Arquivo mensais:novembro 2013

25
nov

Cometa gafes

vergonha

As pessoas vivem cometendo gafes. Isso é comum, afinal, nenhum de nós é perfeito. “Mas que clichê mais batido, Gustavo!” Desculpe, mas os clichês só são clichês porque são extremamente repetidos e, se são tantas vezes repetidos, é porque são importantes de alguma forma.

De fato, se você viveu pelo menos 10 anos, com certeza já cometeu alguma gafe. Criança comete muitas. Minha amiga de infância Gabi, certo dia estava no elevador com a mãe, e uma mulher com o cabelo todo armado entrou. Os olhos da Gabi se levantaram lentamente para o topete da senhora. A menina olhou fixamente e perguntou, com a maior inocência:

– Moça, você é uma bruxa?

A mãe, Simone, não sabia onde enfiar a cara.

– Gabrielaaa! Ai, moça, desculpa.

– “Magina”! Criança, sei como é.

Uma vez, esperando meu pai me pegar na escola, parou um carro igualzinho o dele. Já com o celular na mão e sem olhar pra frente, fui andando, abri a porta do carro e entrei. Quando olhei para o lado, tinha uma mulher olhando para mim com uma cara de: “Quem é você?” Foi constrangedor. Eu parecia um pimentão! Ela riu e eu saí do carro pedindo desculpa.

A verdade é que ninguém gosta de cometer uma gafe, mas eu consigo enxergar o lado bom delas. Se você, caro leitor, pensar bem, as histórias mais engraçadas que a gente tem pra contar são gafes que cometemos. Quem nunca se divertiu numa roda de amigos, um contando para o outro as próprias gafes ou as de outros?  Quantas histórias hilárias já ouvimos? Estas coisas têm que acontecer para deixar a vida mais gostosa. São aqueles momentos que, às vezes, você acaba lembrando e rindo sozinho, feito louco. Na hora em que aconteceu foi super embaraçoso, mas, depois passa e fica cômico. Faz parte.

Não me arrependo de nenhuma gafe que cometi porque, de vez em quando, são com essas lembranças que eu me pego sorrindo. Então, para finalizar, sem clichês, eu lhe dou um conselho de amigo: cometa gafes.

20
nov

Antônimos perfeitos

girassolDias desses estava pensando nas músicas que falam sobre os contrários. Busquei no Google e vi que uma moça do Rio fez até um artigo acadêmico sobre o assunto. Fato que me fez lembrar de uma entrevista do Chico Buarque, em que ele disse que descobria, por meio de estudos acadêmicos, significados nas letras das canções dele que nem ele mesmo sabia que existiam. Só o Chico mesmo!

E por falar no meu ídolo, a primeira música em que pensei eu confesso que sempre achei que era do Chico. Mas eis que a moça do Rio usou Catavento e Girassol no artigo acadêmico e me corrigiu: é do Guinga & Blanc.

Entre tantos outros trechos geniais, gosto demais destes:

Você só pensa no espaço, eu exigi duração

Quando eu respeito os sinais, vejo você de patins, vindo na contramão

Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho

Eu sinto muita saudade, você é contemporânea

A segunda em que pensei foi O quereres, do Caetano Veloso. E, pimba, o artigo da moça do Rio também fala desta. Já começa, logo de sola, assim:

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão

Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não

Daí tem outra bem legal, da Alanis Morissette, chamada Hand in My Pocket. Diz coisas do tipo “Estou triste, mas estou rindo; estou aqui, mas já fui”.

E, assim como o contrário, existe o encontro perfeito, como o da Diariamente, que ficou conhecida na voz da Marisa Monte. Começa assim:

Para calar a boca: rícino
Para lavar a roupa: omo
Para viagem longa: jato

Menos conhecida, mas na mesma onda, tem a música Que Nem a Gente, do Celso Viáfora. Diz, entre outras:

Elegante não é, necessariamente,
Tudo competente
Artista não é tudo comunista
Maconheiro e indecente
Todo mundo é meio assim que nem a gente:
Tudo igual, mas muito diferente

E você, lembra-se de alguma?
Beijos,

Karin Villatore

14
nov

Ainda há esperança

Após quase seis anos do escândalo do mensalão, parece que finalmente existe luz no fim do túnel. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de começar a executar as penas dos réus que não entraram nos chamados embargos infringentes, demonstrou que nem tudo terminou em pizza. Pelo menos, essa é a percepção geral da nação sobre as coisas que acontecem em Brasília. O Tribunal decidiu que 11 dos 25 réus, em breve, receberão os mandados de prisão. E assim esperamos que aconteça.

Mas, dificilmente a expedição das ordens deve acontecer hoje, antes do feriado. Então, os condenados vão poder aproveitar o final de semana de sol em todo o país, que vai dar praia, como diriam os cariocas. Como um dos condenados que desde ontem aproveitava a folga prolongada na Bahia, tamanha era a certeza de que no feriado o banho de sol ainda seria à beira mar.

