Arquivos da categoria: literatura

8
ago

Os 4 livros de julho

valkirias-o-conto-da-aia

Aqui estou eu novamente para falar sobre últimos livros lidos. Eu sei, eu sei, sou muito monotemático, mas tem sempre alguém querendo dicas de livros (e eu sempre quero falar sobre isso). Então aqui vai.

  1. Não tive nenhum prazer em conhecê-los
    Autor: Evandro Affonso Ferreira

Bem, o Evandro Affonso Ferreira é um autor conceituadíssimo, vencedor de APCA e Jabuti. Portando, é meio que “alta literatura”, né? Não gosto muito dessa denominação, mas enfim. “Não tive nenhum prazer em conhecê-lo” é um romance, mas parece uma coletânea de frases, poemas e reflexões sobre a vida, a velhice e tudo o que há no meio. O autor é mestre em brincar com as palavras e em explorar nosso idioma de todas as formas. São frases nada comuns, então tudo soa original, até desafiador. Foi uma experiência gratificante. Em alguns momentos, porém, algo me soava pretensioso demais. De qualquer forma, são ótimas reflexões sobre esse mistério que é envelhecer, sem jamais cair no senso comum.

  1. Hibisco Roxo
    Autora: Chimamanda Ngozi Adichie

A adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família.

Impressionante como esse livro é opressivo do início ao fim. Isso não é algo ruim, mas essencial para nos colocarmos um pouquinho na pele dos personagens. Ao mesmo tempo em que ‘Hibisco Roxo’ parece sufocar o leitor, quando a obra te liberta parece que você volta a respirar aliviado. Incrível.

3. O Conto da Aia
Autora: Margaret Atwood

A história acompanha a vida de Offred, uma criada na casa do líder da República de Gilead. Esta é uma sociedade totalitária onde a alfabetização foi proibida para mulheres. Ela surgiu com a catástrofe ambiental e com o avanço da baixa natalidade. Tendo como base o fundamentalismo religioso, esta sociedade trata as mulheres como propriedades do estado. Offred é uma das últimas mulheres férteis, o que a leva ser utilizada como escrava sexual com o objetivo de ajudar a repopular o planeta devastado.

Angustiante e absurdamente atual (parece romance de 2019). Infelizmente vi a série antes de ler, o que diminuiu consideravelmente o impacto. Mesmo assim, excelente.

  1. My Year of Rest and Relaxation

Autora: Otessa Moshfech

A protagonista desse livro não tem muito do que reclamar: é linda, herdeira e mora bem. Mas ela está cansada, muito cansada. Ela quer dormir por um ano. Hibernar. Se desligar do mundo todo, das pessoas, dos problemas banais. E é isso que ela faz. Planeja dormir por um ano e acordar só para fazer coisas básicas, para depois renascer uma nova pessoa.

Eu me identifiquei mais do que eu gostaria com a protagonista. A vida é cansativa e, às vezes, dá vontade de dormir por uma semana inteira. Imagina que delícia. Sem WhatsApp, sem Facebook, sem notícias desse governo maldito, sem as banalidades tão exaustivas do dia a dia. Hibernar até que a gente se sinta descansado e possa recomeçar, olhar o mundo de outra forma.

Rodrigo de Lorenzi

 

2
jul

As “Esquecidas” Aventuras do Rei Pausolo

Esse negócio de pintar livrinho não está com nada. Finalmente consegui um exemplar da única tradução brasileira das “Aventuras do Rei Pausolo”, um dos mais divertidos romances galantes/eróticos que se tem notícia. Escrito pelo francês Pierre Louÿs, a obra veio a público em 1901, na França. A história foi um tremendo sucesso mundial. Chegou ao Brasil em 1911, publicado a partir do número de estreia do semanário fescenino “O Riso”. Nos anos 1930, o livro virou uma opereta e logo depois um filme dirigido por Alexis Granowsky. Vamos então a uma sucinta apresentação. Louys_Pausole_page_de_titre

O Rei Pausolo era o soberano absoluto de Tryphemia, local de estonteante beleza natural, mas nunca comentado nos livretos de história e geografia. Dizem que por ser tão belo e com uma cultura tão diferenciada, os historiadores preferiram manter em segredo a localização do reino, para afastar os curiosos desta terra encantadora.

Debaixo de uma cerejeira (pois além da sombra, fornecia frutos maravilhosos), Pausolo solucionava tranquilamente o problema dos seus súditos. As decisões eram baseadas nas duas únicas leis em vigor em Tryphenia:

1 – Não incomode seu vizinho.
2 – Bem entendido o primeiro artigo, cada qual pode fazer o que bem quiser.

Cultores da simplicidade e do bom gosto, em Tryphenia todos deveriam andar nus, desde que tivessem corpos bonitos. Toda noite, Pausolo escolhia uma das suas 366 mulheres (uma por dia, prevendo anos bissextos) para compartilhar sua cama. Por mais de 20 anos o reino segue em perfeita harmonia e paz, até que a filha de Pausolo decide fugir do castelo real. A partir daqui, deixo para você, leitor curioso e que não é dublê de pintor, buscar as Aventuras.

Este livro, praticamente esquecido em terras brasileira nos dias de hoje, ainda ecoa em movimentos diversos, de wickas a alternativos chinelão de couro, de apreciadores do naturismo a bem comportados juristas, que reverenciam o bom humor, a benevolência, a indecisão, o erotismo e a justiça do reinado de Pausolo. O único defeito da edição brasileira, de 1956, é de que não contêm as ilustrações que tornaram ainda mais célebre o livro, já que existem edições estrangeiras ilustradas por nomes como Carlège, Lucien Métivet, entre outros. Adoraria ver este romance encenado, quem sabe algum dia algum dramaturgo brasileiro se anime. Diversão e sucesso de público garantidos.

José Daniel