido bastante em produções e estratégias nostálgicas nos últimos anos, em especial desde 2015. É perceptível no aumento de remakes, revivals, turnês saudosistas e candidatos que tentam disfarçar a naftalina, tudo ao gosto do público que, depois de praticamente esgotar as opções de consumo “oitentista”, agora volta sua nostalgia à década de 1990.

Vamos aos exemplos: a série “Stranger Things”, a turnê de Sandy & Júnior, a novela global “Verão 90”, o novo “O Rei Leão”, a volta do especial “Amigos” sertanejos, e até o “Xou da Xuxa” estão entre nós às vésperas da chegada de 2020 – com força total e bilheterias esgotadas. Se, por um lado, é bacana curtir a saudade das décadas passadas e rever/revisitar ídolos e sucessos, é preciso cuidado para não cair nas ciladas da nostalgia excessiva.

Quem assistiu “Meia Noite em Paris”, de Woody Allen, sabe bem o que estou falando: um escritor infeliz, em crise de identidade em sua realidade dos anos 2010, magicamente se vê transportado para a Paris da década de 1920, repleta de artistas, boêmia e efervescência cultural. O autor não quer mais sair de lá, tamanha sua realização.

Eis que, no desenrolar da narrativa (sem dar spoilers), ele se dá conta que os parisienses daquela época consideravam a Belle Époque um período histórico muito superior, ao passo que aqueles artistas da virada do século 19 comentam que a Renascença, sim, devia ser excelente… Percebem a ironia?

O ser humano tem a estranha mania de se apegar ao passado e, mesmo que no fundo saiba que enfrentou muitos perrengues, acaba por idealizar apenas os bons momentos vividos: a infância (sua ou dos filhos), o antigo emprego, o governo daquele político de sua preferência, a música da adolescência e assim por diante.

Quer prova maior do que a década de 1980, marcada pela abertura democrática no Brasil, pelos últimos anos da Guerra Fria e pelas dificuldades da hiperinflação que a consideram a “década perdida”, e ainda assim cultuada como tempos gloriosos pela cultura pop?

É bom rememorar as coisas boas do passado, mas nunca se esqueça de (bem) viver o presente, tornando o momento atual uma boa lembrança em alguns anos.

André Nunes

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