Arquivo mensais:novembro 2015

26
nov

“Os Dez Mandamentos” e a beleza do kitsch

moises

Nesta semana, teve fim a tão comentada novela do horário nobre da Rede Record, “Os Dez Mandamentos”. Ou, conforme o espectador descobriu, não foi um final propriamente dito: no ano que vem, a partir de março, haverá uma segunda temporada das histórias  da trupe de Moisés. Que a emissora tentou, a todo custo, prolongar o sucesso da atração, é fato. Que ela perdeu qualidade por isso, idem. Isso não quer dizer, contudo, que a adaptação escrita por Vivian de Oliveira não tenha o seu valor.

Mas antes de falar sobre isso, gostaria de comentar acerca das “opiniões especializadas” sobre o assunto. Se a novela gerou boa audiência, chegando por vezes a bater a Globo, a crítica, digamos, “profissional”, de imprensa, a desprezou.

Na Folha de S. Paulo – exemplo que escolho citar aqui por se tratar do maior jornal do país, e cuja análise resume bem a tônica geral – podemos ler um texto que é mais revelador sobre quem o escreveu – suas idiossincrasias, seus juízos de valor etc – do que sobre a história de Moisés e companhia. Escreve a repórter, acerca do capítulo mais aguardado, no qual os hebreus atravessam o Mar Vermelho: “O senso do espetáculo era tanto que ao primeiro sinal do mar abrindo Fafá de Belém poderia surgir cantando ‘vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão, e Galvão Bueno narraria esbaforido: ‘É tetraaaaa!’”.

Toda crítica é, sim, uma tomada de posição. Mas isso não significa que o crítico não deva ter um domínio dos códigos que propõe analisar. Do contrário, a crítica se torna mera impressão – algo de que a internet já está cheia.

Dentre as muitas críticas “especializadas” que pulularam pela web estão as que dizem respeito ao aspecto religioso dos donos da emissora, em cujo mérito não entrarei. Em outras, podemos ler ressalvas sobre certo “engessamento” ou “artificialidade” dos atores. Pois uma telenovela, dizem os entendidos de plantão, deve ser naturalista, isto é, ter atuações que façam jus à realidade.

Essa visão de que à novela cabe ter os pés fincados na realidade, me parece, é uma boa razão para explicar a queda de audiência das novelas da Globo no horário das 21 horas. A emissora parece crer nessa estética do real, ao menos na faixa em questão. E, indo além, parece buscar certa inspiração dos anti-heróis contemporâneos, presentes em seriados norte-americanos, ainda que por vias um tanto tortas.

Na recente Babilônia, por exemplo, quem estivesse zapeando e caísse no canal enquanto a atração era transmitida poderia conferir a qualquer instante as protagonistas, ambas vilãs, em pé de guerra, sempre ofendendo muito uma a outra. Em um seriado americano, de doze capítulos por temporada, e uma hora por semana, tal fórmula “pesada” pode até funcionar bem. Mas numa atração diária, em horário nobre, pode ser bastante cansativa – razão primordial do fracasso de Babilônia, acredito. Pois de amarga, já basta a vida.

“Os Dez Mandamentos” caminhou justamente na direção oposta. Seu charme residiu em seu aspecto de exagero: na voz de radialista das antigas de Deus enquanto conversava com Moisés; nos rompantes de fúria do faraó, vilão arquetípico, contra os hebreus; em certa inocência/simplificação no retrato das relações humanas, sejam de amor ou familiares. Há uma beleza, algo de lúdico, no kitsch produzido pela Record.

Some-se também o aprimoramento não apenas cosmético como estético – sim, até as escolhas da decupagem Record ficaram mais sofisticadas, menos aleatórias, se comparadas com atrações antigas – com o fato de que temos agora uma versão brasileira de uma narrativa tradicionalíssima da cultura ocidental, e possuímos razões de sobra para entender o sucesso da novela de Moisés.

