23
jun

Pela rua

rua

Uma laranja voa no para-brisa do carro ao lado, parado no sinaleiro. O motorista, distraído pelo celular, leva um susto. Fico sem saber se rio ou se choro. O malabarista pra lá de improvisado faz uma cara de dar dó, enquanto tenta juntar as laranjas do chão, desculpar-se com o dono do carro e ainda recolher algum trocado, que a vida não tá fácil…

Na esquina seguinte, uma criatura sem camisa, inteirinha pintada de prateado, tiritava de frio numa dança esquisita que pretendia imitar os movimentos de um robô. Mais adiante, o casalzinho de namorados se revezava entre bandeirinhas e cones coloridos, passando o chapéu entre as janelas fechadas.

Minhas moedas se acabam enquanto penso na indigência do sujeito que tenta se estabelecer como artista de rua, seguindo o rastro dos argentinos e seus dreads, que há alguns anos trouxeram a moda para o Brasil.

Em que episódio do Faustão ele tentou aprender a se virar nos 30 segundos do sinal vermelho, em que boteco da Barão do Serro Azul ele jogou para cima as primeiras laranjas, em que mundo estamos para encontrar em cada esquina o retrato cada vez mais tenebroso do nosso empobrecimento…

O frio torna tudo pior. Até o meu humor.

Marisa Valério

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