Arquivo mensais:janeiro 2019

29
jan

Paraíso perdido

inhotim-2016

Em 2016, em viagem de férias mochilando por Minas Gerais, tive o prazer de visitar Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, cidade do belíssimo “parque-museu” do Instituto Inhotim, que se tornou parada turística obrigatória desde seu lançamento, em 2006.

O local é, sem dúvida, um dos mais belos espaços de natureza e arte contemporânea do país, verdadeiro museu a céu aberto para todos os públicos, gostos e idades. Tamanha é a beleza natural, com ares futuristas das edificações, que Inhotim se tornou cenário da segunda temporada da série brasileira 3%, da Netflix, justamente como ambientação para o paradisíaco Maralto – a ilha de prosperidade para os 3% da população que “tivessem mérito” para lá estar, fugindo do continente miserável num futuro pós-apocalíptico.

Inacreditável, a realidade muitas vezes se sobrepõe à ficção. Na última sexta-feira, 25 de janeiro, Brumadinho teve seu paraíso natural invadido pela lama da barragem da Vale, em mais um crime ambiental de grandes proporções, apenas três anos depois da tragédia na também mineira Mariana.

A região está devastada, o meio ambiente agonizará por vários meses até que a recuperação tenha início, e levará alguns anos para voltar minimamente ao normal. Se é que voltará: Mariana ainda sofre com os efeitos de sua barragem negligenciada.

Inhotim, por sua vez, está com atividades suspensas e fechado ao público até fevereiro. Sabe-se que a área do instituto está preservada, mas boa parte da estrutura ao redor, incluindo pousadas, não teve a mesma sorte.

À indignação dos brasileiros, soma-se a sensação de impotência por mais um crime ambiental não ter sido evitado. E a esperança de que, quem sabe dessa vez, aprenderemos a lição. Ou reduziremos os riscos de mais barragens estourarem. Assim esperamos. Nosso patrimônio natural e ambiental agradece.

André Nunes

22
jan

Meus melhores livros de 2018

blog-ro

Eu sei que 2018 já acabou e 2019 já começou com bastante calor, mas como eu passei o ano inteiro falando de livros, não poderia deixar de fazer uma pequena lista das melhores obras lidas, não é mesmo?

Fiquei contente ao perceber que, entre vários projetos, as pessoas colocaram “ler mais” como item da lista pessoal. Garanto que o ano será bem mais leve. Aqui vai minha contribuição. Os 10 melhores livros lidos em 2018!

  1. A Visita Cruel do Tempo (Jennifer Egan)

Surpreendente, A Visita Cruel do Tempo combina diferentes pontos de vista sobre histórias que se entrelaçam de maneiras inesperadas. Ao longo dos sabores e dissabores da vida dos personagens, a autora Jennifer Egan traça um interessante panorama sobre crescimento, perda e ambição e sobre o que acontece entre o que esperamos de nossa vida e o que se torna realidade.

“É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?”

  1. Me Chame Pelo Seu Nome (André Aciman)

O filme é bom e o livro melhor ainda. Com rara sensibilidade, André Aciman constrói uma viva e sincera história de paixão, em um romance no qual se reconhecem as mais delicadas e brutais emoções da juventude.

  1. O Que Deu Para Fazer em Matéria de História de Amor (Elvira Vigna)

Os mesmos fatos. Que mudam, dependendo de como são contados. Pode ser que façam uma história de amor. Do tipo amor total, desses que só se ouve falar. Pode ser que façam a história de um crime. No fim, uma questão de escolha. A narradora deste livro se vê debruçada sobre a vida de duas pessoas já mortas. São lembranças sem importância. Vestígios concretos de uma vida. Elvira Vigna é incrível.

  1. Notes On A Scandal – What Was She Thinking? (Zoe Heller)

Barbara Covett é uma professora veterana de um rigoroso colégio e fica amiga de Sheba Hart, a nova e carismática professora de artes. Barbara descobre que a amiga está tendo um caso com um aluno e começa um jogo de manipulação e obsessão de uma mulher solitária e carente.

  1. Lavoura Arcaica (Raduan Nassar)

André saiu de casa por que era sufocado pelos pais. Anos depois ele cede aos apelos da mãe e volta para casa. Ele irá quebrar definitivamente os alicerces da família ao se apaixonar por sua bela irmã. Texto forte e difícil de ler.

  1. Incidente em Antares (Érico Veríssimo)

Em dezembro de 1963, uma sexta-feira 13, a matriarca Quitéria Campolargo arregala os olhos em sua tumba, imaginando estar frente a frente com o Criador. Mas logo descobre que está do lado de fora do cemitério da cidade de Antares, junto com outros seis cadáveres, mortos-vivos como ela.

Uma greve geral na cidade, onde até os coveiros aderiram, impede o enterro dos mortos. O que fazer? Os distintos defuntos, já em putrefação, resolvem reivindicar o direito de serem enterrados, do contrário, ameaçam assombrar a cidade. Seguem pelas ruas e casas, descobrindo vilanias e denunciando mazelas. O mau cheiro exalado por seus corpos espelha a podridão moral que ronda a cidade. Maravilhoso Veríssimo. Essencial leitura para os dias de hoje.

  1. Canção de Ninar (Leila Slimani)

Apesar da relutância do marido, Myriam, mãe de duas crianças pequenas, decide voltar a trabalhar em um escritório de advocacia. O casal inicia uma seleção rigorosa em busca da babá perfeita e fica encantado ao encontrar Louise: discreta, educada e dedicada, ela se dá bem com as crianças, mantém a casa sempre limpa e não reclama quando precisa ficar até tarde. Aos poucos, no entanto, a relação de dependência mútua entre a família e Louise dá origem a pequenas frustrações – até o dia em que ocorre uma tragédia. Livro para ler cheio de tensão nas costas.

  1. Desonra (J.M. Coetze)

Conta a história de David Lurie, professor de literatura que é expulso da universidade após ter um caso com uma aluna. Com um ritmo narrativo que magnetiza o leitor, o romance investiga as relações entre uma cultura humanista e a situação social explosiva da África do Sul pós-apartheid. Devastador.

  1. Nada a Dizer (Elvira Vigna)

Nada a Dizer é a história de um adultério, narrada do ponto de vista da mulher traída. No entanto, muito mais do que o inventário de perdas e danos em que costuma consistir esse tipo de relato, o que se encontra é uma investigação minuciosa das motivações de cada um dos envolvidos, bem como uma discussão indireta das possibilidades de entendimento amoroso no mundo urbano contemporâneo.

  1. O Sentido de um Fim (Julian Barnes)

Um homem atormentado por seu passado encontra um fato que o faz repensar sua vida. Tony tenta enfrentar a verdade e assumir a responsabilidade pelas ações que tomou há muito tempo.

Rodrigo de Lorenzi