 Daniel Felipe

18
nov

O homeopata e a melhor tapioca do mundo

homeopataEsses dias fui ao homeopata – coisa que não fazia desde criança. Não lembrava como uma consulta podia ser tão divertida. O médico, um daqueles da velha guarda, abriu seu livrão e começou a fazer perguntas aparentemente aleatórias que no final dariam em um diagnóstico para meus males. “Você dorme com os pés cobertos ou descobertos?” Perguntou o homeopata, com aquela cara de muito interesse que eles têm. E assim a consulta transcorreu, com várias perguntas que pareciam um tanto aleatórias e outras que me fizeram pensar na vida. Sempre com um assunto recorrente: o meu interesse por gatos. Tipo: dez perguntas e, de repente: “E você gosta de gatos?”. É, eu também não entendi.

Depois de uma meia hora de perguntas – algumas bem embaraçosas – uma receita com gotinhas que devem mudar minha vida. E um aviso: “você só precisa deixar de comer duas coisas: leite e trigo”. Ou seja: basicamente tudo! Mas, de fato, manipulei as gotinhas, cortei o glúten (já não sou muito de leite – só diminui o queijo) e tenho me sentido melhor. Continuo gostando de gatos.

E a tapioca? A tapioca substitui o pão. E tenho uma dica pra quem não consegue deixar a massa de tapioca igual aquelas de feira: não precisa peneirar, é só espalhar a goma sobre a frigideira fria. Aí você modela a massa e só depois liga a boca do fogão. Depois é só esperar a tapioca esquentar pra dar liga e rechear. Meus cafés da manhã nunca foram tão gostosos!

Luciana Penante

12
nov

É Natal!

Abro a agenda e me dou conta de que estamos quase na metade do mês de novembro. As lojas já estão tomadas por promoções de Natal. Nas vitrines são muitas as opções de presentes e de artigos de decoração. Eu me realizo, amo enfeitar a casa. Montar pinheirinho com as crianças é um programa divertido. Gosto de pensar em cada detalhe, na harmonia das cores, nos enfeites da cozinha, nas louças personalizadas, na guirlanda da porta, nas luzes, enfim, em poucos dias, cada pedacinho da minha casa lembrará o Natal.

natal

Mas o Natal para mim é muito mais e tem um significado pra lá de especial. Na noite do dia 24 de dezembro, tradicionalmente, recebo a família para um jantar na minha casa. Sem dúvida é o principal encontro do ano, quando conseguimos reunir quase todos. É impressionante como a família cresce. E não estou falando apenas da chegada de novos membros, como os sobrinhos que nasceram recentemente ou os que estão por vir. Estou falando também da namorada do cunhado, da tia da cunhada, do amigo do irmão, etc. Sempre recebemos esses agregados de braços abertos e o Natal fica mais alegre a cada ano.

É claro que vamos trocar presentes, comer peru, arroz à grega e salpicão. Mas o Natal é infinitamente maior. Um momento de reflexão, de perdão e de muito amor. E para mim, especialmente, significa a união da família. De uma família que possui diferenças e semelhanças, como todas as outras. Gosto da palavra havaiana Ohana, que significa família, e gosto mais ainda da definição de família para os havaianos, que consideram que uma família é formada por todas as pessoas cuja relação é baseada no afeto e no convívio, independentemente dos laços de sangue.

Feliz Natal!
Aline Cambuy

5
nov

Nos tempos da inflação

2015-781537170-20150109163902201rts.jpg_20150109Fazia tempo que a gente não tinha inflação. Convivo com um monte de gente que não faz a menor ideia do que era fazer supermercado na época em que os preços chegavam a aumentar enquanto você dava as costas para a prateleira. Era um tal de receber o salário, duas vezes por mês porque a defasagem a cada quinze dias destroçava com o valor do dito cujo, e sair correndo fazer uma compra gigantesca. Dois, três carrinhos cheios. Fila espetacular. Estoque de leite condensado, produto de limpeza, qualquer não perecível que aparecesse pela frente.

Lembro que, no final da década de 80, quando voltava de um intercâmbio de seis meses nos Estados Unidos, recebi da aeromoça um jornal brasileiro. Tinha um encarte da Americanas. Passei um tempão fazendo a conversão da moeda nacional da época e tentando decifrar se o que estava anunciado era barato ou caro. Não consegui descobrir.

Também não acho bacana ir ao supermercado hoje, fazer uma compra grande e ouvir da mulher do caixa que fazia tempo que ela não via um carrinho tão cheio. Mas minha memória só me faz pensar que tudo vai dar certo.

Beijos,

Karin Villatore