28
jan

Os diversos caminhos das palavras

Houve um tempo em que eu escrevia sem parar. No fim do caderno, na agenda, na mesa, no banco da sala de aula, na parede do meu armário. Sentia a necessidade de me expressar através das palavras – as quais eu não mostrava para ninguém. Era como se elas, as palavras, fizessem com que eu me entendesse melhor, ou talvez elas me compreendessem de um jeito que nem eu saberia fazer. Não sei quando aconteceu, mas a ânsia por escrever foi parando com o tempo. Tive um blog genial, com um título genial e uma ideia genial. Não saiu do total de 03 posts. Quem sabe um dia eu ainda o retome, para ver se retomo também o gosto pelas palavras – que devem estar se sentindo esquecidas. Elas, que me ajudaram tanto nos momentos mais difíceis.

Houve também um tempo em que eu acreditava que as minhas palavras eram mágicas. Como se elas fossem tão fortes que pudessem fazer acontecer o que eu desejasse. Um dia, no início da minha adolescência, li que eu deveria escrever o que mais queria e colocar no meio da
2bíblia. É, da bíblia. Não sei se foi vontade divina, mas deu certo. Evento semelhante aconteceu anos depois, mas desta vez sem nenhuma intervenção do cara lá de cima. Escrevi meus sentimentos mais obscuros, que eu não revelava para ninguém, nem para mim mesma, num moleskine no qual eu só escrevia com caneta preta de gel. As coisas mudaram e aconteceram conforme aquele conjunto de letras havia sido montado. A mudança não foi boa e eu percebi que aquilo, escrito num momento de tanta sinceridade, não era tão honesto assim. O resultado foi um autoconhecimento que carrego comigo até hoje.

Houve depois o tempo em que as palavras se tornaram obrigação. Perderam a minha personalidade e a mágica, mas não o encanto. Ficaram mais sérias, questionaram vertentes filosóficas, discutiram fatos políticos e relataram acontecimentos, bons e ruins. Aprenderam a se transformar em um lead, a responder os 5W, a fazer pausa para o TP e a resumir um texto de duas laudas em passagens e OFFs. Esqueci as palavras que sentiram minhas lamúrias e parti para aquelas que me ajudaram a redigir currículos, a fazer relatórios, a anotar meus compromissos. Troquei as letras de música por anotações perdidas sobre eventos importantes. Guardo uma coleção de caderninhos e canetas que esperam as palavras antigas voltarem. E eu sei que elas um dia voltam, pois, adaptando as célebres palavras escritas por Oswaldo Montenegro em um dos meus poemas favoritos, metade de mim é sentir, e a outra metade também.

Amanda Pofahl

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