Infelizmente, nem tudo são flores, algumas figurinhas carimbadas do processo vão cumprir a pena em regime semiaberto e outros ao receberam pena alternativa. Sem mencionar os nove condenados que conseguiram a artimanha de entrar com recurso – o tal do embargo infringente –, que dá o direito a um novo julgamento. Enquanto isso, nós ficamos aqui, assistindo nos bastidores o desfecho de um processo que há muito tempo já deveria ter sido resolvido, mas que por “forças ocultas” ainda caminha em passos de formiga e sem vontade.

Luanda Fernandes

11
nov

Mercado de luxo cresce no mundo, mas ONU não tem dinheiro para comida de refugiados

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Criança no campo de refugiados de Dadaab, foto de 2011

Uma notícia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA), do último dia de outubro, me deixou aturdida. Ou bolada, como eu diria por aqui. Os órgãos da ONU anunciaram que iam reduzir em 20%, em novembro e dezembro – por falta de dinheiro –, as porções de comida de mais de meio milhão de refugiados no Quênia. Com a redução, as pessoas que dependem dessas doações para sobreviver não receberão o mínimo de 2.100 calorias diárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, mas apenas 1.680.

Três coisas me deixaram super bolada:

  1. A notícia em si;
  2. A falta de repercussão que ela teve – desde quando o fato de a ONU não ter dinheiro para mandar comida suficiente para seus atendidos deixou de ser interessante?
  3. As receitas do mercado de luxo, no mundo, irão crescer até 50% mais rápido que o PIB global até 2015, de acordo com a expert no assunto, a consultoria Bain and Company.

A comparação é óbvia.

Não há problema algum em quem ganhou dinheiro honestamente gastá-lo com o que quer, dentro da legalidade, seja ou não artigo de luxo. Dependendo de quanto dinheiro se tem, comprar, por exemplo, uma bolsa por R$30 mil ou R$1 mil é luxo, R$500,00 é luxo, R$100,00 é luxo. Mas vejo um enorme problema quando a comida é artigo de luxo e quando se comemora a expansão do mercado de luxo no mundo sem se lamentar a redução da comida dos refugiados no Quênia. Quando eu tinha 13 anos, já dizia em casa: nosso problema não é falta de dinheiro, é que quando se desperdiça de um lado, falta de outro.

O diretor do PMA para o Quênia, Ronal Sibanda, explicou em comunicado que fizeram o que podiam para evitar a medida de redução, que, espera-se, seja temporária, e foi tomada para que as reservas durem até o final do ano. Os campos de refugiados afetados serão os de Dadaab (perto da fronteira com a Somália) e Kakuma, situado na confluência das fronteiras do Quênia com a Etiópia, Sudão do Sul e Uganda.

O apelo aos doadores continua e o PMA precisa de pelo menos US$ 10 milhões para distribuir mais de 10 mil toneladas de comida. Os EUA darão US$ 20 milhões, que devem estar disponíveis no começo de março de 2014, por isso, o alerta pela falta de fundos para operar em janeiro e fevereiro.

Letícia Ferreira

4
nov

Quanto tempo o tempo tem?

relogio Você já teve a sensação de que o tempo anda passando mais rápido do que antes? Já usou aquela frase “parece que foi ontem”? Pois é, acredito que todos que tenham mais de 20 anos já tiveram essa sensação pelo menos uma vez na vida.

Existem algumas hipóteses que explicam o porquê de sentirmos isso. Segundo Zygmunt Bauman, estamos em um estágio “líquido” da modernidade, ou seja, nada é estável, tudo está sempre em constante mudança, nada é feito pra durar, nada é “sólido”. As modas, tendências, aparelhos e até os nossos relacionamentos estão se tornando cada vez mais descartáveis, e as pessoas trocam, substituem as coisas num processo muito mais acelerado.

A quantidade de informação que recebemos todos os dias e as tecnologias que nos mantêm conectados acabam influenciando nossa percepção de tempo. Quando menos se espera, o dia já acabou. Houve uma mudança no ritmo biológico natural.

Por outro lado, existem situações em que temos a impressão que o tempo não passa, como quando estamos assistindo a uma aula chata ou quando esperamos alguém chegar, ou na fila do banco, na espera do hospital etc. O tempo está ligado às nossas ações, o que fazemos, a forma como nos ocupamos. Para uma pessoa que mora em São Paulo, a percepção do tempo é a de que ele está mais acelerado, diferentemente de uma pessoa que mora em um sítio isolado no interior. Para esta, o tempo passa mais lentamente.

O tempo é um elemento fascinante de estudar e sobre o qual se pensar porque é uma das poucas coisas sobre as quais o ser humano não tem controle. Não podemos voltar no tempo ou avançar nele, assim como também não podemos pará-lo, ao menos por enquanto. Não existe passado, existem memórias, fotografias, vídeos de momentos anteriores. Podemos revê-los, mas nunca revivê-los. Temos que nos conformar que o tempo simplesmente é.

Gustavo Scaldaferri